Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
12/04/2013 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Diamond Brasil | |||
Duração do filme | |||
95 minuto(s) |
Dirigido por Brad Anderson. Com: Halle Berry, Abigail Breslin, Morris Chestnut, Michael Eklund, Michael Imperioli, Justina Machado, Evie Thompson.
Não tenho problema com implausibilidade no Cinema. Aceito que vampiros existam, que Ferris Bueller fale diretamente comigo e que E.T. faça a bicicleta de Elliott voar diante da Lua. Ora, não protestei nem mesmo quando James Bond se transformou em Macaulay Culkin no terceiro ato de Skyfall para se defender de um exército de Joes Pesci. No entanto, o que Chamada de Emergência faz em seus vinte minutos finais não é ferir a plausibilidade, mas encarar o espectador, mostrar-lhe a língua, cuspir em seu rosto e então perguntar: “Não sou genial e audacioso?”. Não, não é. As palavras que me ocorrem, em vez disso, são “estúpido e niilista”.
Escrito por Richard D’Ovidio, o gênio por trás de 13 Fantasmas e Rede de Corrupção (o clássico que reuniu Steven Seagal e DMX), o roteiro nos apresenta a Jordan Turner (Berry), uma telefonista da central de emergência da polícia de Los Angeles que, certa noite, recebe o chamado de uma adolescente desesperada cuja casa acaba de ser invadida por um estranho. Buscando ajudar a menina, Jordan acaba cometendo um erro que custa a vida da garota, quando, então, o filme salta seis meses no tempo para adotar a familiar estrutura da narrativa que traz uma protagonista traumatizada que eventualmente tem a chance de se redimir e curar suas feridas psicológicas através da ação – e não por viver uma situação similar à do trauma original, mas idêntica.
Convenções podem funcionar, claro – e como representam atalhos narrativos familiares, podem até mesmo ajudar quando bem utilizadas. Assim, ao reconhecermos a trajetória que a heroína seguirá, nos concentramos menos na trama absurda e mais nas atitudes que Jordan passa a tomar, o que acaba resultando em um segundo ato relativamente interessante à medida que a moça busca ajudar uma nova adolescente em perigo (Bresling, a Pequena Miss Sunshine, agora uma adolescente californiana). Seguindo uma lógica de espaço confinado que Hitchcock usou em Festim Diabólico e que recentemente gerou filmes como Por um Fio e Enterrado Vivo, as tentativas feitas pela jovem Casey para chamar a atenção de alguém enquanto se encontra no porta-malas do carro do sequestrador são intrigantes e bem conduzidas, sendo também agradável ver um filme protagonizado por duas mulheres inteligentes e fortes.
Mas então Casey sai do porta-malas e o filme desiste de fazer sentido e de respeitar o público.
Sim, até este momento, já havíamos sido obrigados a aceitar Michael Eklund (um sub-Ethan Hawke) como o serial killer mais estúpido e despreparado da história da matança em série, agindo constantemente sob a luz do dia e em público e aparentemente contando com a sorte, mas o que ocorre a partir de então ultrapassa a fronteira do risível – e, de fato, cheguei a rir ao ver Halle Berry ser vitimada por uma conveniente crise de Parkinson ao tentar fazer uma ligação importante. Além disso, Chamada de Emergência frequentemente recorre a atalhos irritantes, como a presença de um estagiário que faz perguntas inverossímeis à protagonista a fim de permitir diálogos expositivos e, claro, a foto que traz a moça ao lado do pai devidamente uniformizado para que entendamos o que a memória do velho policial representa para a filha. Para completar, é claro que no instante em que Jordan diz que um operador jamais deve fazer promessas ou tornar a ligação pessoal já antecipamos que ela logo quebrará estas regras para alcançar efeitos dramáticos artificiais.
Dirigido por Brad Anderson, que realizou o ótimo O Operário e os bons Session 9 e Expresso Transiberiano, este novo esforço soa como um trabalho sob contrato, burocrático e conduzido sem paixão, mesmo com algumas opções estéticas interessantes. Empregando freeze frames recorrentes para intensificar a força dos atos de violência sem necessariamente mostrá-los na tela, o cineasta ainda é hábil ao criar uma lógica visual interessante ao lidar com Casey, cujo rosto é constantemente focalizado em primeiríssimos planos rodados com grandes angulares, e Jordan, que surge através de teleobjetivas que criam uma profundidade de campo reduzida que também a isola do ambiente que a cerca – e, com isso, o diretor estabelece uma ligação entre as duas mulheres, que surgem solitárias e claustrofóbicas. Por outro lado, é difícil aceitar momentos óbvios como aquele em que todo o centro de operações para a fim de acompanhar o que Jordan está fazendo ou outro no qual a heroína processa o áudio de uma gravação como uma perita em busca de pistas. Além disso, o terceiro ato (já o mencionei?) altera completamente a personalidade da protagonista, que age de forma a fazer jus à (falta de) inteligência do vilão.
Buscando prender a atenção do público através da curiosidade pelo grotesco (“Eu avisei que não ia querer ver isso!”, grita o assassino ao falar de algo que, quando finalmente avistamos, surge como um imenso anticlímax), Chamada de Emergência ainda inclui um momento inacreditável no qual vemos várias fotos que conveniente revelam a evolução da relação pouco saudável entre duas pessoas – e ao ver os retratos, só consegui torcer para que a pessoa responsável por fotografá-las houvesse sido colocada em tratamento psiquiátrico.
O que me traz ao desfecho que, ansioso para se mostrar chocante e audacioso, soa apenas como um adolescente tentando impressionar os amigos ao agir como um babaca – e para conferir um exemplo com conclusão similar, mas que consegue ser adulto, corajoso e repleto de implicações morais, assista ao excepcional sul-coreano Lady Vingança. Perto dele, Chamada de Emergência deveria se chamar apenas Desculpe, Número Errado.
08 de Abril de 2013