Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
29/03/2013 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Paris Filmes | |||
Duração do filme | |||
91 minuto(s) |
Dirigido por Armando Bo. Com: John McInerny, Griselda Siciliani, Margarita Lopez.
Carlos Gutiérrez (McInerny) é um homem de meia-idade acima do peso, divorciado, que trabalha como operário em uma linha de produção e pouco vê a filha pré-adolescente. Um fracassado, em outras palavras. Ou não, já que durante a noite ele tem a oportunidade de fazer aquilo que realmente gosta: vestir figurinos clássicos que o transformam em Elvis Presley e se apresentar como cover do rei em festas por toda Buenos Aires. Aliás, para Gutiérrez isto é menos um hobby e mais seu propósito na vida, já que ser Elvis é algo que o define, chegando ao ponto de, para receber um pagamento, explicar que seu nome “figura como Carlos Gutiérrez” na lista, como se este fosse seu pseudônimo de fato.
Uma das várias virtudes do belo roteiro escrito pelo diretor Armando Bo ao lado de Nicolás Giacobone, vale apontar, é a maneira com que permite que percebamos gradualmente a dimensão da obsessão do protagonista através de pequenos indícios: o nome de sua filha (Lisa) e sua insistência em tratar a esposa como “Priscila” – e torna-se fácil deduzir até mesmo as razões que a levaram a se divorciar, já que, ainda exibindo os cabelos ruivos da esposa de Presley e uma tatuagem que traz a frase “Love me Tender” no braço (algo que ela tenta ocultar ao usar roupas com mangas longas), Alejandra claramente se apaixonou pelo talento de Carlos na juventude, encantando-se por ele até perceber que o talento havia se transformado em algo patológico.
E se uso a palavra “talento” é com justificativa de sobra, pois o sujeito é realmente um cantor talentoso que evoca com eficiência o timbre e voz do ídolo – e eu não ficaria espantado caso descobrisse que o ator estreante John McInerny realmente ganha a vida como cover de Elvis. Porém, se este era seu ganha-pão anteriormente, ele agora pode tranquilamente investir numa carreira no Cinema, já que, além dos aspectos musicais, McInerny confere imenso peso dramático a Carlos, evocando todas as suas dúvidas, suas angústias e seus sonhos de grandeza.
Divertido ao explorar a insanidade relativa de seu herói, O Último Elvis provoca risos também ao retratar o universo particular dos sósias/covers argentinos, trazendo figurantes que remetem a John Lennon e Barbra Streisand (uma travesti, claro) enquanto se encarrega de ressaltar a diferença de Carlos com relação aos colegas, já que, ao contrário destes, ele realmente considera o que faz como uma espécie de “dom divino”, já que “Deus lhe deu a voz de Elvis Presley”.
O que nos traz ao ato final do longa e no qual o diretor Armando Bo altera completamente a dinâmica e a lógica da narrativa ao acompanhar o protagonista em sua viagem a Memphis e a Graceland, levando a um desfecho que, corajoso, apresenta-se também inquestionável em sua lógica.
Num mundo ideal, John McInerny ganharia alguns prêmios importantes por seu desempenho nesta obra engraçada e surpreendentemente tocante.
10 de Outubro de 2012
Crítica originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2012.