Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/01/2012 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
125 minuto(s) |
Dirigido por Bertrand Bonello. Com: Alice Barnole, Hafsia Herzi, Céline Sallette, Jasmine Trinca, Adèle Haenel, Noémie Lvovsky, Iliana Zabeth, Xavier Beauvois, .
Com um falso e constante sorriso construído à navalha por um amante e com lágrimas de sêmen escorrendo pelo rosto, a prostituta Madeleine (percebam o nome) surge, em certo momento de L’Apollonide, como uma metáfora viva da objetificação destrutiva da mulher pelo machismo da sociedade, que exige submissão sexual completa associada a uma postura pública de satisfação e alegria por ser amada, protegida e ter o privilégio de servir aos homens que as protegem. Trata-se de uma imagem poderosa e complexa em um filme que, curiosamente, enxerga suas personagens, todas prostitutas em uma casa de tolerância no fim do século 19, com um inconfundível romantismo – ao menos por perceber a relação que mantêm com seus clientes como uma dinâmica social, não apenas como uma transação econômica feita nas ruas da cidade.
Com uma sequência de créditos iniciais que já evoca a sensualidade e a força do universo feminino de forma elegante, o longa dirigido e escrito por Bertrand Bonello acompanha nove prostitutas que, morando na imensa casa comandada por uma cafetina gentil que tem dois filhos pequenos para criar, trocam confidências e apoio psicológico enquanto tentam acumular dinheiro suficiente para pagarem as dívidas contraídas com o estabelecimento no qual trabalham – dívida que algumas delas contraíram há mais de uma década. Permanecendo por quase toda a narrativa no interior do casarão, o filme retrata o cotidiano das mulheres e suas relações com seus clientes mais regulares em uma época na qual o diagnóstico de sífilis era uma sentença de morte e os homens que visitavam lugares como aqueles não só não se envergonhavam como ainda usavam a oportunidade para encontrar com outros amigos da alta sociedade.
Adotando uma cronologia fluida sem jamais perder o controle sobre a narrativa, o cineasta e seu montador Fabrice Rouaud cortam de maneira inteligente de uma personagem para outra, ocasionalmente chegando até mesmo a dividirem a tela em quatro quadros a fim de acompanharem as ações simultâneas de várias personagens. Com isso, eles conseguem estabelecer as particularidades de cada uma daquelas mulheres, que surgem como figuras com traços bem definidos que permitem que o espectador compreenda a dinâmica que se forma entre elas e que envolve carinho e preocupação mútuos.
Enquanto isso, o design de produção, associado à fotografia bela e elegante de Josée Deshaies, transforma a casa que serve de palco ao filme em um ambiente com personalidade própria, desde a sala de jogos suntuosa até a amontoada cozinha na qual as garotas dividem suas refeições e aos quartos nos quais atendem seus clientes, forjando um retrato simultaneamente triste e romântico do estilo de vida daquelas mulheres. Além disso, a decisão de empregar músicas anacrônicas ressalta a contemporaneidade daquela atividade e dos percalços enfrentados pelas personagens – algo salientado no inteligente plano que encerra a projeção.
Constantemente encantando pelo uso inesperado de simbolismos que se encaixam de forma orgânica à narrativa (como as pétalas que caem, apontando com isso o fim de uma era), L’Apollonide poderia formar uma sessão dupla com o Turnê de Mathieu Amalric ao retratar o dia a dia de uma pequena trupe que, ao comercializar o sexo, descobre e forma laços familiares com as colegas de sedução.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio de 2011.
15 de Outubro de 2011