Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
21/10/2011 | 01/01/1970 | 5 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
115 minuto(s) |
Dirigido por Zhang Yimou. Com: Zhou Dongyu, Shawn Dou, Xi Meijuan, Li Xuejian, Chen Taisheng.
Zhang Yimou é um cineasta formidável e, assim, é um alívio vê-lo retornar à boa forma depois da desastrosa aberração Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão, que, estranha e caótica refilmagem de Gosto de Sangue, em nada lembrava as belas obras anteriores do diretor, como Lanternas Vermelhas, Herói, O Caminho para Casa e A Maldição da Flor Dourada, entre outros. Trabalhando aqui a partir do romance Ai Mi, Yimou concebe uma história humana e tocante que consegue a proeza de flertar com o melodrama sem ser por este engolido ou sabotado.
Ambientado durante a Revolução Cultural chinesa na década de 60, o filme acompanha a jovem Jing (a excepcional estreante Zhou Dongyu), que, enviada para o campo a fim de “aprender os valores dos camponeses”, acaba conhecendo o geólogo Sun (Dou). Empenhando-se para recuperar a honra de sua família, abalada pela prisão do pai direitista, a moça inicialmente tenta ignorar os avanços do rapaz, mas os dois acabam se apaixonando e colocando em risco a posição de Jing em seu novo emprego.
Adotando uma estratégia narrativa curiosa ao incluir, de tempos em tempos, letreiros que descrevem passagens de tempo e sentimentos dos personagens, Yimou acaba conferindo, com isso, um caráter literário, romântico e emocionalmente épico à sua história. Por outro lado, o cineasta demonstra sensibilidade ao construir aquele romance também através de sutilezas, como ao retratar, por exemplo, o primeiro toque entre os amantes, quando Sun vence a resistência de Jing em lhe dar a mão com delicadeza e respeito.
Casto em função do contexto cultural e político do país e também devido à ingenuidade da jovem protagonista, A Árvore do Amor é doce em sua abordagem de um envolvimento amoroso quase platônico – e mesmo quando um arremedo de intimidade física surge entre o casal, Yimou se concentra mais nas expectativas e reações dos jovens do que no ato em si, mantendo sua câmera colada ao rosto dos atores e permitindo que testemunhemos a ansiedade e o desejo em seus olhos. Aliás, isto demonstra a confiança do cineasta em seu elenco – uma confiança justificada pela dinâmica estabelecida entre Dongyu e Shawn (também estreante, diga-se de passagem), que se entregam com tamanha naturalidade aos personagens que podemos quase enxergar o sentimento que surge entre eles, tamanha sua força.
Belissimamente fotografado por Zhao Xiaoding, colaborador de Yimou desde que trabalhou como operador de câmera em Herói, o longa faz um ótimo uso das locações, desde os campos floridos percorridos pelos personagens até o vale que abriga a pequena vila visitada por Jing (e, neste sentido, o design de produção também merece créditos, destacando-se também no fantástico trabalho de recriação de época).
Com um terceiro ato que, em mãos mais pesadas, poderia se transformar num água-com-açúcar cafona e irritante, A Árvore do Amor emociona não por ser apelativo ou maniqueísta, mas por ter conseguido levar o espectador a conhecer aqueles personagens e a torcer por sua felicidade. E que Zhang Yimou, aos 60 anos de idade, demonstre tamanha sensibilidade ao retratar o amor adolescente é uma prova de seu talento como cineasta e também de sua profunda humanidade.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio de 2011.