Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/09/2017 | 05/05/2017 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
California Filmes | |||
Duração do filme | |||
120 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Oren Moverman. Com: Steve Coogan, Laura Linney, Richard Gere, Rebecca Hall, Charlie Plummer, Seamus Davey-Fitzpatrick, Miles J. Harvey, Joel Bissonnette, Laura Hajek, Adepero Oduye e Chloë Sevigny.
O Jantar é uma experiência curiosa: seus personagens são tão desagradáveis e o incidente em torno do qual a obra gira é tão repugnante que, aos poucos, a projeção começa a beirar o intolerável por mais que, em um nível racional, possamos apreciar a eficiência técnica da narrativa.
Estruturado a partir do jantar-título, o roteiro escrito pelo diretor Oren Moverman com base no livro de Herman Koch segue dois casais que se encontram para discutir uma questão familiar: Paul (Coogan) é um ex-professor de História (por que “ex” é algo que descobriremos ao longo da trama) casado com Claire (Linney), sobrevivente de um câncer de pulmão e que atua como suporte fundamental para manter o marido são, enquanto Stan (Gere), irmão de Paul, é um congressista que disputa a eleição para governador, sendo casado com Kate (Hall). Reunidos em um desses restaurantes caríssimos que há muito deixaram de separar o sofisticado do ridículo, os quatro tentam conversar sobre um ato horroroso cometido por seus filhos, sendo constantemente interrompidos pela assessora de Stan e pelas explosões de Paul.
Um dos elementos mais curiosos de O Jantar, aliás, é a maneira como estabelece Paul como protagonista e narrador, levando-nos a ver tudo a partir de seu ponto de vista particular – algo que apenas aos poucos perceberemos estar moldando (de forma talvez injusta) nossa percepção. Ressentido com o que julga ser uma tendência do irmão de “roubar” todos aqueles que poderiam amá-lo, Paul é um homem cuja instabilidade emocional deve-se a um distúrbio psíquico, mas também à sua sensibilidade diante dos horrores do mundo – em particular, as guerras.
Steve Coogan, por sinal, mais uma vez comprova seu talento como ator dramático ao conferir diversas camadas ao sujeito, levando-nos a simpatizar com seus pontos de vista e a rir de suas piadas (mesmo as mais cruéis) e, consequentemente, nos mantém ao seu lado mesmo quando suas recriminações começam a soar excessivas. Já Laura Linney converte Claire em um centro de serenidade em um lar obviamente em processo de desintegração, deixando claro seu amor pelo marido, sua paciência diante de seus humores e, aos poucos, a extensão assustadora de sua dedicação ao filho. Enquanto isso, Richard Gere vai na direção oposta do arco vivido por Coogan, inicialmente vivendo Stan como um político superficial, populista e autocentrado, permitindo pouco a pouco que vejamos também seu lado mais sensível e idealista, ao passo que Rebecca Hall, como sua esposa, faz o possível com a menos complexa figura da narrativa, já que Kate entra e sai do filme repleta de ressentimentos. (Há também uma participação de Chloë Sevigny, mas trata-se quase de uma ponta.)
O problema é que à medida que o longa e o jantar avançam, os ânimos se acirram e todos começam a mostrar alguns de seus piores lados – e quanto mais sabemos sobre seus passados e sobre o ato de seus filhos, menos queremos permanecer ao lado daquelas pessoas. O resultado é um desconforto cada vez maior e que jamais parece se resolver, já que o desfecho propositalmente anticlimático é mais insatisfatório e menos ambíguo do que o diretor claramente intencionava produzir.
De todo modo, O Jantar é uma boa vitrine para os talentos de seus atores e demonstra ao menos compreender que discussões em família nunca são apenas sobre o tema presente, mas também sobre toda a história dos envolvidos.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Berlim 2017.
10 de Fevereiro de 2017
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