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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/07/2007 01/01/1970 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
138 minuto(s)

Harry Potter e a Ordem da Fênix
Harry Potter and the Order of the Phoenix

Dirigido por David Yates. Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Michael Gambon, Gary Oldman, Emma Thompson, Maggie Smith, Richard Griffiths, Fiona Shaw, Brendan Gleeson, George Harris, Natalia Tena, Bonnie Wright, Evanna Lynch, Katie Leung, Tom Felton, Matthew Lewis, David Thewlis, Julie Walters, Imelda Staunton, Jason Isaacs, Alan Rickman, Helena Bonham Carter, Robbie Coltrane, Ralph Fiennes.

Quanto mais avançamos na série Harry Potter, mais sombria esta fica – basta nos lembrarmos da alegria e do encantamento do personagem-título ao descobrir cada elemento fantástico do mundo bruxo no filme original para percebermos, por contraste, o desencantamento gradual de Harry com tudo que o cerca. Se antes o jovem bruxo mal continha a euforia por poder escapar dos Dursley, agora ele indubitavelmente percebe que há um preço alto a ser pago por sua liberdade: possivelmente sua própria vida. Da mesma maneira, o universo mágico criado por J.K. Rowling vem assumindo características cada vez mais incômodas: foi-se o tempo em que nos divertíamos ao vermos os bruxinhos correndo em direção à coluna que leva à plataforma 9½; agora, é mais provável que a interação entre os mundos “trouxa” e “bruxo” nos faça lembrar de Cidade das Sombras, que serve como referência óbvia na cena em que um prédio habitado por trouxas é transformado para abrir espaço ao Ministério da Magia sem que os humanos percebam o que está ocorrendo.

Foi-se, também, aquele Harry Potter de expressão extasiada dos primeiros filmes; em seu lugar, surge um rapaz amargurado que, influenciado pelas tragédias que testemunhou (e por seus hormônios em ebulição), apresenta-se sempre impaciente e nervoso – e para piorar sua situação, o confronto com Lorde Voldemort em O Cálice de Fogo transformou o garoto em centro absoluto das atenções, algo delicado para qualquer adolescente consciente de si mesmo. Como se não bastasse, A Ordem da Fênix (primeiro exemplar da série a ser adaptado por Michael Goldenberg, que substitui o habitual Steve Kloves) traz o mundo bruxo à beira de uma guerra, já que Você-Sabe-Quem, fortalecido e novamente poderoso, vem trabalhando com seus Comensais da Morte para tomar o poder – e é claro que Harry é uma peça importante nos planos do vilão.

Tornando-se o quarto cineasta a contribuir com a série, David Yates apresenta-se como uma escolha eficiente (ainda que inesperada) para comandar este quinto filme, já que sua experiência prévia – basicamente limitada a trabalhos para a tevê – revela sua familiaridade com temas essencialmente políticos, desde a série State of Play (que não vi) ao excepcional telefilme The Girl in the Café. E por que a série Harry Potter precisaria de alguém experiente em narrativas políticas? Porque A Ordem da Fênix tem, como núcleo dramático, o confronto entre Potter e o “Sistema”: sem querer aceitar o fato de que Voldemort retornou, o primeiro-ministro encarrega a ambiciosa Dolores Umbridge (Staunton) de supervisionar as atividades em Hogwarts – uma mera desculpa para tentar desacreditar Harry e seu mentor, o professor Alvo Dumbledore (Gambon). Para isso, os políticos empregam uma arma típica de seu arsenal, a mídia, utilizando-a para difamar seus inimigos. Além disso, Yates é hábil ao imprimir um tom de urgência ao filme – e (mais uma vez) ver Dumbledore nervoso ou impaciente é algo que já indica, para o espectador, a seriedade da situação (algo salientado também pela foto da formação original da Ordem da Fênix, já que somos informados de que a maior parte daquelas pessoas encontrou um fim trágico).

