Ao longo dos últimos dez meses, nada menos do que quatro filmes estrelados por Ben Stiller chegaram aos cinemas americanos: Duplex, Quero Ficar com Polly, Starsky & Hutch e este A Inveja Mata. Porém, se incluirmos produções nas quais o comediante aparece em papéis menores (O Âncora e Com a Bola Toda), o número sobe para seis. Considerando-se que 2004 ainda trará o lançamento de Meet the Fockers, continuação de Entrando numa Fria, Stiller deveria se preocupar com a superexposição que vem sofrendo e que já está prejudicando sua carreira.

Aqui, ele interpreta Tim Dingman, um sujeito contido que mora em uma daquelas vizinhanças deprimentes cercadas por fios de alta tensão e sobre as quais passam aviões que acabaram de decolar do (ou que estão pousando no) aeroporto localizado nas proximidades. Seu vizinho - e melhor amigo – é Nick Vanderpark (Jack Black) e ambos trabalham na mesma empresa em cargos nada invejáveis. Enquanto Tim se destaca graças à sua dedicação, Nick passa os dias bolando idéias malucas que irão `enriquecê-lo` magicamente – até que finalmente isto se torna realidade graças à invenção do `Va-poo-rizer`, um spray capaz de fazer as fezes dos animais desaparecerem instantaneamente, facilitando a vida dos donos de cães e gatos em todo o mundo. No entanto, como Tim havia se negado a participar do projeto, por acreditar que a idéia de Nick não daria certo, agora é obrigado a testemunhar, com inveja, o luxo no qual o amigo passou a viver.

Pela segunda vez em 2004, Stiller vive um personagem que, em determinado momento, mata um cavalo – com a diferença que, se em Starsky & Hutch o incidente era um detalhe da trama, em A Inveja Mata acaba assumindo exagerada importância. Na realidade, boa parte do filme diz respeito aos esforços feitos por Tim para esconder de Nick (dono do cavalo) o que houve com o animal, o que representa um erro grosseiro do roteiro escrito pelo estreante Steve Adams. Além disso, a história é excessivamente previsível e repleta de gags sem a menor graça, como a longa seqüência do carrossel em alta velocidade (é difícil acreditar que alguém realmente pensou que o público riria daquilo). Barry Levinson nunca foi um bom diretor de comédias (Bom Dia, Vietnã deve seu sucesso a Robin Williams), mas aqui ele definitivamente atinge o fundo do poço.

Outro que se mostra pouco à vontade é Jack Black: forçado a abandonar sua marca registrada (a energia imensa que confere aos seus personagens), o ator parece não saber o que fazer com Nick, que oscila entre o histrionismo e a apatia – e o jeito `engraçadinho` com que Black corre, em alguns momentos, soa apenas artificial, e não divertido. Já Ben Stiller vive mais uma vez um indivíduo neurótico e reprimido que, em certo instante, perde a calma e revela um temperamento explosivo, o que, convenhamos, já se tornou um pouco cansativo. (Ainda assim, Stiller protagoniza a melhor cena de A Inveja Mata: um monólogo de vários minutos no qual seu personagem desabafa suas frustrações e que se torna cada vez mais absurdo – uma prova inconteste do impecável timing cômico do ator).

E se você lamentou a participação de Christopher Walken em bombas como Canguru Jack e Bem-vindo à Selva, uma boa notícia: em A Inveja Mata, o ator oferece uma performance divertidíssima como o excêntrico (claro) J-Man, provocando o riso simplesmente ao brincar com as inflexões de suas falas (`Good for you, man! Good for you!`). Ainda assim, é uma pena que o filme, como um todo, não faça jus às suas cenas.

Rodado em 2002, este longa permaneceu dois anos engavetado, sendo lançado nos cinemas apenas depois do sucesso de Escola de Rock, que comprovou que Jack Black poderia atrair uma boa bilheteria. Porém, não basta ter um bom elenco; é preciso, antes de tudo, ter um bom produto em mãos – e, assim, A Inveja Mata foi mal recebido pelo público americano, que, vez por outra, parece ter um discernimento razoável.

Pelo jeito, agora são os produtores deste filme que estão se roendo de inveja.