Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 27/01/2015 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
100 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Jakrawal Nilthamrong. Com: Ongart Cheamcharoenpornkul, Drunphob Suriyawong, Chalee Choueyai e Suveeraya Thongmee.
Partindo de uma lembrança dolorosa do cineasta tailandês Jakrawal Nilthamrong – a morte de seus pais em um terrível acidente de carro -, Ponto de Fuga dá início à projeção com fotos chocantes do desastre antes de finalmente saltar para o ficcional (ou semi?) ao acompanhar a reconstituição de um assassinato em uma floresta. Depois de alguns minutos, porém, somos apresentados a outros personagens cujas relações com o que víramos antes não ficam imediatamente claras, incluindo o dono de uma fábrica e um jovem que conhece uma prostituta mais velha.
Adotando um ritmo contemplativo, estudado, que em vários momentos quase ultrapassa o limite da autoindulgência (lembrando a obra do conterrâneo – e que considero cada vez mais insuportável – Apichatpong Weerasethakul), Nilthamrog evita a armadilha ao sempre manter o foco não exatamente nas ideias que quer discutir, mas nas sensações que busca despertar. Neste aspecto, Ponto de Fuga é uma experiência admirável, mergulhando o espectador numa narrativa que cria uma atmosfera onírica (por vezes lynchiana) e que frequentemente assume a característica de angustiante pesadelo.
Recheado de planos que permanecem com o espectador por muito depois do fim da projeção, o filme emprega os lentos travellings como gramática básica, apresentando a mise-en-scène de forma emblemática e inspirando o público a investigar não só sua plástica, mas seus significados – planos como aquele que traz um criminoso (com o rosto oculto por um capacete) “violentando” um imenso urso de pelúcia ou aquele que enfoca uma idosa diante da mata (e o design de som aqui se mostra fundamental ao ressaltar o terror subjacente às imagens).
Já em outros instantes, o diretor cria intromissões surpreendentes e bem-humoradas como, por exemplo, ao adotar uma montagem que subitamente atira na tela, sem qualquer aviso, um vídeo cafona de casamento/karaokê que, fedendo aos anos 80, invade a narrativa principal quando as letras da música passam a cobrir a ação. Já mais tarde, Nilthamrog sugere a chave de seu filme em um plano memorável no qual sua câmera percorre o ambiente enquanto um monge narra o sonho de natureza sexual que teve há algumas noites – algo que combina com a própria circularidade da narrativa, que se revela de forma trágica em dois momentos ao sugerir a identidade da menina desaparecida no início da projeção e ao retornar ao acidente que marcou a vida do realizador.
Contendo, ainda, um plano-sequência fabuloso que, depois de seguir um personagem por alguns minutos, subitamente passa a flutuar sobre o terreno acidentado que este percorre, Ponto de Fuga é o tipo de filme que ilustra muito bem a capacidade que o Cinema tem de levar o espectador a experimentar sentimentos mesmo que não esteja obrigatoriamente consciente da lógica interna da “trama” que está acompanhando.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura da Mostra INDIE 2015.
05 de Setembro de 2015