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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
28/02/2014 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Paris Filmes

Sem Escalas
Non-Stop

Dirigido por Jaume Collet-Serra. Com: Liam Neeson, Julianne Moore, Scoot McNairy, Michelle Dockery, Corey Stoll, Lupita Nyong’o, Nate Parker, Omar Metwally, Jason Butler Harner e Shea Whigham.

Em teoria, o conceito de Liam Neeson como astro de ação é perfeita: trata-se de um ator fisicamente imponente, rosto expressivo e marcante, voz grave e, de quebra, talentoso. Infelizmente, ainda que tenha se viabilizado no gênero, Neeson não escolheu particularmente bem seus projetos, que surgiam cada vez piores: Esquadrão Classe A, Busca Implacável e Desconhecido tinham seus momentos, mas só. Assim, é um alívio finalmente vê-lo protagonizar um filme eficiente, mesmo que com roteiro irregular.

Escrito pelos estreantes John W. Richardson, Christopher Roach e Ryan Engle, Sem Escalas se passa basicamente todo no interior de um voo transatlântico no qual viaja o agente William Marks (Neeson), um dos inúmeros oficiais federais que embarcam anonimamente todos os anos em aviões que saem de solo americano com o objetivo de trazer maior segurança às viagens – especialmente depois dos eventos do 11 de setembro. Desta vez, porém, assim que o voo tem início, Marks recebe um SMS de um dos passageiros com a ameaça de matar uma pessoa a cada 20 minutos até que uma quantia considerável seja transferida para certa conta. A partir daí, o protagonista começa uma pequena corrida contra o cronômetro a fim de evitar uma tragédia a bordo.

Usando o velho e eficiente recurso do “prazo” para pontuar a narrativa (ver Gravidade, Duro de Matar, Matar ou Morrer e dúzias de outros filmes), Sem Escalas emprega as sucessivas contagens regressivas para manter o espectador tenso, misturando esta estrutura narrativa a outras que, em maior ou menor grau, são igualmente clássicas: a do crime-no-aposento-fechado, do homem-falsamente-acusado, do quem-é-o-assassino e por aí afora. Se somarmos a isso o elemento “herói-atormentado-por-trauma-do-passado”, temos uma colcha de retalhos costurada com clichês multicoloridos, o que não a torna menos aconchegante, já que clichês se tornam clichês por um motivo óbvio: quando bem empregados, funcionam.

Neste quesito, o filme se beneficia por contar com um ator capaz de sugerir complexidade onde há apenas estereótipo: William Marks é alcóolatra, instável e encontra-se em luto eterno, mas o rosto triste e endurecido de Liam Neeson sugere um homem cuja perda é mais do que uma ferramenta tola de roteiro, mas uma cicatriz profunda – e quando o vemos observando uma mulher que beija o marido após deixá-lo no aeroporto, sabemos exatamente que o que passa na mente do sujeito é mais do que um simples “Preciso despertar a simpatia do espectador”. Além disso, o diretor Jaume Collet-Serra consegue, através de um recurso simples, sugerir simultaneamente a experiência de Marks como agente da Lei e sua falta de foco em função do álcool ao trazer planos subjetivos nos quais percebemos como o herói observa todos à sua volta mesmo com um claro embaçamento periférico.

Empregando a limitação do ambiente de maneira eficaz para criar um clima claustrofóbico, Collet-Serra estabelece um ritmo ágil que sugere a paranoia do protagonista ao mesmo tempo em que leva o espectador a perceber a dificuldade da situação que este vive. E se a montagem de Jim May consegue disfarçar os tropeços do roteiro ao manter o público sempre tenso, eventualmente a estratégia acaba tendo que ceder à necessidade de oferecer respostas às perguntas levantadas ao longo da projeção – e é aí que Sem Escalas quase desaba, já que as motivações por trás das ações do vilão são não apenas tolas e implausíveis, mas ainda ofensivas por empregarem tragédias reais como desculpa para sequências de ação.

Por sorte, só começamos a questionar de fato a estupidez do roteiro quando estamos saindo do cinema – quando já pudemos aproveitar a lógica frágil, mas divertida do filme. Agora torço para ver Liam Neeson, com sua nova persona cinematográfica, protagonizando uma refilmagem de A Lista de Schindler. Os nazistas não vão nem perceber o que os atingiu.

28 de Fevereiro de 2014

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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