Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/11/2010 01/01/1970 4 / 5 3 / 5
Distribuidora

Um Homem Misterioso
The American

Dirigido por Anton Corbijn. Com: George Clooney, Thekla Reuten, Violante Placido, Irina Björklund, Paolo Bonacelli, Johan Leysen.

Homens solitários e/ou em busca de redenção: estes sãos os personagens que vêm se tornando característicos da filmografia de George Clooney, um ator carismático e interessante que, mesmo não exibindo a versatilidade de um Sean Penn, se estabelece cada vez mais como uma presença importante no cinema norte-americano contemporâneo. Demonstrando uma admirável ambição artística ao alternar projetos puramente comerciais como Treze Homens e um Novo Segredo com outros mais “arriscados” como O Segredo de Berlim ou Syriana, Clooney agora protagoniza este Um Homem Misterioso, segundo longa do diretor holandês Anton Corbijn (Control), que emprega uma premissa de thriller para realizar um instigante estudo de personagem.

Escrito por Rowan Joffe a partir de um livro de Martin Booth, o roteiro nos apresenta ao assassino profissional/fornecedor de armas vivido por Clooney em uma seqüência que o traz em um momento de tranqüilidade ao lado de uma bela mulher num local remoto e coberto pela neve – uma trégua que é rompida quando o sujeito é atacado por pistoleiros contratados para matá-lo. Mudando-se para uma casa no vilarejo italiano apropriadamente batizado de Castel del Monte, ele aceita a tarefa de preparar uma arma especial para uma enigmática assassina (Reuten) enquanto se envolve com uma prostituta local (Placido, filha de Simonetta Stefanelli, que viveu a primeira esposa de Michael Corleone em O Poderoso Chefão). Mais uma vez perseguido por profissionais determinados a eliminá-lo, Edward (ou Jack ou “Sr. Borboleta” – seu nome real nunca é revelado) finalmente se vê dividido entre a auto-preservação e o desejo de finalmente estabelecer uma relação significativa com outro ser humano, o que se apresenta como um dilema potencialmente arriscado.

Demonstrando seu profissionalismo desde o princípio, “Edward” jamais perde tempo com conversas prosaicas – e ao se encontrar pela primeira vez com a nova cliente, já inicia a reunião solicitando as especificações técnicas da arma que esta pretende encomendar. Sempre concentrado no trabalho e mantendo-se vigilante ao ambiente ao seu redor, o protagonista é direto a ponto de automaticamente cronometrar o tempo que a garota leva para montar o rifle ao apresentar-lhe um protótipo – e ao receber instruções para disparar alguns tiros a apenas alguns metros da moça, obedece sem questionar, já que compreende que ela pretende testar a capacidade do silenciador de despistar a origem dos disparos. Por outro lado, esta objetividade do sujeito manifesta-se também de forma mais cruel já na seqüência de abertura do filme, quando executa sem hesitação e friamente a companheira não por ter sido traído (já que sabe que não foi este o caso), mas apenas para eliminar o elemento que o enfraquecia ao tocá-lo emocionalmente.

Adotando uma postura séria e cansada como base de sua composição, Clooney encarna o personagem como um homem silencioso e triste cuja tensão constante é fruto da compreensão de que sua paranóia é plenamente justificada – e ao desconfiar de uma possível traição, o protagonista sequer perde tempo buscando explicações para as ações de seus inimigos, já que, independentemente das motivações destes, a reação deverá ser a habitual: a eliminação daqueles que o perseguem. Assim, o ator merece aplausos por não se preocupar em criar um personagem agradável, optando, em vez disso, por buscar sua humanidade justamente em seu caráter falho e na ansiedade gerada pelo fato de estar sendo caçado.

Dono de um belo olhar para composições – algo já demonstrado em Control -, Corbijn emprega seus enquadramentos não só com uma preocupação estética óbvia, mas também como maneira de refletir a vida interior de “Edward”. Assim, ao freqüentemente enfocar o personagem acuado no canto do quadro ou limitado à sua base, o cineasta reflete sua existência opressiva e também sua solidão constante – e, da mesma maneira, é inteligente ao usar a geografia de Castel del Monte, com suas ruelas estreitas e sua disposição de labirinto (ressaltada por um imponente plano plongé) para evocar a situação angustiante de seu torturado anti-herói. Com isso, o espectador é levado a experimentar de maneira inequívoca a tensão crescente do personagem, que é ressaltada ainda pelo revelador momento em que uma cena de Era uma Vez no Oeste surge numa tela de tevê, preparando o público para um confronto/duelo que, curiosamente, é frustrado pela chegada de um ônibus de turistas num instante-chave da projeção.

Definido como um homem que acredita poder ignorar a História e viver apenas em função do presente (em resumo: o “americano” do título original), “Edward” reflete esta esperança vã na própria estrutura narrativa do filme, que inicia com sua tentativa frustrada de levar uma existência comum ao lado de uma possível companheira apenas para vê-lo repetir o esforço mesmo consciente de que este provavelmente não terminará bem. Não é à toa, aliás, que a figura da borboleta se mostra recorrente em seu cotidiano, já que, como o inseto, ele parece buscar se metamorfosear de alguma maneira a fim de se libertar de seu passado de violência.

Um esforço que tenta se manter cego para o fato de que a espécie de borboleta observada pelo protagonista em certo momento encontra-se, como ele, ameaçada de extinção.

20 de Novembro de 2010

Siga Pablo Villaça no twitter clicando aqui!

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!