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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/12/2007 16/10/2007 2 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
113 minuto(s)

30 Dias de Noite
30 Days of Night

Dirigido por David Slade. Com: Josh Hartnett, Melissa George, Danny Huston, Ben Foster, Mark Boone Junior, Mark Rendall, Manu Bennett, Nathaniel Lees.

 

Um vilão inteligente e enigmático sempre enriquece o filme no qual se encontra – e por décadas os vampiros cumpriram esta função com charme ameaçador em boas obras que vão do Drácula de 1931 (apesar deste não ter envelhecido muito bem) a Blade 2, passando por Garotos Perdidos, A Hora do Espanto e A Sombra do Vampiro. Infelizmente, nos últimos anos as criaturas popularizadas por John Polidori e, posteriormente, por Bram Stoker não têm tido muita sorte no Cinema, como comprova este 30 Dias de Noite. Sem qualquer vestígio da sofisticação que exibiam no passado, os vampiros vistos aqui são pouco mais do que animais irracionais e desinteressantes, já que nem mesmo seus poucos (e dispensáveis) diálogos conseguem transformá-los em uma ameaça mais articulada do que o cão raivoso de Cujo ou Os Pássaros de Hitchcock.

 

Inspirado na graphic novel de Ben Templesmith e Steve Niles, o roteiro escrito por este último ao lado de Stuart Beattie (Colateral) e Brian Nelson (MeninaMá.com) parte de uma idéia promissora: a de que os vampiros, sempre avessos à luz do sol, optariam por atacar uma cidadezinha do Alasca que, todo ano, passa um mês na mais completa escuridão. Assim, quando o xerife Eben Oleson (Hartnett) descobre que, no último dia de sol, alguém destruiu todos os celulares do lugar, matou os cães que puxam trenós e sabotou o único helicóptero existente ali, não é muito difícil perceber o que está prestes a acontecer.

 

Rodado na Nova Zelândia, o longa é especialmente eficiente em seus esforços para estabelecer o isolamento da cidadezinha – e os planos abertos que revelam a brancura onipresente criam um tom particularmente opressivo e inquietante. Aliás, durante as quase (e excessivas) duas horas de projeção, o cineasta David Slade e seu diretor de fotografia Jo Willems criam algumas composições belíssimas e evocativas, como aquela em que vemos um homem olhando para um navio à distância e outra que traz um vampiro decapitado enrolado nas correntes de uma gangorra com duas cabanas de madeira ao fundo – quadros que, curiosamente, se beneficiam da artificialidade dos efeitos visuais utilizados para criá-los.

 

Evitando a montagem frenética que normalmente torna impossível, para o espectador, acompanhar o que está ocorrendo, 30 Dias de Noite permite que vejamos com clareza o ótimo trabalho de maquiagem que transforma os vampiros em criaturas com aspecto de ratazanas, com suas arcadas dentárias protuberantes, orelhas pontudas e globos oculares escuros. Da mesma maneira, a edição ajuda a ilustrar a rapidez destes predadores em seus ataques sem, com isso, descartar planos mais longos – como a excepcional tomada aérea que acompanha o caos que toma conta da cidade durante a invasão inicial dos vampiros. Em contrapartida, a passagem do tempo é indicada de maneira problemática: quando um letreiro surge informando o espectador de que aquele já é o sétimo dia de escuridão, o salto cronológico soa brusco – algo que, infelizmente, se repete mais algumas vezes durante a narrativa.

 

Sem jamais se deter nos efeitos psicológicos provocados por uma situação aterrorizante como a proposta pelo filme, o roteiro se mostra terrivelmente repetitivo e pouco imaginativo: vemos os personagens escondidos em algum lugar até que alguém decide se aventurar pelas ruas por um motivo qualquer, resultando numa seqüência de ação que novamente dá lugar aos personagens em um esconderijo. Para tentar justificar os 113 minutos de duração, o longa ainda tenta criar um draminha ou outro (como o sujeito que mata a família para evitar que esta sofra nas garras dos vampiros), mas estes esforços são irregulares e artificiais. Da mesma forma, as cenas em que Marlow, o vampiro-chefe vivido por Danny Huston (não me perguntem por que ele aceitou o papel, pois isto é inexplicável), demonstra curiosidade com relação à raça humana são pavorosamente ruins – e o máximo que os três roteiristas conseguem criar é uma fala na qual o monstro diz: “God? No God.”. Perto disso, Jason Voorhees é um exemplo de eloqüência.

 

Mas se Huston ao menos não se embaraça (ou não muito), o mesmo não pode ser dito sobre Ben Foster, que, apesar de talentoso (vide Os Indomáveis), geralmente exibe uma tendência preocupante ao histrionismo (vide Refém e Alpha Dog) – e aqui ele chega (literalmente!) a espumar ao interpretar uma versão grotesca do grotesco Renfield. Enquanto isso, Josh Hartnett tenta conferir intensidade a um personagem sem qualquer traço que o torne mais interessante, ao passo que Melissa George é um rosto bonito. Finalmente, Mark Boone Junior, como o irritadiço Beau Brower, até exibe certo carisma, mas qualquer tentativa de tornar o sujeito real é boicotada pela revelação de que este aparentemente é invulnerável a explosões (mais uma vez, não me perguntem).

 

Depois de sua estréia promissora na direção com o surpreendente MeninaMá.com, David Slade aqui prova sua disposição em ser um cineasta de aluguel. Nada contra: até mesmo Scorsese vem assumindo projetos encomendados por estúdio. Só falta Slade perceber que isto não implica em deixar a inteligência fora da equação.

 

05 de Dezembro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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