Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/03/2005 | 20/05/2004 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
143 minuto(s) |
Dirigido por Juan José Campanella. Com: Ricardo Darín, Eduardo Blanco, Mercedes Morán, Valeria Bertuccelli, Atílio Pozzobon, Silvia Kutika, José Luis López Vázquez.
É perfeitamente possível encarar Clube da Lua como sendo a terceira parte de uma trilogia informal que inclui, também, os maravilhosos O Mesmo Amor, A Mesma Chuva (1999) e O Filho da Noiva (2001): dirigidos por Juan José Campanella e estrelados pela dupla de atores Ricardo Darín e Eduardo Blanco, os três filmes contam histórias simples, mas profundamente tocantes que, girando em torno de personagens comuns, comovem e fazem rir através da simples observação do comportamento humano e de nossas contradições. São personagens falhos como todos nós, que podem, em um momento, tomar uma atitude incrivelmente nobre e, em outro, exibir uma mesquinhez assustadora, permitindo que o espectador compreenda, mesmo que não aprove, suas ações e motivações.
Escrito por Campanella, Fernando Castets e Juan Pablo Domenech (o único que não participou dos projetos anteriores), o filme traz, como centro da narrativa, o clube do título, que durante décadas serviu de importante ponto de encontro e confraternização para os moradores de um bairro de Buenos Aires. Agora decadente e endividado, o clube está prestes a ser fechado e demolido, o que representa uma perspectiva particularmente angustiante para Román (Darín), que, além de fazer parte de sua diretoria, nasceu justamente durante uma festa ocorrida nas dependências da associação. Enquanto busca uma saída para a situação, Román enfrenta uma crise em seu casamento – e, para lidar com tantos problemas, conta com a ajuda de seus velhos companheiros do Clube da Lua, incluindo o gentil Amadeo (Blanco), que se encontra perdidamente apaixonado por uma colega de trabalho.
Dirigido com eficiente simplicidade, Clube da Lua comprova o talento de Campanella para criar personagens adoráveis e complexos cujos problemas soam tão reais quanto aqueles que o espectador está acostumado a enfrentar no cotidiano: uma conta de luz atrasada, uma discussão com uma pessoa querida, uma paixão não correspondida, e assim por diante. O fascinante, no entanto, é que o cineasta freqüentemente encontra uma maneira de extrair humor de incidentes absolutamente prosaicos, o que transforma seus filmes em um exercício cuidadosamente equilibrado de melancolia e graça. Antes de apertar a mão de um antigo conhecido do qual declaradamente desconfia, por exemplo, Amadeo não hesita em tirar o relógio do pulso descaradamente, usando o gesto para manifestar sua opinião sobre a honestidade do sujeito. Além disso, os diálogos inteligentes e dinâmicos constantemente surpreendem o público com sua acidez, como na cena em que, ao discutir o que pode ser feito para salvar o clube, o protagonista dispara: “Se trabalho, honestidade e justiça não forem o bastante, contratamos um advogado.”.
Porém, um longa como Clube da Lua, que depende imensamente do carisma de seus personagens para funcionar, enfrentaria sérios problemas caso não contasse com um elenco talentoso – e, neste sentido, o filme também é brilhante, já que não traz uma única nota falsa em todos os desempenhos que apresenta: como Verónica, esposa de Román, Silvia Kutika ilustra com sensibilidade a decepção de uma mulher que viu o marido, promissor líder estudantil, acomodar-se em uma existência medíocre; enquanto Valeria Bertuccelli, como a professora de dança Cristina, retrata a persistência apaixonada de alguém que procura ajudar a pessoa amada a superar um vício. Da mesma forma, Eduardo Blanco se destaca ao encarnar Amadeo como um sujeito alegre, camarada, mas perigosamente afeito a azeitar a própria felicidade com álcool. Finalmente, temos Ricardo Darín (um de meus atores favoritos), que exibe forte presença ao assumir sem problemas o centro da narrativa, vivendo o personagem mais complexo do filme: calmo e normalmente ponderado, Román não é satisfeito com a própria vida, mas, mesmo amargurado, procura cumprir suas obrigações com dedicação total, emprestando suas poucas horas de descanso à administração de um clube que, mesmo falido, desempenha um papel fundamental no dia-a-dia daquela comunidade.
Promovendo uma inteligente discussão entre o pragmatismo da razão e a satisfação instintiva da emoção, Clube da Lua traz, em seu clímax, um confronto ideológico entre dois personagens diametralmente opostos, mas, mesmo então, não se rende à tentação de retratar o ambicioso Alejandro (Daniel Fanego, também excelente) como uma figura unidimensional: defendendo a venda do clube, ele apresenta argumentos absolutamente convincentes e percebemos que ele realmente acredita estar fazendo a coisa certa por todas aquelas pessoas – e o discurso de Román, embora passional e tocante, não deixa de revelar uma ingenuidade flagrante.
O melhor, porém, é que Campanella não busca respostas que agradem o espectador de forma superficial e pouco plausível, permitindo, em vez disso, que cheguemos às nossas próprias conclusões sobre o dilema dos personagens. E, no processo, cria mais uma tocante obra-prima.
Observação: Há uma cena adicional durante os créditos finais.
10 de Março de 2006