Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
19/04/2018 | 15/03/2018 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Diamond Films | |||
Duração do filme | |||
107 minuto(s) |
Dirigido por José Padilha. Roteirio de Gregory Burke. Com: Daniel Brühl, Rosamund Pike, Eddie Marsan, Nonso Anozie, Omar Berdouni, Lior Ashkenazi, Ben Schnetzer, Denis Ménochet, Angel Bonanni.
Em junho de 1976, dois alemães ligados às células revolucionárias do país sequestraram um avião de passageiros francês (incluindo 83 passageiros israelenses) com a ajuda de dois integrantes da Frente Popular pela Libertação da Palestina, desviando-o para a Uganda (então liderada pelo insano Idi Amin) e exigindo a libertação de mais de 50 prisioneiros palestinos que Israel mantinha encarcerados. Pressionado pela política de não-negociação adotada previamente, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin tentou encontrar uma solução diplomática para a situação enquanto seu ministro da defesa, Shimon Peres, insistia numa operação militar para resgatar os reféns. Dramático por natureza, este incidente já foi levado aos cinemas em três ocasiões, ganhando agora uma quarta versão comandada por José Padilha – e possivelmente a melhor (não vi a de 1976, dirigida por Menahem Golan, mas... bom, como se trata de Golan, eu apostaria mais na de Padilha).
Escrito por Gregory Burke, o longa abre com um breve texto estabelecendo como os palestinos se identificavam como “guerreiros da liberdade” enquanto os israelenses os chamavam de “terroristas” – e a pergunta que imediatamente surge é: como o filme irá enxergá-los? A resposta: de forma surpreendentemente multifacetada. Ao nos apresentar a um dos guerrilheiros palestinos, por exemplo, 7 Dias em Entebbe evita o estereótipo do muçulmano que invoca Alá raivosamente e emprega constantemente palavras como “infiéis”, fugindo também da figura antissemita, optando por retratar Jaber (Berdouni) como um homem cuja família (pais, esposa e filhos) foram massacrados pelo exército israelense, radicalizando-se mais pelo luto do que pela fé – o que não o impede de manifestar respeito pelos judeus por também saberem como é perder tudo (“Mas agora eles estão fazendo conosco o que os nazistas fizeram com eles”, ele completa).
O esforço do filme para não pesar a mão para um dos lados é refletido no ótimo elenco – e só por escalar Daniel Brühl como um dos sequestradores alemães já se torna difícil não ter simpatia pelo personagem (a ótima Rosamund Pike interpreta sua parceira, encarnando-a com um pouco mais de ferocidade, mas não menos complexidade – e a cena na qual usa um telefone público é notável). Do mesmo modo, ao dedicar várias cenas ao soldado israelense vivido por Ben Schnetzer, o roteiro busca reequilibrar a narrativa, sendo particularmente reveladora a decisão de usar o rapaz como centro destas sequências em vez do líder de seu grupo (Angel Bonanni), que seria a escolha natural, mas, por se chamar Yonatan Netanyahu, poderia alterar a escala para um lado ou outro dependendo de como o espectador se sente em relação ao seu irmão (sim, Benjamin).
Além disso, ao tratar todos como vítimas, de uma forma ou de outra, de uma guerra levada adiante por líderes intransigentes em nome de interesses políticos, 7 Dias em Entebbe aponta o dedo na direção dos poderosos, o que é sempre uma postura mais corajosa e admirável. Ainda assim, é preciso observar como Rabin é interpretado por Lior Ashkenazi como um homem sensato e que não gosta de considerar a ação militar como primeira opção – e mesmo Shimon Peres, com o qual Eddie Marsan rouba todas as cenas em que aparece, ganha contornos um pouco mais suaves à medida que a trama avança. Já Idi Amin (Anozie) é basicamente uma versão insana, mas um pouco menos sombria (ou complexa) daquele que rendeu o Oscar a Forest Whitaker.
Excepcionalmente montado por Daniel Rezende, que salta entre as várias linhas narrativas de modo fluido e dinâmico, fazendo um trabalho especialmente brilhante no clímax, quando gera tensão ao criar várias transições elegantes que tornam tudo mais ágil (como o corte da porta de um avião para a cortina de um teatro enquanto ambas são abertas). Dito isso, esta tensão atinge seu máximo durante a preparação para Operação Thunderbolt, não durante sua execução, o que resulta em um anticlímax que, infelizmente, prejudica a obra justamente quando esta deveria se encerrar de maneira marcante. (E é especialmente decepcionante ver como o filme passa casualmente pelo desfecho de vários personagens aos quais havíamos nos apegado.)
Eficiente como thriller político e de ação, 7 Dias em Entebbe consegue uma proeza que deve ser reconhecida: explora a dramaticidade de um evento trágico sem jamais desrespeitar quaisquer dos envolvidos.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Berlim 2018.
20 de Fevereiro de 2018
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