Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
27/01/2006 | 25/12/2005 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
134 minuto(s) |
Dirigido por Susan Stroman. Com: Nathan Lane, Matthew Broderick, Uma Thurman, Will Ferrell, Roger Bart, Gary Beach, Debra Monk, Jon Lovitz, Richard Kind, Michael McKean, Mel Brooks.
É triste (mas inevitável) reconhecer que, com onze longas-metragens em seu currículo, Mel Brooks viveu sua melhor fase profissional justamente em seus primeiros anos, começando em 1968, com Primavera para Hitler, e encerrando em 1974, quando lançou os geniais Banzé no Oeste e O Jovem Frankenstein (neste período, ele também comandou o irregular Banzé na Rússia, que, apesar de seus defeitos, era infinitamente melhor do que S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço ou Drácula: Morto Mas Feliz, que Brooks dirigiria anos depois). Posteriormente convertido em um espetáculo musical de imenso sucesso na Broadway, Primavera para Hitler agora volta às telas em uma refilmagem que combina elementos do original (estrelado por Zero Mostel e Gene Wilder) e os números musicais criados para o palco, resultando em uma produção que prova, de forma definitiva, que os melhores anos de Mel Brooks infelizmente já ficaram mesmo para trás.
Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original em 69, o texto concebido por Brooks gira em torno de um produtor fracassado da Broadway, Max Bialystock (antes Mostel, agora Nathan Lane), que certo dia conhece um neurótico contador, Leo Bloom (Wilder em 68, Matthew Broderick em 2005), com o qual desenvolve um plano curioso: realizar um espetáculo desastroso que, de tão ruim, seja cancelado já na noite de estréia. Com isso, os dois poderão levantar uma verba milionária para o projeto, vendendo muito mais cotas para patrocinadores do que os 100% permitidos pela matemática – como o show será um fracasso, eles não terão que justificar os gastos e poderão embolsar a maior parte do dinheiro. Ou, pelo menos, é o que pretendem fazer. Assim, eles selecionam um texto pavoroso escrito por um nazista que agora mora em Nova York, contratam um diretor determinado a conferir toques afeminados ao espetáculo e selecionam o pior ator que conseguem para viver o personagem principal da peça: Adolf Hitler.
De modo geral, Os Produtores conta com o estilo excêntrico do humor histérico de Mel Brooks: os personagem gritam com freqüência, fazem muitas caretas (o olhar vesgo é quase uma marca registrada dos filmes do diretor) e agem de forma pouco lógica. Porém, além de soar anacrônica, esta forma de fazer humor é adotada de maneira artificial pela diretora estreante Susan Stroman, que parece captar a forma de Brooks, mas não sua essência, numa cópia pálida do original. Responsável pelo sucesso da versão musical para os palcos, Stroman não se mostra muito à vontade com os recursos que o Cinema lhe oferece, o que também prejudica imensamente esta refilmagem: durante os números musicais, por exemplo, ela apela insistentemente para longos planos conjuntos, como se a câmera representasse o olhar de alguém sentado em uma platéia de teatro; em vez de mergulhar nos números e transformar a câmera em participante ativa da coreografia, a cineasta simplesmente permanece como observadora externa, o que é lamentável. Enquanto isso, nas cenas de diálogos, Stroman constantemente salta, de forma abrupta, de planos abertos para closes fechadíssimos que buscam salientar uma careta ou uma piadinha, o que, além de deselegante, é pouco eficaz.
Enquanto isso, os números musicais em si acabam se revelando pouco inspirados, já que nem as canções nem as coreografias trazem algo de especial (podiam funcionar muito bem no palco, mas Cinema tem suas exigências particulares; é preciso muito mais para impressionar o público, que tem acesso a cada detalhe do que está ocorrendo em cena). Para piorar, a abordagem de Stroman é ultrapassada, ignorando a evolução dos musicais e retornando ao estilo dos anos 50, com direito até mesmo a holofotes acompanhando os dançarinos durante as coreografias – o que, inevitavelmente, provoca uma comparação desfavorável, já que Nathan Lane e Matthew Broderick estão longe de possuir a graça de um Gene Kelly ou de um Fred Astaire. Os únicos momentos em que Os Produtores ganha vida, aliás, são aqueles em que Stroman consegue utilizar os recursos cênicos de forma mais dinâmica, como nos números das `velhinhas` e dos `contadores` – e, ainda assim, as fracas melodias e as letras óbvias prejudicam o resultado final.
Outro equívoco grave da diretora é ignorar a diferença básica entre atuação para Teatro e Cinema: nos palcos, um ator geralmente deve adotar gestos grandiosos e expressões marcadas a fim de transmitir a emoção do personagem para o espectador, que está impossibilitado de perceber nuances de interpretação. O problema é que Stroman parece estimular seu elenco a atuar desta maneira, esquecendo que a câmera tem a tendência de engrandecer os movimentos – e, assim, torna-se constrangedor ver Matthew Broderick em uma performance caricata e artificial (é interessante observar como Gene Wilder, mestre dos ataques histéricos, conseguia encontrar a medida certa para seus histrionismos, enquanto Broderick soa apenas forçado e sem graça). Já Nathan Lane se sai bem melhor, retratando Max Bialystock não como um mero canalha, mas como um indivíduo patético e sonhador que conquista nossa simpatia (e seu penteado sobre a careca é uma boa homenagem a Zero Mostel). Enquanto isso, Uma Thurman e Will Ferrell se saem relativamente bem em seus papéis, já que vivem tipos bem marcados, sem muita margem para erros. No entanto, o destaque desta refilmagem fica mesmo por conta de Gary Beach e Roger Bart, que, como o diretor Roger De Bris e seu assistente Carmen Ghia, criam personagens hilariantes, ainda que, sim, caricatos – ao menos, eles conferem energia às suas performances, algo que falta a Broderick.
Comprometendo Os Produtores ainda mais, as alterações feitas por Mel Brooks e Thomas Meehan com relação ao roteiro original se revelam infelizes, a começar pelo novo final, que força uma conclusão mais `feliz` do que a do original, que era perfeita (é curioso perceber que, desta forma, Brooks e Meehan fazem exatamente aquilo que parecem criticar através do personagem Roger De Bris, que denuncia a própria mediocridade ao insistir em finais felizes. Eu até gostaria de acreditar que isto é uma brincadeira metalingüística dos roteiristas, mas duvido que assim seja: é mais provável que não tenham percebido a contradição.). Além disso, esta refilmagem comete o pecado mortal de eliminar o número `Love Power`, que representava o melhor momento do original ao trazer Dick Shawn como um ator hippie de meia-idade que, cantando um `hino` à paz típico dos anos 60, conquistava o direito de viver Hitler como um `bicho-grilo` saído de Woodstock (aqui, o nazista é transformado em um sujeito afeminado, substituindo a ironia do original por uma piada fácil).
Bem mais longo do que o ideal, o filme ainda se dá ao luxo de incluir uma cena absolutamente descartável na qual o personagem de Lane recapitula tudo o que ocorreu até aquele momento, esgotando de vez a paciência do espectador. Assim, o fato é que Os Produtores revela-se um projeto totalmente descartável: quando se atém aos diálogos, é uma imitação pobre do original; quando parte para os números musicais, soa sem vida e datado. Na verdade, esta refilmagem poderia perfeitamente ter sido produzida pelo próprio Max Bialystock.
Observação: Você não acha que Mel Brooks deixaria de fazer uma ponta no filme, não é mesmo? Então aguarde até o pequeno número que surge após os créditos finais para ver o diretor.
29 de Dezembro de 2005
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