Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/11/2007 | 05/11/2007 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
115 minuto(s) |
Dirigido por Robert Zemeckis. Com: Ray Winstone, Anthony Hopkins, Angelina Jolie, Brendan Gleeson, Robin Wright Penn, John Malkovich, Crispin Glover, Alison Lohman.
Antes de qualquer coisa, uma confissão: acho o poema épico Beowulf (o mais antigo da língua inglesa) aborrecidíssimo, desinteressante e desconjuntado em sua estrutura. Embora seja cinco vezes menor do que A Ilíada de Homero, por exemplo, a história narrada pelos mais de 3 mil versos compostos por um autor anônimo há cerca de 11 séculos jamais me pareceu suficientemente cativante ou (principalmente) bem amarrada para merecer tamanha adoração – salvo seu valor histórico, obviamente. Curiosamente, em certos aspectos A Lenda de Beowulf, cujo roteiro foi escrito por Neil Gaiman e Roger Avary, apresenta boas alterações com relação ao original, como ao propor uma justificativa para os acontecimentos do terceiro ato do poema e para a falta de ação do monstro Grendel diante do rei Hrothgar, mas, de modo geral, também não consegue se tornar particularmente interessante como narrativa, o que é uma pena.
Ambientado no século 6 e num universo no qual ser chamado de “violador de virgens” representa um grande elogio, o filme tem início numa celebração encabeçada pelo rei Hrothgar (Hopkins) que acaba despertando a fúria de Grendel – que invade o salão e massacra vários membros da corte. Exausto, o rei promete metade do ouro de seu reino a quem derrotar o monstro, o que atrai o heróico Beowulf e seus valorosos guerreiros (embora ele demonstre ter mais interesse na glória trazida pela vitória do que no tesouro). Porém, a morte de Grendel nas mãos de Beowulf provoca a ira da mãe do monstro, que imediatamente se vinga de forma sangrenta, levando-a a um confronto com o herói que – e aqui o filme se distancia completamente do poema – sucumbe às tentações representadas pela criatura.
Este desvio criado por Gaiman e Avary, como já dito, traz algumas vantagens do ponto de vista estrutural (e já posso até ver os acadêmicos esmurrando a tela do computador ao lerem isso), especialmente no que diz respeito aos incidentes narrados depois de uma elipse de cinco décadas. Além disso, o Beowulf imaginado pela dupla é mais humano (e, portanto, falho) do que o herói irretocável do poema – algo que também me agrada, admito. Fanfarrão e arrogante, o protagonista não hesita em aumentar suas façanhas cada vez que volta a narrá-las, revelando também um incrível lado marqueteiro ao insistir em gritar o próprio nome a cada dez minutos (o que me fez lembrar do “Esparta!” berrado por Gerard Butler em 300. Butler que, por sinal, encarnou Beowulf
E este arco dramático é mais do que necessário
É lamentável, contudo, que o cineasta acabe exagerando em sua empolgação com a possibilidade de deslocar sua câmera por qualquer espaço, já que ele acaba investindo em movimentos que existem apenas para explorar a técnica, não apresentando qualquer função narrativa (como no momento em que ele realiza um travelling e passa no estreito espaço entre dois pedaços de madeira) – algo que tira o espectador do filme ao chamar sua atenção para a artificialidade da técnica. Da mesma maneira, consciente de que o longa também seria exibido em 3D, Zemeckis abusa dos planos nos quais um ou mais objetos são arremessados na direção do espectador, o que, mais uma vez, soa apenas como preocupação técnica, não se importando com as necessidades da história. Para piorar, o diretor aposta numa desastrosa cena ao estilo Austin Powers, diluindo a força da luta entre Beowulf e Grendel ao submeter o herói ao ridículo de lutar nu enquanto vários objetos ocultam estrategicamente seus órgãos genitais.
Contando com um design de produção maravilhoso que se espelha também na criação dos fantásticos cenários e locações virtuais, A Lenda de Beowulf é uma animação para adultos, já que, além da violência (diversos humanos sofrem mortes terríveis e o herói surge estripando várias criaturas), a conotação sexual da trama fica óbvia em vários momentos, atingindo o clímax (hum...) na cena em que a deliciosa criatura com o rosto e o corpo de Angelina Jolie acaricia despudoradamente a espada do herói, transformando-a em um líquido que escorre por suas mãos (Beowulf sofre de ejaculação precoce, pelo visto).
Refinando a técnica utilizada
Pecando também pela falta de um desenvolvimento maior de seus personagens (apenas Beowulf exibe um pequeno crescimento, embora seu braço direito Wiglaf, vivido por Brendan Gleeson, também se revele cativante), A Lenda de Beowulf chega a ser confuso com relação às intenções das figuras secundárias, como a mal aproveitada rainha Wealthow (Robin Wright Penn), a quase descartável Ursula (Lohman) e o indefinido Unferth, encarnado por John Malkovich com tamanha ambigüidade que continuamos a duvidar da sinceridade do sujeito mesmo quando este se mostra realmente interessado em ajudar o herói – algo que, mais uma vez, duvido ter sido intenção do diretor. Além disso, Unferth é empregado como uma muleta para que os roteiristas atirem a influência crescente do cristianismo na história, desperdiçando um subtexto que certamente enriqueceria a narrativa caso tivesse sido explorado com mais cuidado.
Empolgante em seu ato final (quando a ótima trilha de Alan Silvestri se entrega à grandiosidade exigida por um épico), A Lenda de Beowulf é um filme que vale mais pela experiência visual que representa do que pela história que conta – mas ao menos me fez perceber que talvez valha a pena reler o poema qualquer dia desses.
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