À primeira vista, Meninas Malvadas pode ser confundido com uma daquelas comédias adolescentes corriqueiras, que procuram fazer humor fácil através da utilização de estereótipos: afinal, temos aqui as líderes de torcida promíscuas e cruéis, os jogadores de futebol que as acompanham, os nerds, o diretor bobão e, é claro, a mocinha ingênua que quer conquistar `o sujeito mais bonito da escola`. Aos poucos, porém, o filme revela uma inteligência insuspeitada, e percebemos, então, que todas aquelas figuras estão satirizando os estereótipos – uma tarefa dificílima que o longa realiza com brilhantismo.

Inspirado em livro de Rosalind Wiseman, Meninas Malvadas gira em torno de Cady (Lohan), uma garota americana de 16 anos de idade que passou toda sua vida na África, onde os pais, zoólogos, trabalhavam. Voltando para os Estados Unidos, ela se prepara para freqüentar a escola pela primeira vez, já que sempre recebeu aulas particulares – mas, para sua surpresa, a jovem acaba descobrindo que o `ecossistema` do colégio pode ser mais selvagem do que tudo o que ela já vira ao lado dos pais. Assim, depois de se tornar mais uma vítima das três garotas mais populares da escola (e que são chamadas de `Plásticas`, provavelmente pelo estilo `Barbie` que adotam), Cady decide se vingar, dando início a um plano que poderá afetar todos os alunos da instituição.

Escrito por Tina Fey (atual redatora-chefe do programa Saturday Night Live), o roteiro desenvolve as situações de forma inteligente e engraçada, provocando o riso não só através de diálogos inspirados (`Eu sou vidente, tenho um quinto sentido!`), mas também de gags visuais que, além de hilárias, funcionam como uma crítica ácida ao fútil universo de uma sociedade consumista e alienada (e as constantes comparações dos alunos do colégio com primatas alcançam o ponto alto em uma seqüência surpreendente durante o terceiro ato). Além disso, Fey mantém-se fiel às características de seus personagens, utilizando a ingenuidade de Cady, por exemplo, em uma ótima piada envolvendo a escolha apropriada (e paradoxalmente incorreta) de uma fantasia para uma festa de Halloween.

Encabeçando o bom elenco, a jovem Lindsay Lohan (que já provara seu talento no apenas regular Sexta-feira Muito Louca) carrega o filme com segurança e conduz a mudança gradual no comportamento de Cady sem perder de vista a personalidade da garota (além de ser linda, o que é um bônus). Enquanto isso, Rachel McAdams, que já vivera personagem parecida no fraco Garota Veneno, cria uma vilã desprezível mas divertida: observe, por exemplo, sua expressão de choque quando, depois de dizer que precisa fazer dieta, se irrita ao perceber que as amigas se esqueceram de elogiar seu corpo. E, como não poderia deixar de acontecer em um longa produzido por Lorne Michaels, quatro veteranos do Saturday Night Live aparecem em pequenos papéis: além da roteirista Tina Fey (que vive de forma discreta uma professora de matemática), o filme traz ainda Ana Gasteyer, que pouco faz como a mãe de Cady; Amy Poehler, que protagoniza ótimos momentos como a mãe `moderninha` da `Plástica` Regina George; e Tim Meadows, que dá um show particular como o diretor Duvall.

Mesmo sem conseguir escapar dos inevitáveis clichês do gênero, que sempre apostam na união de todos, Meninas Malvadas surpreende o espectador, que, ao final da projeção, descobre que realmente se importou com aqueles personagens – inclusive os de plástico.