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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
28/03/2008 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
88 minuto(s)

Jumper
Jumper

Dirigido por Doug Liman. Com: Hayden Christensen, Samuel L. Jackson, Jamie Bell, Rachel Bilson, Michael Rooker, AnnaSophia Robb, Tom Hulce, Kristen Stewart.

 

Consultando as anotações que fiz durante a projeção de Jumper, fiquei surpreso ao constatar a quantidade de “Por quês” que rabisquei no bloco ao longo dos 88 minutos do filme e que indicava um número desproporcionalmente alto de furos para tão pouco tempo de história – algo decepcionante se considerarmos que o projeto envolveu três roteiristas experientes: David S. Goyer (Cidade das Sombras), Jim Uhls (Clube da Luta) e... hum... o fraco Simon Kinberg (Sr. & Sra. Smith, xXx 2: Estado de Emergência).

 

Baseado no livro de Steven Gould, o longa gira em torno de David Rice (Christensen), um jovem que detém um poder fascinante: assim como o mutante Noturno, de X-Men 2, ele consegue se teletransportar para qualquer lugar. Abandonado pela mãe aos cinco anos de idade e vivendo apenas com o pai nada carinhoso (vivido por Michael Rooker; preciso dizer mais alguma coisa?), ele logo decide viajar pelo mundo, usando seus poderes para invadir cofres de bancos e, assim, manter um luxuoso padrão de vida. No entanto, ele acaba atraindo a atenção dos Paladinos, um grupo dedicado a exterminar Jumpers (“saltadores”) como o próprio David e que é liderado pelo cruel Roland (Jackson). Tentando proteger sua amada de infância, Millie (Bilson), o rapaz acaba conhecendo outro jumper, Griffin (Bell), que pode ajudá-lo a derrotar Roland e a descobrir o verdadeiro motivo que levou sua mãe a abandoná-lo.

 

Beneficiado por um primeiro ato interessante, que acompanha as experiências do protagonista enquanto este explora seus poderes recém-descobertos, Jumper ilustra com eficiência os inúmeros atrativos de um dom como o de David, que possui uma liberdade com a qual podemos apenas sonhar (e a imensa economia de tempo que faz ao evitar as “partes chatas” de uma viagem também é invejável). Por outro lado, o filme não faz o menor esforço para transformar o sujeito em uma figura minimamente simpática. Ao contrário: seu egoísmo fica mais do que comprovado na cena em que ele ouve uma notícia sobre pessoas presas numa enchente e nem sequer cogita a possibilidade de auxiliá-las. Não que o roteiro precisasse necessariamente investir num arco dramático que culminasse numa postura mais altruísta de David, o que poderia soar clichê, mas o filme certamente se beneficiaria de algum arco narrativo, já que não possui nenhum. Em vez disso, opta pela convenção da “mocinha em perigo”, o que é sempre aborrecido.

 

Enquanto isso, Samuel L. Jackson continua a se estabelecer como um novo Michael Caine, emprestando seu talento a dezenas de produções rasteiras apenas por um dinheiro fácil: encarnando Roland como mais uma caricatura entre tantas em sua carreira, ele aqui realiza atos de pura maldade sem quaisquer motivações mais claras a não ser a de se estabelecer como vilão (aliás, o próprio Jackson já se transformou, com seu jeito sempre durão, numa caricatura – algo explorado pelo fraco Serpentes a Bordo). Surgindo com um cabelo exageradamente branco que torna sua caracterização ainda mais inverossímil, o ator é prejudicado também pelo roteiro, que não se preocupa em estabelecer com mais profundidade a natureza das atividades dos Paladinos (há uma tentativa de se fazer uma conexão rasteira com a Igreja Católica e com a Inquisição, mas sem sucesso). Por que, por exemplo, os jumpers são vistos com tamanha repulsa? Como os paladinos descobriram a existência destes “mutantes”? O que há de verdade na afirmação de que estes se tornam “maus” com o passar do tempo? E “maus” em que sentido? Sim, Roland cita Deus com freqüência, mas sem a menor convicção, como se sua “Fé” fosse uma mera desculpa para se entregar àquela caçada.

 

Por outro lado, o fato é que Jackson ao menos tenta conferir alguma energia ao seu personagem, ao passo que Hayden Christensen volta a demonstrar a falta de carisma já conhecida dos fãs de Star Wars – e sua atuação apática encontra eco na performance igualmente desinteressada (e desinteressante) de Rachel Bilson, que deixa apenas sua beleza responder pela personagem. E se Diane Lane faz pouco mais do que uma participação especial, a aparição-relâmpago de Tom Hulce como o professor do jovem David (ele surge por meio segundo, numa sala de aula) indica claramente que alguma subtrama foi abandonada na sala de montagem, já que o velho “Amadeus” ainda não perdeu tanto prestígio em Hollywood a ponto de aceitar fazer figuração. Em contrapartida, o talentoso Jamie Bell confere tanta intensidade a Griffin que este se torna o personagem mais interessante do filme – e é lamentável que o Jumper-título não seja aquele vivido pelo ator, já que sentimos mais curiosidade em conhecer seu passado do que de acompanhar as peripécias do protagonista.

 

Oferecendo uma direção que jamais faz jus ao talento com que comandou obras como Vamos Nessa!, A Identidade Bourne ou mesmo o fraco Sr. & Sra. Smith, o cineasta Doug Liman permite que o roteiro e a direção de arte cometam a imbecilidade de situar o banheiro de um banco ao lado do cofre de segurança máxima da instituição e tampouco consegue tornar as seqüências de ação (sua especialidade, afinal de contas) minimamente inventivas ou empolgantes. Por outro lado, a produção compensa a fotografia mediana com uma infinidade de planos rodados em locações magníficas no Egito, na Inglaterra, na França e no Japão, o que ao menos converte Jumper em uma espécie de breve passeio turístico. Ainda assim, a falta de estrutura do roteiro torna a narrativa irremediavelmente vazia, já que a ação é frouxa; o romance, bobo e os personagens, rasos.

 

Isto para não falarmos dos já mencionados furos: por que Roland não mata o desafeto do protagonista, que foi transportado para um cofre de banco, já que este testemunhou os poderes de David? E, por outro lado, por que se preocupa em matar outra pessoa próxima do herói? E quando David persegue Griffin, por que este se teletransporta para tantos lugares diferentes se isto não fará a menor diferença, já que o outro é perfeitamente capaz de segui-lo? (A resposta é óbvia – permitir que a produção viaje pelo mundo e confira algum interesse à seqüência -, mas não faz sentido dentro da lógica da trama.) E por que os jumpers simplesmente não se teletransportam novamente quando são seguidos por Roland, já que este deixou sua “máquina” (cujo modo de ação jamais é revelado) para trás depois do primeiro “salto”?

 

Mencionando de passagem uma tal “guerra” entre jumpers e paladinos sem conferir a esta o peso que supostamente deveria ter, o filme deixa todos estes furos de lado apenas para encerrar sua narrativa de maneira insatisfatória, buscando deixar um gancho para uma possível continuação - e é uma pena que, ao se preocupar excessivamente com a idéia de gerar uma nova e lucrativa série, o filme se esqueça de si mesmo.

 

28 de Março de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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