Com isso, pela primeira vez desde que a franquia teve início, um filme da série acaba revelando-se melhor do que o livro que o inspirou – algo que não seria difícil de alcançar, já que, particularmente, considero A Ordem da Fênix o mais fraco entre os seis livros já lançados, incluindo uma série de subtramas dispensáveis que dão a clara impressão de que Rowling estava enchendo lingüiça para aumentar o número de páginas (como referência para os fãs da escritora, meus favoritos entre seus livros são O Prisioneiro de Azkaban e O Enigma do Príncipe). O longa, em contrapartida, concentra-se nos pontos mais relevantes da trama, o que é ótimo, embora acabe falhando ao não conectá-los com mais fluidez, tornando a narrativa quase tão episódica quanto a de A Pedra Filosofal (e quando as aulas chegam ao fim, somos pegos de surpresa pela informação de que um ano se passou, já que a passagem do tempo jamais é retratada de maneira eficaz pelo filme). Para piorar, o roteiro exagera na utilização de manchetes de jornal para revelar acontecimentos importantes de forma rápida, aumentando ainda mais a sensação de que a história está saltando abruptamente de um ponto a outro. Por outro lado, é preciso reconhecer que a evolução dos treinamentos comandados por Harry é retratada com competência, ilustrando bem a habilidade cada vez maior de seus colegas da Armada de Dumbledore.

Preocupando-se bem mais com a trama do que com o desenvolvimento dos personagens, A Ordem da Fênix dedica mais tempo apenas a duas figuras: Dolores Umbridge e o próprio Harry. Encarnada por Staunton como uma criatura moralista, conservadora e sedenta de poder, Dolores é uma figura perigosa justamente por sempre manter um sorriso nos lábios e por agir como se tivesse apenas o interesse coletivo como prioridade. Daniel Radcliffe, por sua vez, concentra-se na instabilidade emocional de Potter, retratando com sensibilidade o processo de auto-conhecimento de um adolescente repleto de dúvidas sobre si mesmo. E se atores brilhantes como David Thewlis, Maggie Smith e Emma Thompson mal abrem a boca ao longo da projeção (aliás, que elenco!), Alan Rickman mais uma vez consegue transmitir toda a ambigüidade de Snape em poucas cenas – e um flashback protagonizado pelo personagem e pelo pai de Harry traz uma revelação fascinante sobre o passado dos dois bruxos, ajudando também a romper um pouco a aura de mártir beatificado de Tiago Potter (e a resultante complexidade do sujeito acaba beneficiando a série do ponto de vista dramático). Para completar, Yates demonstra ter feito o dever de casa ao incluir detalhes na interação dos personagens que certamente agradarão os fãs, como o olhar de Gina ao ver Harry caminhando em direção a Cho Chang.

Impressionante em seus aspectos técnicos (algo ao qual já nos acostumamos nesta série), A Ordem da Fênix encanta particularmente com sua direção de arte – a começar pelo imenso Ministério da Magia e passando pela sala rosada e enganosamente receptiva de Dolores Umbridge, culminando na imensa parede repleta de quadros com regras. Já os efeitos visuais se mostram relativamente inconstantes: se os “cavalos” esqueléticos que podem ser vistos apenas por quem já testemunhou a morte convencem em seu design e movimentos, outras criaturas digitais já não alcançam o mesmo sucesso – e o gigante Grope, com seus olhos sem vida, chega a ser menos convincente do que o troll do longa original. Da mesma forma, a sala de profecias que serve de palco para o terceiro ato traz um conceito visual fascinante, mas acaba se parecendo demais com o que é na realidade: um cenário virtual acrescentado sobre o green screen.

Emocionalmente inócuo, A Ordem da Fênix falha, ainda, justamente no mesmo quesito que prejudicava o livro: a morte de determinado personagem simplesmente não consegue provocar o impacto esperado, surgindo mais como um anti-clímax do que como um acontecimento dramático digno de nota. Em contrapartida, o duelo entre dois poderosos bruxos exibe uma intensidade admirável, além de transmitir muito bem o imenso poder dos dois combatentes.

Funcionando melhor em sua metade inicial, quando vemos um pouco da dinâmica entre o mundo dos bruxos e o dos trouxas (algo que merecia mais espaço), A Ordem da Fênix é indubitavelmente um bom filme, mas que acaba soando mais como preparativo para os acontecimentos dos dois últimos capítulos de uma série que, de um modo ou de outro, ainda não trouxe motivos reais para desapontamentos.

11 de Julho de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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