Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
106 minuto(s) |
Dirigido por Anusha Rizvi e Mahmood Farooqui. Com: Omkar Das Manikpuri, Raghuvir Yadav, Shalini Vatsa, Nowaz, Farrukh Jaffar, Sitaram Panchal.
Candidato da Índia a uma vaga no Oscar 2001, Peepli ao Vivo é um filme que afunda em função de suas muitas e grandes ambições. Levando-se mais a sério do que deixa transparecer (como indica seu letreiro final de “denúncia social”), o longa tenta, ao mesmo tempo, fazer uma crítica à lógica perversa e mesquinha das alianças políticas, denunciar a submissão da mídia aos interesses dos poderosos, condenar a manipulação da informação pelos jornalistas, apontar os descalabros econômicos do país e criar uma comédia com toques dramáticos moldada pela estrutura narrativa típica de Bollywood – transformando-se, como resultado, numa mistura pouco eficiente de A Montanha dos Sete Abutres, As Vinhas da Ira e, com seus interlúdios musicais com conotações políticas, Os Saltimbancos Trapalhões.
Iniciando sua narrativa a partir da miséria absoluta dos agricultores da Índia, o roteiro de Anusha Rizvi se concentra a princípio nos irmãos Budhia (Yadav) e Natha (Manikpuri), que estão prestes a perder a fazenda da família para um banco. Quando ouvem falar de uma lei que indeniza os parentes de agricultores que se mataram, logo decidem que um deles deverá cometer suicídio a fim de salvar a propriedade – algo que o mais velho, Budhia, não demora a convencer o influenciável caçula a fazer. Quando a mídia descobre a decisão do agricultor, porém, um verdadeiro circo midiático toma conta da pequena cidade de Peepli, que se converte no centro de uma disputa política que se torna ainda mais intensa por ocorrer às vésperas das eleições.
Ainda que reserve pesadas críticas à classe política ao retratar a fluidez das alianças e a natureza cínica e auto-centrada daqueles que deveriam governar pensando no povo, o longa investe sua munição pesada no jornalismo de entretenimento, sempre baseado em escândalos fugazes, que tomou conta da mídia mundial na última década – um tipo de jornalismo corrompido que não se envergonha por criar narrativas que sirvam às pautas pré-estabelecidas e que se submetem aos interesses de partidos por medo ou – como ocorre no Brasil – por ter interesses econômicos velados por trás de um projeto político determinado. Sem exibir qualquer traço de consciência social (algo, por exemplo, que norteava o Globo Repórter em sua origem, quando era comandado por Eduardo Coutinho e seus parceiros), este é um tipo de jornalismo que comumente se refere aos seus objetos como “personagens” e que não se deixa limitar pelos fatos ao contar suas histórias – e que, justamente por sua natureza frágil, salta de tópico em tópico sempre em busca de grandes audiências, abandonando qualquer assunto, por mais relevante que seja, a partir do instante em que este deixa de atrair o público.
Infelizmente, a relevância desta mensagem acaba se perdendo justamente em função da falta de foco do roteiro e da direção, que, ao atirarem em várias direções, acabam errando todos os alvos. Além disso, o filme é claramente prejudicado por não desenvolver com mais cuidado aquele que deveria ser a alma da narrativa, o pobre Natha, que, mal abrindo a boca durante a projeção, permanece uma verdadeira incógnita até o último plano – e, assim, não nos importamos realmente com seu destino, o que é um problema grave se considerarmos que este é o motor do projeto.
Entregando-se a interlúdios musicais nem sempre orgânicos – algo característico do cinema de Bollywood -, Peepli ao Vivo ocasionalmente interrompe sua narrativa para cantar as virtudes de um povo humilde, mas forte, num país miserável e desigual, expondo o caráter populista do projeto que, no fim das contas, se converte apenas numa obra esquecível que, como os jornalistas que tanto critica, parece apenas querer usar tópicos importantes como desculpa para divertir.
24 de Outubro de 2010
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.
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