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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
18/02/2011 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
119 minuto(s)

O Besouro Verde
The Green Hornet

Dirigido por Michel Gondry. Com: Seth Rogen, Jay Chou, Cameron Diaz, Christoph Waltz, Tom Wilkinson, David Harbour, Edward James Olmos, Jamie Harris, Edward Furlong e James Franco.

Quem acompanha a carreira do cineasta francês Michel Gondry sabe que uma de suas maiores características é a inventividade visual: de Natureza Quase Humana a Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, passando por Rebobine, por Favor! e seu bom segmento em Tokyo!, Gondry sempre consegue encontrar maneiras criativas e surpreendentes de encantar o espectador, mesmo quando os filmes em si deixam a desejar - e não seria de espantar, por exemplo, se um dia ele lançasse um longa interrompido no meio apenas para cutucar seu público. Infelizmente, talvez por estar preso a um orçamento gigantesco e a uma produção controlada de perto pelos executivos da Columbia, ele falha pela primeira vez, neste Besouro Verde, em demonstrar sua genialidade, criando um longa que não só desaponta pelo roteiro, mas também (e aí o choque é maior) pela direção nada inspirada de seu realizador.

Escrito pelo astro Seth Rogen e por Evan Goldberg (seu parceiro de roteiro no ótimo Superbad) a partir dos personagens criados por George W. Trendle para o rádio na década de 30, o filme já começa de maneira profundamente falha ao trazer o protagonista na infância sendo oprimido pelo pai – que, saído diretamente de uma história de terror, arranca a cabeça do boneco favorito da criança a fim de provar sabe-se lá o quê. Depois do prólogo dispensável, a trama salta vinte anos no tempo para nos apresentar ao vilão, que ganha uma introdução com imenso potencial para divertir (graças à boa ponta de James Franco), mas que jamais cumpre esta promessa. A partir daí, passamos a acompanhar o multimilionário Britt Reid (Rogen) – e se Bruce Wayne se passa por um playboy fútil para evitar suspeitas sobre sua identidade secreta, Reid não precisa fingir, já que se trata mesmo de um babaca irresponsável, inconseqüente e imaturo. Ele é também a figura que deveremos acompanhar pelas duas horas seguintes.

Investindo numa trama absurda, mal estruturada e tola, Rogen e Goldberg falham em praticamente tudo que se propõem a fazer: o conflito entre Britt e o pai soa esquemático e artificial; o vilão, que deveria supostamente divertir em função de sua necessidade patológica de impressionar, surge apagado e desinteressante; e praticamente todas as relações entre os personagens apresentam-se rasas e aborrecidas. Por outro lado, como o forte da dupla de roteiristas (e especialmente de Rogen) é a comédia verbal, Besouro Verde mostra-se mais carregado de diálogos do que um roteiro de Tarantino – e quando os personagens não estão descrevendo o que acabou de acontecer na tela ou o que irá ocorrer, se entregam a piadas que, embora funcionem em vários momentos, revelam uma proporção de erros/acertos que tende ao negativo no final das contas. Enquanto isso, Rogen faz aquilo que está acostumado, falando ininterruptamente e berrando a maior parte de seus diálogos – e é espantoso que ninguém tenha decidido alterar o título do filme para Super Tagarela ou Kid Matraca.

O pior, porém, é que como já foi dito, o protagonista é um sujeito irritante e hipócrita, mesmo que os próprios roteiristas não percebam isso: caso contrário, como explicar que após passar a maior parte do tempo usando seu jornal para manipular as notícias, Britt se mostra chocado ao receber uma proposta do promotor Scanlon (Harbour) para fazer justamente o mesmo? E o mais espantoso é que raramente alguém condena abertamente as ações do milionário – e quando o fazem, é geralmente pelo motivo errado (como no instante em que Kato protesta diante da falta de planejamento do companheiro ou Lenore se irrita quando o chefe insiste em perguntar sobre seu passado).

Seja como for, Besouro Verde ao menos ganha um pouco de vida através da dinâmica entre Britt e Kato (Chou, com um sotaque carregadíssimo), que rende algumas boas risadas. Aliás, se há um momento em que o filme parece estar caminhando em uma direção interessante é quando Kato começa a se estabelecer como o verdadeiro herói da história – um conceito que o roteiro logo se encarrega de enterrar ao mostrá-lo sendo repetidamente salvo por Britt em instantes cruciais. Trazendo algumas boas homenagens a Bruce Lee (como seu golpe no peito com a mão espalmada e um desenho feito pelo personagem de Chou), o filme também explora com razoável competência as seqüências de luta, embora a capacidade de Kato de “desacelerar o tempo” (ou de se mover rápido demais para os oponentes) seja retratada de forma genérica, roubando elementos do recente Sherlock Holmes e das coreografias de Jackie Chan. Para finalizar, Cameron Diaz surge completamente desperdiçada, já que sua Lenore Case se apresenta como uma figura genérica de mocinha/assistente do herói, agindo de maneira igualmente babaca com o pobre Kato (caso contrário, como justificar que ela claramente o convide para um encontro apenas para reagir com choque diante dos avanços do sujeito?).

Mas realmente o mais decepcionante é perceber Michel Gondry dirigindo pela primeira vez em piloto automático e apelando até mesmo para o mais ultrapassado dos recursos cômicos, o fast forward, para tentar fazer graça com os movimentos acelerados dos personagens. Sem conseguir definir nem mesmo o tom da narrativa, o cineasta em certos instantes parece apostar numa atmosfera cartunesca apenas para, na cena seguinte, trazer um exemplo de violência gráfica e realista – e também chega a ser chocante a forma completamente desastrada com que o diretor comanda as várias seqüências de ação, transformando-as em um amontoado de planos desconexos que jamais permitem que o espectador compreenda o que está ocorrendo na tela. Sim, há um ou outro momento mais inspirado (como a fusão entre a mansão de Britt e o caixão do pai ou aquela outra em que as máscaras dos heróis são vistas pela primeira vez apenas para que estes surjam atrás delas), mas, de modo geral, estes exemplos são tão isolados que, quando ocorrem, chegam a despertar surpresa (como na seqüência que traz o protagonista raciocinando sobre a trama imbecil). Como se não bastasse, Gondry não consegue explorar o recurso do 3D de forma orgânica, destacando-se apenas por provavelmente ser o primeiro cineasta a usar o recurso da tela dividida neste formato e transformando cada quadro em uma caixa dentro da tela.

Guardando o clássico tema musical do Besouro Verde para os segundos finais da projeção – e, com isso, desperdiçando-o completamente -, o filme apresenta-se como uma besteira que pode até divertir ocasionalmente, mas que é tão vazio que acaba sendo merecidamente descartado e ignorado assim que

21 de Fevereiro de 2011

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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