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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/01/2005 01/01/2004 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
95 minuto(s)

Casa dos Bebês
Casa de Los Babys

Dirigido por John Sayles. Com: Marcia Gay Harden, Lili Taylor, Mary Steenburgen, Rita Moreno, Daryl Hannah, Maggie Gyllenhaal, Susan Lynch, Vanessa Martinez, Pedro Armendáriz Jr., Martha Higareda.

Casa dos Bebês, escrito e dirigido por um dos ícones do cinema independente americano, John Sayles, é um filme que tenta desesperadamente fazer algum tipo de comentário social ou político sobre um tema complexo e importante, mas que, infelizmente, parece não saber como ou mesmo o que dizer. Seus personagens enfrentam situações moralmente complicadas, é verdade, mas em nenhum momento o longa se esforça para esclarecer quais as motivações de cada uma destas pessoas.

Ambientado no México (na realidade, o país jamais é identificado, mas as referências são claras), o filme se concentra em seis mulheres (cinco norte-americanas e uma irlandesa) que, inférteis e desanimadas com a burocracia para adotar uma criança em seu próprio país, contratam os serviços de um advogado mexicano que lhes promete uma adoção rápida e sem grandes problemas. Porém, para isso elas devem se mudar temporariamente para a pousada administrada justamente pela irmã do sujeito (Rita Moreno!) enquanto aguardam a finalização do processo. À medida que o tempo passa, elas vão se conhecendo melhor e se tornam próximas, já que, com a ausência dos maridos (que permaneceram nos Estados Unidos), encontram-se isoladas de tudo e de todos.

Donas de histórias pessoais bastante diferentes, as seis mulheres atravessam a narrativa trocando idéias sobre diversos assuntos, mas, lamentavelmente, o roteiro de Sayles jamais consegue transformá-las – mesmo com as ótimas performances de suas intérpretes - em algo mais do que simples caricaturas: assim, temos a esnobe preconceituosa vivida por Marcia Gay Harden, a riquinha alienada de Maggie Gyllenhaal, a humilde e sensível irlandesa de Susan Lynch e a intelectual contestadora de Lili Taylor, além da boazinha ex-alcoólatra de Mary Steenburgen e a atleta naturalista de Daryl Hannah (a única que revela algum grau de complexidade ao longo da projeção, especialmente em uma cena belíssima na qual descobrimos um pouco mais sobre seu trágico passado).

Ora, em vez de se limitar a estabelecer cada personagem através de uma característica dominante, por que Sayles – normalmente um cineasta bem mais sutil – não se preocupou em investigar os motivos que levaram cada uma daquelas mulheres até ali? Sim, sabemos que a editora interpretada por Taylor está `cansada dos homens` e quer transformar sua futura filha em uma jovem independente, mas como ela chegou à conclusão de que ser mãe seria a resposta para seus anseios atuais? Da mesma forma, sabemos que Nan (Harden) parece mentir sobre sua formação acadêmica e a profissão do marido, mas jamais descobrimos o porquê. O máximo que Sayles nos oferece são tipos, não indivíduos, o que é no mínimo decepcionante.

Como se não bastasse, o cineasta ainda investe em uma série de subtramas paralelas que contribuem apenas para deixar o roteiro ainda com menos foco em seus temas principais, já que os 95 minutos de projeção revelam-se insuficientes para o desenvolvimento de tantos personagens (as seis protagonistas já ofereciam material mais do que suficiente para a duração do filme). Afinal de contas, qual é a função narrativa do filho comunista da dona da pousada ou do sujeito desempregado que deposita suas esperanças em um bilhete de loteria? Aliás, até mesmo a adolescente grávida e os garotos de rua, que deveriam servir como elementos adicionais na discussão sobre o contrabando de crianças, são pobremente explorados pelo diretor, que parece não saber o que fazer com eles. Para piorar, em certo momento Sayles simplesmente se cansa da história, abandonando suas criações sem maiores justificativas.

Desta forma, Casa dos Bebês desperdiça uma importante oportunidade de discutir a ética do sistema de adoção americano e sua contraparte mexicana, o absurdo da burocracia envolvida no processo e, é claro, a corrupção que se espalha de alto a baixo pelo sistema. Por outro lado, Sayles até ensaia um questionamento sobre a necessidade de se encontrar um lar para todas aquelas crianças abandonadas em função da miséria de seus pais e da falta de um programa eficiente de planejamento familiar, mas sua abordagem é tão tímida que poderá até mesmo passar desapercebida por boa parte dos espectadores.

Ainda assim, o longa conta com seus bons momentos: além da já citada cena envolvendo Daryl Hannah, há uma comovente conversa entre as personagens de Susan Lynch e Vanessa Martinez, durante a qual cada uma expõe seus sentimentos de forma tocante mesmo sabendo que a outra não está compreendo uma palavra sequer do que está sendo dito – é o tom do discurso, mais do que seu conteúdo, que consegue transmitir exatamente a dor destas mulheres (e é importante constatar, também, a brutal diferença de suas realidades, já que a exposição do `sonho` da irlandesa Eileen é contraposta pela dura realidade do universo da mexicana Asunción).

Infelizmente, estes momentos de maior inspiração não são suficientes para fazer jus à carreira de John Sayles, às belas atuações de seu elenco e tampouco ao importante tema de seu filme.
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05 de Janeiro de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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