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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
10/06/2005 07/06/2005 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
120 minuto(s)

Direção

Doug Liman

Elenco

Brad Pitt , Angelina Jolie , Vince Vaughn , Kerry Washington , Adam Brody , Keith David , Michelle Monaghan , William Fichtner

Roteiro

Simon Kinberg

Produção

Lucas Foster

Fotografia

Bojan Bazelli

Música

John Powell

Montagem

Michael Tronick

Design de Produção

Jeff Mann

Figurino

Michael Kaplan

Direção de Arte

Keith Neely

Sr. e Sra. Smith
Mr. and Mrs. Smith

Dirigido por Doug Liman. Com: Brad Pitt, Angelina Jolie, Vince Vaughn, Kerry Washington, Adam Brody, Keith David, Michelle Monaghan, William Fichtner (voz).

Perdida em algum lugar de Sr. & Sra. Smith há uma ótima comédia sobre as diferenças fundamentais entre homens e mulheres; as dificuldades que todo casamento enfrenta, em parte, graças a estas diferenças; e como cada sexo enfrenta estes obstáculos à sua própria maneira. Aliás, acabo de me lembrar de que este filme já existe e se chama A Guerra dos Roses.

Não que este veículo para a beleza de Brad Pitt e Angelina Jolie seja um desastre, pois não é: ao seu modo, Sr. & Sra. Smith possui até um certo charme, embora este nada deva ao péssimo roteiro escrito por Simon Kinberg, autor do pavoroso xXx 2: Estado de Emergência e que se orgulha de ter sido script doctor de bombas como Elektra e As Panteras Detonando (ao que parece, ele não é um `médico` dos melhores). Dirigida por Doug Liman, a história aborda, depois de uma longa introdução, os conflitos entre John Smith e sua esposa Jane, casados `há cinco ou seis anos`, depois que descobrem que seguem a mesma carreira, a de assassinos profissionais. Trabalhando para `agências` rivais, eles recebem a tarefa de matar um ao outro, o que, é claro, não ajuda em nada o casamento já em crise.

Antes de tudo, devo reconhecer o óbvio: a trama concebida por Kinberg é simplesmente absurda. O conceito de agências altamente sofisticadas de matadores profissionais jamais é desenvolvido de forma a fazer algum sentido, soando como uma mistura da S.P.E.C.T.R.E. dos antigos filmes estrelados por James Bond e do serviço de inteligência que emprega os `Pequenos Espiões` de Robert Rodriguez. E o fato das duas `agências` se estabelecerem como rivais dispostas a eliminar a concorrência torna ainda mais difícil compreender como podem ter conseguido crescer tanto (a ponto de contarem com verdadeiros exércitos) sem jamais chamarem a atenção do governo ou da mídia. E a motivação e os meios para ordenarem a morte dos personagens de Pitt e Jolie soam ainda mais ridículos do que se pode imaginar a princípio.

Porém, ainda que o fiapo de roteiro represente um grave problema, a verdade é que Sr. & Sra. Smith não é um filme preocupado com trama ou coerência: a principal razão de ser deste projeto é a aparência do casal de protagonistas, bem como a dinâmica entre estes. Neste sentido, o longa é um sucesso: Brad Pitt e Angelina Jolie realmente funcionam muitíssimo bem na tela, exibindo uma ótima química e demonstrando que, às vezes, o glamour é um fim em si mesmo. Individualmente, no entanto, os resultados alcançados pela dupla são um pouco diferentes: Jolie, de modo geral, parece mais preocupada em exibir sua perfeição física e sensualidade do que, propriamente, em construir uma personagem, enquanto Pitt, bem mais talentoso, compreende estar numa comédia e evita se levar a sério, aproveitando qualquer oportunidade que surge para provocar o riso através de expressões faciais, corporais e da irreverente forma com que diz suas falas (aliás, ele já havia revelado seu ótimo timing cômico em filmes como Os 12 Macacos, Snatch, A Mexicana e Onze Homens e um Segredo).

Em contrapartida, Sr. & Sra. Smith desperdiça uma boa fonte de piadas ao ignorar um elemento que é apenas insinuado pelo roteiro: o fato de Jane ser claramente mais eficiente como assassina do que o marido. Há instantes em que o filme até parece preparar gags sobre o assunto, mas estas jamais surgem na tela – ao menos, não de forma direta. Isto talvez seja motivado pelo sexismo evidente de Kinberg, que leva John a freqüentemente correr em auxílio da esposa (embora, como já falei, esta seja obviamente mais capaz). Além disso, embora crie uma `agência` povoada apenas por mulheres, o roteirista não consegue evitar o impulso de fazer com que estas sejam subordinas a uma figura masculina sintomaticamente batizada como `o Pai`.

Procurando estabelecer um ritmo de narrativa acelerado, o talentoso diretor Doug Liman consegue manter o espectador atento e – o mais importante – distraído o bastante para não perceber a fragilidade do roteiro (isto é, até que comecemos a pensar sobre o filme ao sairmos do cinema): a seqüência da perseguição de carros, em particular, é eficiente e criativa, mesmo que não chegue aos pés daquela que Liman orquestrou em A Identidade Bourne. Por outro lado, nem mesmo o cineasta consegue criar um centro dramático que confira peso às aventuras do casal Smith, o que seria fundamental para que realmente temêssemos pela sorte da dupla. Vale dizer, a propósito, que o oscilante grau de fantasia adotado pelo roteiro elimina qualquer tensão possível: logo depois de eliminar alguns inimigos ao atingi-los com facas, por exemplo, Jane acerta a perna do marido, que apenas faz cara de aborrecimento e a retira do ferimento, que parece não sangrar ou doer. Desta maneira, não há como levar os problemas dos heróis a sério. (E a referência gritante a Butch Cassidy and the Sundance Kid é inexplicável, considerando-se o absurdo que se segue à cena na `cabana`.)

Terminando de forma súbita e insatisfatória, Sr. & Sra. Smith é um passatempo descartável: tem sua parcela de momentos engraçados, é verdade, mas confia demais no charme de Brad Pitt e Angelina Jolie para funcionar, faltando-lhe substância. Basta dizer que o filme provavelmente seria um desastre completo caso contasse com uma dupla de protagonistas menos carismática. Imaginem, por exemplo, a porcaria que seria caso fosse estrelado por Ben Affleck e Jennifer Lopez.

Aliás, acabo de me lembrar de que este filme já existe e se chama Contato de Risco.
``

12 de Junho de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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