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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
04/01/2013 01/01/1970 5 / 5 4 / 5
Distribuidora
Disney
Duração do filme
108 minuto(s)

Detona Ralph
Wreck-It Ralph

Dirigido por Rich Moore. Com as vozes de John C. Reilly, Sarah Silverman, Jack McBrayer, Jane Lynch, Alan Tudyk, Mindy Kaling, Ed O’Neill, Dennis Haysbert, Edie McClurg, Rachael Harris, Adam Carolla, Horatio Sanz.

Detona Ralph poderia perfeitamente ser descrito como uma extrapolação do universo de Toy Story. Se no filme da Pixar os brinquedos criavam vida quando se encontravam livres da observação de seus donos, nesta produção da Disney (sim, dona da Pixar) são os personagens dos videogames quem revelam ter consciência quando os jogadores estão longe das máquinas. Porém, longe de surgir como uma mera cópia barata das histórias estreladas por Woody e Buzz, o longa dirigido pelo estreante Rich Moore se revela uma aventura imaginativa, divertida e – o que é surpreendente – extremamente tocante.

Escrito por Phil Johnston e Jennifer Lee, o filme gira em torno de Ralph (Reilly), vilão do jogo “Conserta Felix” que, prestes a completar 30 anos de funcionamento, surge inspirado em Donkey Kong ao trazer o pequeno Felix escalando um prédio destruído pelo grandalhão Ralph, que, derrotado, é atirado do alto do edifício ao final de cada fase. Sentindo-se solitário e desvalorizado, o “vilão” resolve ganhar uma medalha de herói a fim de provar seu valor e, para isso, entra em outros jogos, acabando por se tornar cúmplice da pequena Vanellope (Silverman) no colorido e infantil “Sugar Rush”. Perseguidos pelo cruel rei Candy (Tudyk) e também por Felix (McBrayer) e pela heroína Calhoun (Lynch), Ralph e Vanellope estabelecem uma amizade inesperada enquanto esta tenta vencer uma corrida que a tornará respeitada entre os personagens acostumados a encará-la como um mero “bug” do sistema.

Contando com um design de produção espetacular, o filme já encanta ao revelar a transição entre o mundo externo às máquinas ultrapassadas, com seus personagens pixelizados e temas musicais MIDI, e o interno, que traz aquelas mesmas figuras animadas em um 3D moderno e impecável, ainda que – e aqui reside o brilhantismo da produção – vários deles se movimentem em pequenos arranques, como se animados num frame rate baixo e típico dos velhos jogos. Da mesma maneira, é divertido perceber como os coadjuvantes do “Conserta Félix” parecem percorrer caminhos estabelecidos sempre em linha reta, num indício de programação arcaica, o que faz eco ao instante em que um soldado de um jogo mais moderno caminha em direção a uma parede e mantém o movimento mesmo depois de esbarrar nesta, deslizando lateralmente exatamente como uma figura saída de um game qualquer.

Divertindo-se ao trazer personagens clássicos da história desta mídia (de Pac Man e seus fantasmas a Q*bert e Bowser, o vilão da franquia “Mario Bros”), Detona Ralph encontra uma maneira engenhosa de promover o encontro destas figuras ao imaginar a extensão elétrica do fliperama como uma versão de uma estação central de metrô. Como se não bastasse, o diretor de arte Ian Gooding realiza um trabalho digno de prêmios ao conferir personalidades e atmosferas distintas não só a cada jogo, mas a cada parte dos mundos incluídos nestes – e no caso do “Sugar Rush”, isto vai desde a montanha de mentos e soda que remete a um vulcão até as estradas cobertas pela neve, passando pelas planícies tomadas por balas de goma e o castelo megalomaníaco do vilão.

Sem jamais transformar as referências aos games no recurso central da narrativa (erro comum nas produções da DreamWorks, que vêm se tornando versões infantis da série Todo Mundo em Pânico, tamanha sua dependência da paródia em suas narrativas), Detona Ralph ainda assim faz sua parcela de brincadeiras ao revelar a natureza da sala na qual os vilões se encontram para suas reuniões habituais, ao cobrir PacMan de bolo e transformá-lo no ícone amarelo ensanguentado de Watchmen, ao usar um cheat da Nintendo como senha de um cofre ou mesmo ao empregar elementos das trilhas sonoras de 8 bit como parte dos temas compostos por Henry Jackman. Além disso, é interessante perceber como o filme retrata a maneira com que os habitantes dos games lidam com os jogadores e mesmo como enxergam uns aos outros – o que leva à bela declaração de amor de Felix, um personagem de um jogo clássico, ao se encantar pela heroína Calhoun, protagonista de um projeto mais moderno: “Olha a alta definição de seu rosto!”, ele exclama, encantado. Para encerrar, a natureza de “bug” da adorável Vanellope origina sua boa parcela de tiradas – como sua insistência em descrever sua condição como “pixelaxia”.

Beneficiado por um roteiro engenhoso que amarra com elegância todos os elementos apresentados ao longo da narrativa (desde o conceito de “virar Turbo” até a já citada montanha de mentos e soda), Detona Ralph ainda funciona como experiência emocional ao criar uma dinâmica tocante entre o personagem-título e a pequena Vanellope, resultando num terceiro ato tocante que evoca com eficiência as lágrimas e o riso sem depender do maniqueísmo e de piadinhas metalinguísticas superficiais. Ou mesmo de um batido e irritante número final de dança coletiva.

Observação: a tipografia dos créditos finais merece ser conferida – e há uma piadinha divertida com a tela da morte do PacMan nos segundos finais da projeção.

08 de Janeiro de 2013

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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