Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/08/2013 | 01/01/1970 | 1 / 5 | / 5 |
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Dirigido por Justin Zackham. Com: Robert De Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon, Katherine Heigl, Topher Grace, Ben Barnes, Amanda Seyfried, Christine Ebersole, David Rasche, Patricia Rae, Ana Ayora e Robin Williams.
O Casamento do Ano não é apenas uma má comédia; é mau Cinema. Sem trazer quaisquer elementos narrativos, estilísticos ou temáticos que possam redimi-la, a produção ainda se revela preconceituosa e conservadora – e é espantoso que um filme como este tenha atraído tantos nomes de peso para seu elenco. Refilmagem de um longa francês (que não vi), este é o tipo de projeto que acredita ser capaz de arrancar o riso apenas por trazer atores de idade avançada fazendo e falando de sexo, como se sentir tesão se tornasse instantaneamente patético a partir da sexta década de vida.
Escrito e dirigido pelo inexpressivo (e que assim permanecerá) Justin Zackham, o filme conta a história de uma família que se reúne para um casamento, dando início ao que o narrador da Sessão da Tarde, destino inevitável deste troço, descreverá como “incríveis confusões”. Abrindo com uma narração em off que será eventualmente abandonada sem maiores explicações (um erro cada vez mais comum cometido por roteiristas preguiçosos), o roteiro acompanha Don (De Niro) e sua ex-esposa Ellie (Keaton), que, separados há dez anos, são obrigados a fingir que permanecem casados a fim de não chocarem a católica mãe biológica de seu filho adotivo – o que, claro, não agrada Bebe (Sarandon), atual companheira de Don. Enquanto isso, a filha mais velha do casal, Lyla (Heigl), tenta lidar com o divórcio, ao passo que seu irmão Jared (Grace), um médico virgem de 30 anos de idade, se interessa pela irmã colombiana de seu irmão adotiv...
Esqueçam. Este é um daqueles filmes que tentam fazer jus à tradição das comédias de situação, mas que não compreendem que, para isto, deveriam investir primeiro em personagens interessantes, já que, sem estes, as situações que vivem não se revelam engraçadas ou mesmo minimamente interessantes. Assim, quando já de início vemos Lyla embaraçada ao surpreender o ex-marido em um momento íntimo, o momento soa apenas artificial, indicando a falta de sutileza que marcará o restante da narrativa. De modo geral, aliás, os personagens se comportam não como seres humanos normais, mas de acordo com as necessidades cômicas imediatas da trama: em um momento, Alejandro (Barnes) se recusa a mentir para o padre Moinighan (Williams) por uma questão de princípio, embora, no instante seguinte, envolva sua família inteira em uma farsa para agradar a mãe que o deu em adoção – e o fato de reconhecer a incoerência em seu comportamento não a justifica. Aliás, por que alguém iria querer fazer qualquer esforço para agradar a tal Madonna, vivida por Patricia Rae como uma criatura arrogante, antipática e moralista?
O que nos traz, claro, à própria maneira com que O Casamento do Ano enxerga os estrangeiros: se Alejandro é admirável por ter sido absorvido pela cultura norte-americana e ido para Harvard, sua irmã colombiana imediatamente tira a roupa e salta nua em um lago diante de um grupo de homens desconhecidos – e será preciso que a personagem de Diane Keaton a ensine a se “valorizar” para que deixe de se atirar na cama de alguém (o que consegue a proeza de ser simultaneamente racista, machista e ofensivamente condescendente). Da mesma forma, a incapacidade de sua mãe de aceitar o divórcio é explicada com um simples “Ela é de outro país”. Não é à toa, portanto, que o racismo exibido pelo padre Moinighan em sua primeira cena é retratado como fonte de humor, como se as coisas pavorosas que diz fossem hilárias em vez de repreensíveis.
A escrotice moral do filme, porém, poderia até ser perdoada em parte caso funcionasse como comédia (os irmãos Farrelly costumavam se sair admiravelmente bem neste aspecto), mas nada em O Casamento do Ano funciona: as situações cômicas são óbvias e clichês, desde um personagem que cai na piscina até outro que despenca num lago (não basta ser previsível uma vez; é preciso repetir a gag) – e quando várias pessoas correm para esconder o que há em fotos espalhadas pela sala, a mise-en-scène é tão óbvia que, em vez de rirmos, perguntamos apenas como Madonna não percebe o que está havendo. (Ah, sim, ela é latina e, portanto, estúpida. Claro.) E se Diane Keaton em certo momento cai no chão sem razão aparente, apenas por levar um susto, em outro temos uma tentativa fracassada de criar humor de constrangimento ao descobrirmos que uma discussão íntima está sendo ouvida por uma multidão – e por que a personagem de Katherine Heigl (a atriz é geralmente um mau sinal em qualquer produção) espera até que a conversa chegue ao fim para só então alertar os envolvidos é um mistério que só pode ser explicado com a expressão “roteirista picareta”.
Empregando a trilha sonora como indicativo constante das reações esperadas por parte do espectador (“agora ria!”; “emocione-se com este instante dramático!”), o longa é dirigido com uma obviedade irritante por Zackham, desde os travellings que se aproximam dos atores para ressaltar discursos sentimentalóides até closes que se encarregam de explicar que dois personagens que acabam de se conhecer virão a se envolver eventualmente. Como se não bastasse, a insistência em trazer Keaton falando sozinha com o propósito de oferecer exposições descartáveis é algo que beira o amadorismo.
O Casamento do Ano é, em suma, o tipo de filme que, de tão equivocado, quase nos faz sentir raiva de atores que aprendêramos a amar ao longo dos anos. Pensando bem, não estou certo sobre o “quase”.
01 de Setembro de 2013