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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/12/2012 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Direção

Brian Knappenberger

Roteiro

Brian Knappenberger

Produção

Brian Knappenberger

Fotografia

Dan Krauss

Música

John Dragonetti

Montagem

Andy Robertson

We Are Legion: The Story of the Hacktivists
We Are Legion: The Story of the Hacktivists

Dirigido por Brian Knappenberger.

Quando a maioria das pessoas ouve a palavra “hacker”, a primeira ideia que vem à mente é a de uma força destrutiva, de criminosos extremamente versados em complexos códigos de programação que, com suas máquinas avançadíssimas e conhecimentos de criptografia, são capazes de invadir qualquer computador de qualquer empresa, roubando desde senhas de sites de relacionamento a milhões e milhões de dólares. A realidade, porém, não é tão simples: não só a atividade dos hackers pode desempenhar um papel importante em causas nobres como boa parte dos indivíduos que se envolvem em ataques do tipo se resume a leigos em informática que, usando programas ou instruções de fácil entendimento, colaboram em ações importantes na Internet.

Um dos grupos mais conhecidos do cyberativismo, o “Anonymous” tornou-se famoso, nos últimos anos, por comandar ataques célebres a instituições como Visa, Mastercard, Amazon, PayPal e a Igreja da Cientologia – sempre em defesa de indivíduos ou causas que certamente despertariam a simpatia de muita gente. Assim, ao longo dos 93 minutos deste documentário, o diretor Brian Knappenberger relembra a história desta estranha coletividade, entrevistando vários de seus membros iniciais e mais importantes.

Originado no fórum “b” do infame site 4Chan, o “Anonymous”, em sua raiz, pouco mais era do que um grupo dedicado a publicar imagens ofensivas e a criar (ou popularizar) memes como os LoLCatz, “All your base are belong to us” e o RickRolling e a divulgar virais como “Chocolate Rain” (e sugiro uma consulta ao Google, caso não saiba do que estou falando – mas prepare-se para perder horas e horas logo em seguida). Empregando tempo e energia também na trollagem (algo que particularmente abomino, especialmente em suas manifestações mais extremas), o Anonymous finalmente pareceu ter encontrado seu caminho quando um de seus membros passou a ser atacado por um podcaster neo-nazista, o que unificou uma comunidade anárquica por natureza em torno de um objetivo comum: atormentar o sujeito. (E como um dos entrevistados revela, o fato de ele ser um supremacista branco foi mera coincidência; o fator chave da equação residia na proximidade da vítima com o 4Chan.)

A partir daí, o grupo passou a se envolver em causas cada vez mais ambiciosas, vindo a atacar a Igreja da Cientologia (quando, então, saiu da Internet e alcançou as ruas, encabeçando manifestações em todo o mundo) e a atuar de forma decisiva durante a Primavera Árabe, quando ajudou até mesmo os ativistas egípcios a recuperarem acesso à web quando o governo a derrubou em todo o país. Porém, foi mesmo com a decisão de apoiar o WikiLeaks que o Anonymous alcançou seu auge, derrubando os sites do PayPal, VISA e Mastercard depois que estas empresas decidiram interromper a utilização de seus serviços para doações feitas à organização de Julian Assange.

Bastante didático ao explicar as diversas estratégias de atuação dos hacktivistas, que vão desde a invasão de computadores particulares e sites institucionais até o famigerado DDoS (basicamente, um piquete virtual que impede acesso aos alvos através do envio de milhares de pacotes de requisição simultâneos), Somos uma Multidão claramente enxerga o Anonymous de maneira bastante positiva, o que não impede o filme de apontar que, por ser uma coletividade e não ter líderes, muitos integrantes do grupo desenvolvem atividades paralelas que assumem uma natureza que beira o repulsivo – como quando hackearam sites sobre epilepsia, instalando imagens que pulsavam com o objetivo de provocar convulsões no público-alvo destas páginas.

Por outro lado, não há como negar que boa parte dos alvos do Anonymous acabam se revelando merecedores dos ataques – e é impossível não rir quando um “expert em segurança” anuncia publicamente ter infiltrado o grupo, revelando os nomes de vários de seus integrantes, apenas para ter sua vida arruinada nos meses seguintes. “Ao ver um vespeiro à sua frente, ele teve a brilhante ideia de enfiar seu pênis naquilo”, explica o comediante Stephen Colbert, num trecho de seu Colbert Report incluído no longa.

Encerrando a narrativa com breves discussões sobre a dissidência LulzSec (voltada basicamente à trollagem) e à traição cometida por um dos mais respeitados membros do Anonymous, o hacker Sabu, Somos uma Multidão é convincente ao estabelecer que, longe de representar uma cultura de submundo repreensiva e irresponsável, o hacktivismo pode perfeitamente se estabelecer como uma força democrática, construtiva e que traz de volta às mãos do cidadão comum armas que podem torná-lo uma ameaça real para os poderosos tão acostumados a ignorar aqueles que deveriam representar. 

12 de Outubro de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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