Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/07/2012 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Vitrine | |||
Duração do filme | |||
98 minuto(s) |
Dirigido por Júlia Murat. Com: Sonia Guedes, Luiz Serra, Lisa Fávero, Ricardo Merkin, Antonio dos Santos.
Rita é uma jovem fotógrafa que, certo dia, chega a um vilarejo habitado por cerca de uma dúzia de velhinhos. Hospedando-se na casa da viúva Madalena, que todos os dias acorda de madrugada para fazer o pão que será vendido aos vizinhos na mercearia do amigo Antônio, a garota se dedica à tarefa de registrar o lugarejo e seus moradores através de fotos de longa exposição que, por sua própria natureza, funcionam como uma metáfora perfeita daqueles indivíduos idosos que, como velhos fantasmas numa cidade de pedra, estão se apagando aos poucos diante de seus velhos e permanentes lares.
Com uma montagem inteligente que salienta a natureza repetitiva do cotidiano daqueles indivíduos, permitindo que o espectador imediatamente repare em qualquer modificação mínima da rotina, o longa de Júlia Murat (filha de Lúcia) explora com inteligência suas evocativas locações e os cenários, empregando a fotografia de Lucio Bonelli para criar uma atmosfera de placidez que, contraposta às sombras duras e à decisão de frequentemente trazer os personagens deslocados para o canto dos quadros, estabelece um tom simultaneamente onírico e profundamente realista – e o fabuloso elenco também contribui para este curioso naturalismo de sonhos.
Mas o mais interessante em Histórias que Só Existem Quando Lembradas (que belo título) é perceber como, mesmo co-escrito e dirigido por uma cineasta jovem, o filme oferece reflexões sensíveis sobre nossa percepção da memória e sobre a própria efemeridade da vida, que, mesmo aos 15, 50 ou 90 anos de idade, parece ter passado como um piscar de olhos. Assim, quando um personagem aponta que o fato de ter perdido uma namorada aos 18 anos tem seu lado positivo por fazê-lo se sentir com aquela idade ao se lembrar da moça, sentimos um breve arrepio de reconhecimento por sabermos como nossas memórias representam não só um coletivo de experiências, mas também de sensações que permitem, ao seu próprio modo, pequenas viagens no tempo como esta descrita por aquele homem. Da mesma maneira, a própria atividade artística/profissional de Rita (vivida pela bela e talentosa Lisa Fávero) atua como mais um símbolo da importância que conferimos ao passado, às nossas lembranças e também de como os reinterpretamos de acordo com o momento no qual nos encontramos no presente.
Com um ritmo calmo e quadros predominantemente estáticos que levam o espectador a adotar uma postura contemplativa, este trabalho de Júlia Murat é ambicioso, corajoso e aponta sua diretora como um nome a ser observado de agora em diante.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio de 2011.
13 de Outubro de 2011