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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
22/05/2009 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
105 minuto(s)

Uma Noite no Museu 2
Night at the Museum: Battle of the Smithsonian

Dirigido por Shawn Levy. Com: Ben Stiller, Amy Adams, Hank Azaria, Owen Wilson, Robin Williams, Christopher Guest, Alain Chabat, Steve Coogan, Ricky Gervais, Bill Hader, Jon Bernthal, Jonah Hill, Mindy Kaling, Craig Robinson, Ed Helms, Clint Howard e as vozes de Brad Garrett, Eugene Levy e dos Jonas Brothers.

 

Há cerca de dois anos, Uma Noite no Museu se transformou num sucesso inesperado ao combinar uma historinha simples, mas suficientemente interessante, a bons efeitos visuais e à persona insegura, mas sempre a ponto de explodir, de Ben Stiller. Era um filme correto, embora jamais memorável, que agora ganha uma continuação desnecessária e ruim que se torna ainda mais óbvia ao adotar a lógica de toda produção criada apenas para explorar o sucesso comercial de outra obra: se algo funcionou no original, traga-o em maior quantidade – e é assim que agora o vigia noturno vivido por Stiller se vê diante de dois macaquinhos engraçadinhos, encontra diversas figuras históricas e faz amizade não apenas com o esqueleto de um dinossauro, mas também com uma lula gigante e vários bonequinhos de Albert Einstein, além, claro, de reencontrar todos os companheiros do primeiro longa.

           

Escrito pela mesma dupla de atores/roteiristas do original, Thomas Lennon e Robert Ben Garant, Uma Noite no Museu 2 começa dois anos após a primeira história, trazendo o ex-vigia Larrey Daley (Stiller) agora como um homem de negócios bem-sucedido depois de finalmente ter conseguido se estabelecer como inventor. Sem visitar há vários meses o Museu de História Natural que abrigara suas aventuras anteriores, ele finalmente vai até o local e descobre que (coincidência!) seus amigos que criam vida durante a noite serão despachados no dia seguinte para os arquivos do Smithsonian, em Washington, em função de uma renovação das “atrações” da instituição. Determinado a resgatá-los, Larry parte para lá apenas para descobrir que a placa que desperta as criaturas está sendo cobiçada pelo cruel Kahmunrah (Azaria), que pretende usá-la para, claro, dominar o mundo. Enquanto tenta resolver a situação, Larry aprende outra lição de vida, descobre que o dinheiro não é mais importante que o prazer de se fazer o que amamos, encontra um (im)possível novo amor e... por aí afora.

           

Embora traga um novo elemento à fantasia (a possibilidade de entrar em quadros animados pelo artefato mágico), Uma Noite no Museu 2 basicamente se limita a repetir a fórmula estabelecida no original – e só. Dizer que o filme tem um roteiro, aliás, é um triste exagero, já que a narrativa não apresenta uma estrutura minimamente coesa ou mesmo uma trama sólida, limitando-se a criar situações para que Larry interaja com criaturas de cera animadas pela placa - o que inclui uma estátua de Al Capone criada em preto-e-branco por algum motivo obscuro, já que, embora resulte num bom efeito visual, a decisão de esculpi-la sem cores não faz sentido algum. Assim, Garant e Lennon se limitam a introduzir clichês na história a fim de criarem a impressão de que gastaram algum tempo pensando nesta e, assim, Larry se vê romanticamente envolvido com a estátua de Amelia Earhart (Adams, doce e encantadora como sempre) apenas para que algum conflito possa ser gerado, já que (oh!) ela é apenas uma estátua de cera (a rigor, o unidimensional protagonista também poderia ser, mas não quero ofender os roteiristas mais do que o estritamente necessário).

           

Na maior parte do tempo, porém, o longa se concentra nos efeitos visuais, mesmo que para isso tenha que investir em seqüências que nada acrescentam à (ok, inexistente) história: observem, por exemplo, como o quase lançamento de um foguete surge como uma mera desculpa para que a equipe de computação gráfica possa brincar com seus equipamentos enquanto o diretor Shawn Levy dá palmadinhas nas próprias costas por escalar Clint Howard numa ponta a fim de fazer uma citação pedestre a Apollo 13. E reparem, também, como a presença de Darth Vader numa curtíssima cena desperdiça a possibilidade de uma boa piada – algo que se torna mais irritante quando constatamos que George Lucas sempre protege seus personag... sua máquina de fazer dinheiro com unhas e dentes e que, portanto, os cineastas desperdiçaram uma raríssima oportunidade de brincar com o vilão icônico (algo que só se tornou possível graças ao fato da Fox, produtora deste filme, também ser a distribuidora da franquia Star Wars e parceira costumeira de Lucas).

           

O surpreendente, aliás, é que Uma Noite no Museu 2 não se preocupa nem mesmo com a ação, limitando-se a um falatório interminável que ainda torna o ritmo da narrativa desnecessariamente frouxo ao apostar em piadinhas que simplesmente não funcionam. Para piorar, a compulsão de Levy em escalar atores conhecidos até mesmo para viver personagens minúsculos obriga o roteiro a gastar tempo criando gags que façam estas participações valerem a pena – e, assim, somos torturados por longas cenas absolutamente descartáveis que trazem Jonah Hill como um vigia, Mindy Kaling como uma guia que tenta se fazer de engraçadinha e  Ed Helms como um funcionário de Larry que não hesita em cancelar a festa de aniversário da filha para puxar o saco do patrão (aliás, há três veteranos da série The Office nesta produção, já que, além de Kaling e Helms, Craig Robinson também surge como um piloto).

           

Neste sentido, é trágico constatar como o filme desperdiça um elenco fenomenal: de Christopher Guest a Alain Chabat, passando por Ricky Gervais, Steve Coogan, Robin Williams e o próprio Ben Stiller, o diretor Shawn Levy trabalha com um time de pesos-pesados da comédia, desperdiçando esta invejável reunião de talentos graças à sua própria falta de competência – e é triste perceber como o único que consegue se sobressair em meio a tantos comediantes é o também talentoso Hank Azaria, que ao menos parece estar se divertindo no papel de vilão absurdo (além, claro, de emprestar sua voz à estátua de Abraham Lincoln e ao Pensador de Rodin). Mas isto não deveria ser surpresa, já que Levy jamais dirigiu algo que prestasse em sua ofensiva carreira recheada de comédias sem a menor graça – e apenas em Hollywood um picareta incompetente como este continuaria a comandar superproduções com orçamentos cada vez maiores e resultados artísticos cada vez piores (e em sua falta de criatividade, ele chega a copiar o único momento que realmente denotava imaginação em seu trabalho de direção feito no original ao cortar abruptamente para um plano geral silencioso depois de mostrar o pequeno centurião Octavius correndo grandiosamente pelo gramado da Casa Branca).

           

No passado, quando um grupo de comediantes deste calibre se reunia em uma produção, o filme era considerado um evento. Hoje em dia, trata-se apenas da continuação ruim de um longa apenas razoável e que terá sido relegada ao esquecimento em menos de seis meses. Até, claro, que Uma Noite no Museu 3 surja para dar continuidade a mais uma dispensável e vergonhosa franquia.

 

Observação: há uma cena adicional durante os créditos finais.

 

22 de Maio de 2009

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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