Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
04/07/2008 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Mark Osborne e John Stevenson. Com as vozes de Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Ian McShane, Jackie Chan, Seth Rogen, Lucy Liu, David Cross, Michael Clarke Duncan, Wayne Knight e (na versão brasileira) Lúcio Mauro Filho e Juliana Paes.
Depois de realizar seus trabalhos mais consistentes justamente em seus dois primeiros longas-metragens (FormiguinhaZ e Shrek), a PDI/DreamWorks passou a adotar, como fórmula básica de seus projetos futuros, as constantes referências a obras pop contemporâneas, substituindo o desenvolvimento da narrativa por piadas que, mesmo quando inspiradas, comprometiam a longevidade dos filmes ao torná-los reféns do contexto preciso em que foram lançados. Talvez percebendo a armadilha que havia preparado para si mesmo, o estúdio encabeçado por Jeffrey Katzenberg investiu, em Kung Fu Panda, numa abordagem que privilegia mais a história e menos o humor fácil, deixando de lado as paródias ao gênero e contendo-se até mesmo nas referências a obras similares (os lendários irmãos Shawn, por exemplo, são sutilmente homenageados através dos nomes de dois personagens, mas só).
Escrito por Jonathan Aibel e Glenn Berger, o roteiro acompanha a trajetória do obeso (e poderia ser diferente?) urso panda Po, que trabalha entristecidamente no restaurante do pai, o pato Sr. Ping (uma referência a O Panaca, talvez, já que Po nem imagina ter sido adotado). Morando numa vila que fica aos pés de um monastério no qual os cinco mais poderosos guerreiros do kung fu treinam, Po sonha em se tornar um mestre das artes marciais e, assim, logo fica empolgado ao ouvir a notícia de que a identidade do novo Dragão Guerreiro será anunciada pelo idoso mestre tartaruga Oogway. O que Po não sabe, porém, é que o Dragão Guerreiro terá que enfrentar o perigoso Tai Lung, que escapou da prisão recentemente, e que ele próprio será apontado como o escolhido por Oogway – para desespero do pequeno mestre Shifu, encarregado de treiná-lo.
Surpreendendo já em seus primeiros momentos, quando dá início à narrativa com uma belíssima seqüência de animação em 2D, Kung Fu Panda é, tecnicamente, uma produção que faz jus à experiência crescente da PDI/DreamWorks – e o visual dos personagens mantém um ótimo equilíbrio entre o real e o cartunesco, ficando entre a verossimilhança de Selvagem e a caricatura de Madagascar. Por outro lado, os animadores não se furtam de empregar o exagero nas expressões das criaturas em busca do humor e, assim, Po e seus companheiros retorcem seus maxilares de maneira absurda, exibem um intenso tremor nos olhos quando amedrontados e se movem sem ligar para as leis da Física. Ainda assim, a equipe de animação encontra espaço para a sofisticação ao transformar Oogway em um indivíduo senil e provavelmente vitimado pelo mal de Parkinson, já que seus tremores constantes (mas nada exagerados) são concebidos brilhantemente pelos artistas da PDI. Da mesma forma, é interessante perceber como as manchas nos pêlos do vilão Tai Lung são empregadas para criar a impressão de um abdômen musculoso, o que ressalta seu ar amedrontador.
Em contrapartida, se a seqüência em 2D que abre o filme é ambiciosa em sua estilização, o restante da narrativa, realizada em 3D, exibe uma lógica visual sem imaginação ou personalidade, limitando-se a enquadrar os personagens de maneira burocrática e pouco expressiva – e o máximo que os diretores Mark Osborne e John Stevenson conseguem conceber de “diferente” resume-se a alguns freeze frames que tentam extrair humor dos golpes de Tai Lung enquanto este ataca seus carcereiros. Por outro lado, o diretor de fotografia Yong Duk Jhun ao menos tenta tornar a experiência mais interessante (embora pouco original) ao banhar os flashbacks em um dourado nostálgico que se contrapõe aos tons cinzentos e frios que marcam as cenas protagonizadas pelo vilão.
Enquanto isso, o bom design de produção de Raymond Zibach (Sinbad: A Lenda dos Sete Mares) resulta em cenários interessantes, como a vila e o monastério, mas – mais uma vez – nada que seja particularmente inspirado ou que tire o fôlego (com exceção da prisão que guarda Tai Lung, que impressiona por sua geografia vertical. Já as seqüências de ação se mostram corretas na maior parte do tempo, embora só beirem o brilhantismo em dois momentos: durante a batalha na ponte suspensa e numa ótima disputa entre Po e Shifu por um pastel. Aliás, mais uma vez os animadores mantêm as referências a outros longas similares a poucos e sutis elementos, como a corrida pelos telhados da vila durante a noite (O Tigre e o Dragão) e, claro, o tom fantasioso e os temas recorrentes do gênero wuxia pian.
Beneficiado por contar com personagens simpáticos (é impossível não admirar a empolgação de Po, que se sente feliz até mesmo ao apanhar de seus ídolos), Kung Fu Panda ainda oferece um forte elemento dramático através dos conflitos internos do mestre Shifu – e é tocante vê-lo tentar enfrentar Tia Lung apenas para ser enfraquecido pelas próprias lembranças que tem do vilão enquanto este ainda era um doce filhote. Menos interessante, por outro lado, é o desenvolvimento de velhos e batidos temas das animações da DreamWorks (e aí incluo, também, as produções em 2D), como a necessidade de se “lutar pelos sonhos”, a máxima do “seja você mesmo” e por aí afora.
Mas se ignorarmos as liçõezinhas de moral baratas, Kung Fu Panda é suficientemente divertido para se estabelecer como um bom passatempo – mesmo que isto, por si só, também não garanta sua longevidade.
Observação: A dublagem de Lúcio Mauro Filho e Juliana Paes (que substituem Jack Black e Angelina Jolie) não compromete o filme, sendo mais do que adequadas aos propósitos do projeto.
Observação 2: Há uma cena adicional após os créditos finais.
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