Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 02/10/2014 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
80 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Jaan Toomik. Com: Hendrik Toompere Jr., Maria Avdjushko, Elaan, Sergei Furmanjuk, Galina Grossmann, Aivo Halanurm, Jaanika Juhanson.
Durante a Mostra INDIE 2015, comentei como o tailandês Ponto de Fuga levava o espectador a experimentar sentimentos diversos mesmo sem ter consciência completa da “lógica” da trama que lhe era apresentada. Pois sensação parecida – embora menos eficiente – despertava também outro filme que vi naquele mesmo dia, Paisagem com Várias Luas, dirigido pelo estoniano Jaan Toomik. Aqui, a sugestão de perda da razão é o mote principal da narrativa, que acompanha um homem cujo casamento em decadência dispara um mergulho na insanidade envolvendo lembranças e conversas imaginárias com ex-parceiras e situações surreais.
Assim, buscar uma lógica linear no longa de Toomik seria não só infrutífero como indício de não ter compreendido sua proposta. Por outro lado, justamente por saltar de uma “alucinação” a outra sem qualquer estrutura aparente, o filme pode representar uma experiência frustrante, mesmo que provoque reações divertidas justamente por sua abordagem hermética (e a sequência que encerra a projeção e envolve indivíduos com gigantescas cabeças de animais em um trem é um desfecho perfeito para a obra).
O mais interessante em Paisagem com Várias Luas, porém, é a forma franca com que lida não só com o egocentrismo de seu protagonista, mas também com seu machismo. Nas fantasias de Juhan (Toompere Jr), as mulheres de sua vida – presente e passada – parecem atravessar suas existências em função do sujeito: o que importa é como ele se sente, o que ele pensa, o que ele faz. Em contrapartida, ele dedica sua atenção a uma ou outra de acordo com as próprias conveniências (e repetidas vezes responde a ligações com um “Não tenho tempo para você agora”), num egoísmo que é ilustrado também em suas interações com o filho pequeno.
Sempre vestindo a mesma roupa, que busca projetar uma aura de homem confiante e bem-sucedido, mas consegue apenas expor sua natureza narcisística e imutável, Juhan chega a urinar nos cantos de um aposento para marcar o território em volta de uma de suas companheiras, também imaginando o atual namorado de uma ex como um sujeito que é rapidamente ofuscado por seu próprio “charme”.
Rico em seu design de produção, que cria ambientes com cores opressivas que ajudam a conceber a natureza inquietante das fantasias do protagonista, o filme também é enriquecido pela maneira como sugere o rompimento da fronteira entre realidade e ilusão – como na cena que traz o sujeito conversando com uma ex enquanto tomam vinho em uma mesa de restaurante que, logo descobrimos, encontra-se no meio de uma pista de atletismo na qual seu filho pratica saltos (o que deixa claro, de maneira elegante e inteligente, a atividade que Juhan desempenhava quando mergulhou em suas fantasias).
Ainda assim, por mais interessante que seja como um exercício de linguagem, o longa é limitado pela personalidade repugnante de seu personagem principal, o que é uma pena.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura da Mostra INDIE 2015.
05 de Setembro de 2015