Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/06/2005 | 07/06/2005 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
120 minuto(s) |
Dirigido por Doug Liman. Com: Brad Pitt, Angelina Jolie, Vince Vaughn, Kerry Washington, Adam Brody, Keith David, Michelle Monaghan, William Fichtner (voz).
Perdida em algum lugar de Sr. & Sra. Smith há uma ótima comédia sobre as diferenças fundamentais entre homens e mulheres; as dificuldades que todo casamento enfrenta, em parte, graças a estas diferenças; e como cada sexo enfrenta estes obstáculos à sua própria maneira. Aliás, acabo de me lembrar de que este filme já existe e se chama A Guerra dos Roses.
Não que este veículo para a beleza de Brad Pitt e Angelina Jolie seja um desastre, pois não é: ao seu modo, Sr. & Sra. Smith possui até um certo charme, embora este nada deva ao péssimo roteiro escrito por Simon Kinberg, autor do pavoroso xXx 2: Estado de Emergência e que se orgulha de ter sido script doctor de bombas como Elektra e As Panteras Detonando (ao que parece, ele não é um `médico` dos melhores). Dirigida por Doug Liman, a história aborda, depois de uma longa introdução, os conflitos entre John Smith e sua esposa Jane, casados `há cinco ou seis anos`, depois que descobrem que seguem a mesma carreira, a de assassinos profissionais. Trabalhando para `agências` rivais, eles recebem a tarefa de matar um ao outro, o que, é claro, não ajuda em nada o casamento já em crise.
Antes de tudo, devo reconhecer o óbvio: a trama concebida por Kinberg é simplesmente absurda. O conceito de agências altamente sofisticadas de matadores profissionais jamais é desenvolvido de forma a fazer algum sentido, soando como uma mistura da S.P.E.C.T.R.E. dos antigos filmes estrelados por James Bond e do serviço de inteligência que emprega os `Pequenos Espiões` de Robert Rodriguez. E o fato das duas `agências` se estabelecerem como rivais dispostas a eliminar a concorrência torna ainda mais difícil compreender como podem ter conseguido crescer tanto (a ponto de contarem com verdadeiros exércitos) sem jamais chamarem a atenção do governo ou da mídia. E a motivação e os meios para ordenarem a morte dos personagens de Pitt e Jolie soam ainda mais ridículos do que se pode imaginar a princípio.
Porém, ainda que o fiapo de roteiro represente um grave problema, a verdade é que Sr. & Sra. Smith não é um filme preocupado com trama ou coerência: a principal razão de ser deste projeto é a aparência do casal de protagonistas, bem como a dinâmica entre estes. Neste sentido, o longa é um sucesso: Brad Pitt e Angelina Jolie realmente funcionam muitíssimo bem na tela, exibindo uma ótima química e demonstrando que, às vezes, o glamour é um fim em si mesmo. Individualmente, no entanto, os resultados alcançados pela dupla são um pouco diferentes: Jolie, de modo geral, parece mais preocupada em exibir sua perfeição física e sensualidade do que, propriamente, em construir uma personagem, enquanto Pitt, bem mais talentoso, compreende estar numa comédia e evita se levar a sério, aproveitando qualquer oportunidade que surge para provocar o riso através de expressões faciais, corporais e da irreverente forma com que diz suas falas (aliás, ele já havia revelado seu ótimo timing cômico em filmes como Os 12 Macacos, Snatch, A Mexicana e Onze Homens e um Segredo).
Em contrapartida, Sr. & Sra. Smith desperdiça uma boa fonte de piadas ao ignorar um elemento que é apenas insinuado pelo roteiro: o fato de Jane ser claramente mais eficiente como assassina do que o marido. Há instantes em que o filme até parece preparar gags sobre o assunto, mas estas jamais surgem na tela – ao menos, não de forma direta. Isto talvez seja motivado pelo sexismo evidente de Kinberg, que leva John a freqüentemente correr em auxílio da esposa (embora, como já falei, esta seja obviamente mais capaz). Além disso, embora crie uma `agência` povoada apenas por mulheres, o roteirista não consegue evitar o impulso de fazer com que estas sejam subordinas a uma figura masculina sintomaticamente batizada como `o Pai`.
Procurando estabelecer um ritmo de narrativa acelerado, o talentoso diretor Doug Liman consegue manter o espectador atento e – o mais importante – distraído o bastante para não perceber a fragilidade do roteiro (isto é, até que comecemos a pensar sobre o filme ao sairmos do cinema): a seqüência da perseguição de carros, em particular, é eficiente e criativa, mesmo que não chegue aos pés daquela que Liman orquestrou em A Identidade Bourne. Por outro lado, nem mesmo o cineasta consegue criar um centro dramático que confira peso às aventuras do casal Smith, o que seria fundamental para que realmente temêssemos pela sorte da dupla. Vale dizer, a propósito, que o oscilante grau de fantasia adotado pelo roteiro elimina qualquer tensão possível: logo depois de eliminar alguns inimigos ao atingi-los com facas, por exemplo, Jane acerta a perna do marido, que apenas faz cara de aborrecimento e a retira do ferimento, que parece não sangrar ou doer. Desta maneira, não há como levar os problemas dos heróis a sério. (E a referência gritante a Butch Cassidy and the Sundance Kid é inexplicável, considerando-se o absurdo que se segue à cena na `cabana`.)
Terminando de forma súbita e insatisfatória, Sr. & Sra. Smith é um passatempo descartável: tem sua parcela de momentos engraçados, é verdade, mas confia demais no charme de Brad Pitt e Angelina Jolie para funcionar, faltando-lhe substância. Basta dizer que o filme provavelmente seria um desastre completo caso contasse com uma dupla de protagonistas menos carismática. Imaginem, por exemplo, a porcaria que seria caso fosse estrelado por Ben Affleck e Jennifer Lopez.
Aliás, acabo de me lembrar de que este filme já existe e se chama Contato de Risco.
12 de Junho de 2005
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