Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
25/05/2007 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
169 minuto(s) |
Para alguém que notoriamente dá imenso valor a uma boa história e que freqüentemente lamenta a tendência de Hollywood de sacrificar o roteiro em prol do simples espetáculo, estou prestes a cair em contradição, mas o fato é que Piratas do Caribe: No Fim do Mundo tem uma trama mais complexa do que deveria: se tivesse descartado parte de suas subtramas e reviravoltas e se concentrado mais no puro entretenimento, este capítulo final da bem-sucedida série comandada por Gore Verbinski certamente teria se revelado bem mais eficaz em sua proposta. Não que o projeto seja mal-sucedido; assim como seus antecessores, Piratas 3 é suficientemente divertido e absolutamente irrepreensível em suas ótimas seqüências de ação. O problema é que ocasionalmente o roteiro tropeça nas próprias ambições ao investir em elementos que quebram o ritmo da narrativa.
Novamente escrito pela dupla Ted Elliott e Terry Rossio, o terceiro filme da série traz o mocinho Will Turner (Bloom), sua amada Elizabeth (Knightley) e o capitão Barbossa (Rush) como líderes de uma missão para resgatar o capitão Jack Sparrow (Depp), que se encontra numa espécie de limbo depois de ter sido devorado pelo gigantesco kraken no final do filme passado. Aconselhados pela estranha Tia Dalma (Harris), eles buscam o auxílio do capitão Sao Feng (Yun-Fat), já que precisam de sua presença em um conselho formado pelos nove “lordes piratas” – entre os quais se inclui o próprio Sparrow. Para tornar o resgate mais urgente, o inescrupuloso Lorde Beckett (Hollander) está usando o terrível Davy Jones (Nighy) para destruir seus inimigos piratas, já que tem o poder de controlar o vilão desde que recebeu, do almirante Norrington (Davenport), o “baú da morte” contendo o coração do perigoso capitão. Incluindo jornadas a Singapura, à Enseada dos Náufragos e ao “fim do mundo” (seguindo a crença da época, o mundo surge quadrado, com uma colossal cachoeira em sua extremidade), Piratas 3 ainda gasta um longo tempo com a ninfa Calypso (aqui transformada em deusa), que teria sido aprisionada em uma forma humana pelo Conselho Pirata.
Se você se surpreendeu ao descobrir que Sparrow é um “lorde pirata” e que uma lenda grega de repente se tornou elemento importante do novo filme, não está só: como roteiristas experientes que são, Elliott e Rossio certamente deveriam ter introduzido pistas sobre estas revelações no capítulo anterior da trilogia, em vez de apresentá-las ao espectador de forma súbita e forçada. No entanto, os dois provavelmente estavam ocupados demais tentando compreender a trama repleta de traições e reviravoltas que conceberam para o filme e que, na maior parte do tempo, mantém o público confuso, sem saber exatamente de que lado se encontra cada personagem ao longo da projeção – e se
Por outro lado, Piratas 3 exibe o mesmo bom humor dos longas anteriores, provocando o riso através de gags físicas (como o pirata anão com sua potente arma), de referências cinematográficas (o encontro entre negociadores em uma pequena enseada é acompanhada por acordes típicos dos westerns spaghetti de Sergio Leone), de diálogos espirituosos (“Larry.”) e até mesmo de um tipo de recurso que normalmente me irrita imensamente: planos mostrando a reação de animais a certos acontecimentos (mas como resistir ao simpático macaquinho Jack?). Em contrapartida, se antes os roteiristas demonstravam compreender que Sparrow funciona melhor em doses homeopáticas, aqui cometem o erro de acreditar que “quanto mais, melhor”, introduzindo uma fraquíssima piada recorrente envolvendo vários outros Jacks (frutos da imaginação do capitão original), o que é decepcionante.
Não que o personagem de Johnny Depp seja menos cativante desta vez; como sempre, o carisma e a performance repleta de maneirismos do ator transformam Jack Sparrow em um canalha adorável – e caso fosse interpretado de maneira sóbria, o capitão certamente seria encarado como vilão pelo público, já que sua falta de caráter é algo inquestionável. Da mesma forma, as interpretações intensas de Geoffrey Rush e Bill Nighy (este último, através de motion capture) ajudam a manter a narrativa interessante mesmo quando o roteiro parece mais preocupado em exibir a própria esperteza. E se Chow Yun-Fat é desperdiçado em mais uma subtrama que acaba sendo abandonada abruptamente, Keira Knightley e Orlando Bloom finalmente têm oportunidade de protagonizar momentos mais dramáticos – e confesso que gostei particularmente da resolução do romance do casal, que é tocante, satisfatório, triste e poético ao mesmo tempo. Finalmente, é preciso dizer que a ponta de Keith Richards é pouco mais do que uma curiosidade, tornando-se memorável apenas por permitir que Sparrow diga para o sujeito: “Você viu de tudo, fez de tudo e sobreviveu” (e é claro que a frase está sendo dita, na verdade, por Johnny Depp para seu ídolo do Rolling Stones, e não de um personagem fictício para outro).
Mais uma vez engrandecido por um design de produção espetacular, o último capítulo da trilogia presenteia o espectador com criações fabulosas: além do Pérola Negra e do Flying Dutchman continuarem a rivalizar em seus visuais sombrios, os cenários construídos para o filme primam pela inventividade, desde a úmida Singapura até a fantástica Cidade dos Náufragos, concebida como um amontoado de navios destroçados. Além disso, Verbinski e o diretor de fotografia Dariusz Wolski criam vários planos de incrível beleza, como a rotação de câmera que revela a perspectiva invertida de um navio emborcado; a imagem de uma embarcação aparentemente flutuando no espaço (as estrelas refletidas na água remetem ao plano similar de Minha Amada Imortal; e, é claro, o momento, em câmera lenta, no qual determinado personagem percorre o convés enquanto disparos de canhão destroem impiedosamente o barco no qual se encontra. E se o cineasta merece um tapa na mão por distrair-se ao dirigir a cena na qual os heróis reclamam do frio intenso (e durante a qual Bloom, mesmo semi-congelado, surge com a camisa aberta), a punição fica suspensa graças à irreverência do plano no qual vemos duas bolas de ferro penduradas entre as pernas do capitão Barbossa.
Funcionando muito bem como puro espetáculo, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo mantém a consistência da trilogia em seu propósito de divertir de forma descompromissada, atingindo o ponto alto em sua meia hora final, que inclui uma seqüência de batalha que já mereceria aplausos apenas por sua complexidade técnica e narrativa (além dos magníficos efeitos visuais, que envolvem o Pérola Negra e o Flying Dutchman se enfrentando em meio a um redemoinho, acompanhamos todos os personagens em ações simultâneas e testemunhamos até mesmo uma inesperada cerimônia). Como se não bastasse, é impossível não admirar a elegância do plano final, que faz uma rima impecável com a introdução de Jack Sparrow no primeiro filme.
E mesmo que os filmes da série não sejam exatamente obras-primas, confesso que não me importaria de revisitar este universo e de reencontrar estes personagens no futuro. Aliás, não duvido nada que isso venha mesmo a acontecer.
Observação: Assim como nos longas anteriores, há uma cena adicional após os créditos finais. Não deixe de conferi-la!
24 de Maio de 2007
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