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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/07/2004 07/05/2004 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
91 minuto(s)

No Pique de Nova York
New York Minute

Dirigido por Dennie Gordon. Com: Ashley Olsen, Mary-Kate Olsen, Eugene Levy, Andy Richter, Riley Smith, Jared Padalecki, Drew Pinsky, Darrell Hammond, Andrea Martin, Bob Saget, Jack Osbourne.

No Pique de Nova York conseguiu realizar uma façanha que eu julgava ser impossível: desbancar A Cartomante da posição de pior filme do ano. Produzido como um mero veículo para alavancar as vendas dos produtos `Gêmeas Olsen`, esta atrocidade poderia representar um embaraço para todos os envolvidos, caso estes tivessem algum senso de ridículo – o que, a julgar por este longa, não parece ser o caso.


Quando a história tem início, somos apresentados às irmãs Ryan: Jane é comportada, estudiosa e organizada, enquanto Roxy é... bom, o oposto, claro. (Gêmeos com personalidades radicalmente diferentes? Que novidade dramática incrível!) Enquanto a primeira está prestes a fazer um discurso acadêmico que pode lhe conseguir uma vaga em uma universidade prestigiada, a segunda decide participar das gravações de um videoclipe a fim de tentar entrar em contato com os produtores da banda, promovendo seu próprio CD. Porém, os planos da dupla são perturbados depois que (esperem um momento, vou respirar fundo para tentar conter o riso) uma gangue chinesa passa a perseguir as garotas, que desavisadamente carregam um `chip` que contém milhares de canções que vão ser gravadas em CDs piratas e vendidas no mercado negr... pfffff... (Gargalhadas. Desculpem, não consegui evitar.) Obviamente, o tempo que passam juntas leva Jane e Roxy a se conhecerem melhor, resgatando a amizade que fôra perdida com o tempo.

Pode parecer incrível, mas, mesmo contando com três roteiristas, o filme não consegue criar uma única situação ou piada interessante ao longo dos infindáveis 91 minutos de projeção. Em certo momento, por exemplo, somos obrigados a ver Jane e Roxy tentando abrir/fechar as janelas de uma limusine, o que, aparentemente, deveria ser engraçado, enquanto, mais tarde, a `piada` fica a cargo do nojo que a primeira sente ao entrar no banheiro de uma lanchonete. Sério... será que o trio Emily Fox, Adam Cooper e Bill Collage sequer tentou pensar em alguma coisa minimamente divertida? Ora, a partir do momento em que o grande obstáculo no caminho da protagonista é o fato desta ter perdido sua passagem de trem, torna-se claro que o roteiro está com problemas, não é mesmo?

Ah, mas jamais devemos subestimar a capacidade de Hollywood mergulhar ainda mais na fossa da mediocridade: além de sua falta de graça crônica, No Pique de Nova York ainda aposta suas fichas em uma infinidade de estereótipos raciais ofensivos, do dono da lanchonete aos donos do salão de beleza, passando, é claro, pelos gângsters orientais. Como se não bastasse, os roteiristas plagiam descaradamente várias gags de filmes como Um Tira da Pesada, Quem Vai Ficar com Mary?, Clube das Desquitadas, Escola de Rock, Matrix e Curtindo a Vida Adoidado, para citar apenas os exemplos mais evidentes.

Mas eu talvez esteja sendo injusto em culpar o roteiro pelos problemas do filme, quando, na realidade, é bastante claro que a mediocridade de No Pique de Nova York tem dois nomes e um sobrenome: Mary-Kate e Ashley Olsen (hum... Mary-Kate conta como um ou dois nomes?). Comecemos do básico: elas não possuem o menor talento como atrizes, o que fica patente pela voz frágil e insegura com que dizem suas falas (e o que é pior: elas chegam a cantar!!!). Além disso, elas procuram estabelecer a personalidade de suas personagens através de caricaturas: Roxy usa roupas rasgadas e cabelos rebeldes, enquanto Jane adota terninhos e usa óculos (os quais, vale dizer, desaparecem assim que cumprem sua função, já que Ashley Olsen, tipo, sei lá, não ia ficar usando aquele troço na cara o tempo inteiro, véi...).

A pergunta é: por que ninguém avisou as moças de que estavam fazendo papéis de ridículas? E a resposta explica por que No Pique de Nova York jamais poderia ter funcionado: as garotas, como donas da marca `Olsen` e produtoras do filme, detinham o `controle criativo` sobre o projeto. E o problema, neste caso, não diz respeito à idade da dupla (17 anos na época das filmagens), mas à sua absoluta falta de aptidão artística. As gêmeas Olsen são um fenômeno de mídia, pura e simplesmente. O talento passou longe da evolução de ambas – e o fato de aparecem usando apenas toalhas e roupas mínimas é uma indicação de que elas sabem disso, optando, então, por usarem os corpos como substitutos da formação profissional. Com relação à participação de Eugene Levy... bom, prefiro fingir que não aconteceu, que foi apenas uma ilusão coletiva dos espectadores de todo o mundo.

Incluindo um número musical (envolvendo a banda Simple Plan) que poderia perfeitamente ter saído do vergonhoso Um Show de Verão, este filme é uma evidência preocupante de como os executivos de Cinema americanos enxergam os adolescentes, suposto público-alvo desta produção. Considerando-se que No Pique de Nova York foi um fracasso retumbante de bilheteria, eles aparentemente estavam enganados.

Graças a Deus.

19 de Julho de 2004

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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