Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/11/2013 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Europa Filmes e Mares Filmes | |||
Duração do filme | |||
95 minuto(s) |
Dirigido por François Ozon. Com: Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot, Johan Leysen, Fantin Ravat, Lucas Prisor, Charlotte Rampling.
Isabelle é uma bela jovem de 17 anos de idade que, em suas férias de verão, decide perder a virgindade ao sair com um turista alemão – uma decisão que compartilha de forma objetiva com o irmão mais jovem, Victor. Iniciada no sexo, porém, a garota toma uma atitude curiosa: de volta a Paris, ele se oferece como prostituta na Internet, passando a atender vários clientes sem que sua família desconfie de suas atividades e tornando-se companheira de cama frequente de um gentil senhor de idade.
Escrito e dirigido por François Ozon, cineasta tão (ou mais) obcecado com o universo feminino quanto o espanhol Pedro Almodóvar (embora com um estilo alguns degraus mais discreto), Jovem & Bela é um belo estudo de personagem ancorado por uma performance central sólida da novata Marine Vacht, que aqui assume seu primeiro papel como protagonista. Responsável por compor uma figura que tem a obrigação de ser simultaneamente capaz de despertar nosso interesse e de se manter inescrutável, Vacht investe numa abordagem inteligente ao transformar Isabelle em uma moça que parece – assim como o espectador – estar sempre curiosa a respeito das próprias reações, como se estudasse a si mesma a fim de descobrir o que a move ou interessa.
Direcionando o público a esta leitura também através do simbolismo de trazer a protagonista observando a si mesma enquanto perde a virgindade, como se fizesse questão de se afastar emocionalmente para analisar o que está ocorrendo, Ozon deixa claro que a motivação por trás das decisões de Isabelle não passa por dinheiro ou mesmo por um interesse excessivo por sexo – e, assim, a grande pergunta que move Jovem & Bela gira em torno deste mistério. Há, claro, alguns indícios de que a personagem sente algum tipo de prazer apenas em função da transgressão mesmo antes de sua primeira transa, quando, mesmo ficando óbvio que sua mãe permitiria um encontro com o alemão, Isabelle prefere mentir para a família, fingindo ir dormir apenas para escapar pela janela. Da mesma maneira, em vários momentos percebemos uma crueldade subjacente aos seus atos, como se estudasse formas sutis de julgar e condenar a mãe, testando também os limites daquela relação enquanto, por outro lado, faz questão de se manter cúmplice do irmão.
O mais curioso, no entanto, é avaliar como as atividades de Isabelle são eventualmente recebidas por quem a conhece – e é sintomático que sua mãe parta imediatamente para um julgamento moral acerca da prostituição da filha em vez de um psicológico. Neste sentido, tanto a protagonista quanto o próprio filme parecem interessados em estudar a percepção da sociedade – especialmente da classe média – em relação ao sexo e à exploração da sexualidade feminina.
Não que Isabelle esteja se entregando a uma pesquisa antropológica, já que é obviamente uma garota imatura e, sim, problemática ao não saber lidar com suas questões internas. Além disso, a rica composição de Marine Vacht sugere um prazer revelador no poder que a moça descobre ser capaz de exercer sobre os homens. Ainda assim, o que parece realmente perturbá-la é sua aparente incapacidade de sentir o que quer que seja por seus parceiros – e ao longo de toda a projeção, ela só se emociona claramente ao relembrar determinada passagem durante uma sessão de terapia, embora logo processe a própria reação e pareça se esforçar para um rápido retorno à postura fria que mantém habitualmente.
Ao final, podemos até mesmo não compreender exatamente o que motiva Isabelle – e duvido que ela mesma saiba -, mas ao menos entendemos que esta busca revela, ao seu próprio modo, tudo o que precisamos saber sobre esta fascinante personagem.
Texto publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2013.
03 de Outubro de 2013