Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/04/2007 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
102 minuto(s) |
Como parte do acordo que viabilizou a compra da Pixar pela Disney, o cineasta John Lasseter, um dos mais brilhantes animadores de sua geração, tornou-se responsável por todo o departamento de animação da empresa simbolizada por Mickey Mouse, incluindo as divisões que utilizam as técnicas tradicionais em 2D. Co-fundador da Pixar e, portanto, um dos principais nomes por trás da revolução na animação 3D que teve início na segunda metade da década de 80, Lasseter já assina a produção executiva deste A Família do Futuro, que já estava praticamente em fase de finalização quando o contrato entre a Pixar e a Disney foi fechado. Ainda assim, creio não ser incorreto supor que Lasseter não se limitou apenas a colocar seu nome nos créditos; é bastante provável (levando em consideração sua conhecida ética de trabalho) que ele tenha interferido o quanto pôde na produção com o objetivo de melhorá-la ao máximo antes do lançamento – e talvez por esta razão A Família do Futuro seja tão superior à tentativa anterior da Disney na animação 3D: o irregular O Galinho Chicken Little.
Adaptado do livro de William Joyce por nada menos do que cinco roteiristas, o filme gira em torno de Lewis, um garotinho órfão que tem a mente de Jimmy Nêutron, o que freqüentemente o leva a espantar possíveis pais adotivos com suas invenções amalucadas. Sonhando em conhecer a mãe, ele cria uma máquina capaz de resgatar memórias adormecidas a fim de utilizá-la em si mesmo, mas seu trabalho é boicotado pelo misterioso Homem com Chapéu-coco. Desanimado, ele acaba conhecendo Wilbur, um garoto um pouco mais velho que alega ter vindo do futuro – e é lá que Lewis vai parar com o objetivo de recuperar sua invenção. Ao conhecer os excêntricos parentes de Wilbur, no entanto, o menino decide que aquela é a família que sempre desejou ter, sem imaginar que a situação é muito mais complicada do que supõe.
Dirigido pelo estreante Stephen J. Anderson, A Família do Futuro adota um ritmo frenético no qual as piadas vão se sucedendo sem pausa enquanto atiram para todos os lados – um estilo que me fez lembrar do excelente (e superior) A Nova Onda do Imperador (e, curiosamente, quando fui conferir os créditos anteriores de Anderson, constatei que este trabalhou como supervisor do argumento daquela produção). A seqüência
Já do ponto de vista técnico, A Família do Futuro revela-se claramente inferior às animações da Pixar, da PDI-Dreamworks (Shrek, O Espanta Tubarões) e até mesmo da BlueSky (A Era do Gelo, Robôs). O universo futurístico concebido pela direção de arte, em particular, decepciona por sua falta de funcionalidade: enquanto a Robópolis de Robôs impressionava pelo visual grandioso ao mesmo tempo em que demonstrava que cada peça daquela cidade tinha uma função a desempenhar, o futuro desta nova produção traz uma metrópole cheia de cores e edifícios estilizados, mas que desaponta por ser apenas bonita – o que, além de tudo, atrapalha a tentativa do roteiro de estabelecer Cornélius Robinson, pai de Wilbur, como um inventor que revolucionou o mundo com suas máquinas. Por outro lado, é divertido perceber como uma tecnologia capaz de usar bolhas flutuantes para o transporte público não conseguiu criar uma alternativa mais prática para estourá-las do que uma mão gigante (uma contradição obviamente intencional – e inspirada – por parte dos realizadores).
E se a animação de O Galinho Chicken Little pecava pontualmente por sua falta de fluidez, quando os personagens moviam deselegantemente como se fosse marionetes, desta vez os resultados são visivelmente superiores – e a evolução técnica do estúdio permitiu até mesmo que os animadores incluíssem brincadeiras divertidas em seu trabalho, como no momento em que o professor brutamontes de Educação Física contrai os músculos peitorais apenas para se exibir. Em contrapartida, o design de alguns personagens incomoda pela semelhança com as criações de outras produtoras: o robô da família Robinson, por exemplo, é praticamente idêntico a Herb, o pai de Rodney Lataria em Robôs, mudando apenas sua cor de azul para dourado. Já os sapos treinados pela mãe de Wilbur lembram bastante àqueles vistos em Por Água Abaixo (que, por sua vez, eram parecidíssimos com o sapo investigador de Deu a Louca na Chapeuzinho). E posso até estar ficando paranóico, mas Lewis não parece uma versão humana de Chicken Little?
Contando uma história que talvez se torne complicada demais para as crianças menores ao longo do terceiro ato, quando começa a brincar com realidades alternativas, A Família do Futuro traz duas músicas pavorosamente ruins de Danny Elfman, um compositor terrivelmente irregular que já criou verdadeiras obras-primas, mas também torturou espectadores com canções horrorosas (como ocorre aqui). Aliás, não me espantarei caso John Lasseter passe a empregar o infinitamente mais confiável Randy Newman na maioria das produções que vier a supervisionar na Disney.
Apesar de ficar bem abaixo do padrão Pixar de qualidade (e não custa lembrar que ele é da Disney, no final das contas), A Família do Futuro é suficientemente divertido para funcionar como um ótimo passatempo. E pelo menos representa um mais do que necessário descanso das animações digitais protagonizadas por animais falantes que tomaram conta dos cinemas nos últimos dois anos.
06 de Abril de 2007
Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!