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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/07/2007 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora

Transformers
Transformers

Dirigido por Michael Bay. Com: Shia LaBeouf, Megan Fox, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, Rachael Taylor, Anthony Anderson, John Turturro, Kevin Dunn, Bernie Mac, Julie White, Jon Voight e as vozes de Peter Cullen e Hugo Weaving.

Transformers é uma experiência perfeita para quem sofre de déficit de atenção: abusando dos efeitos sonoros e da música que se pretende grandiosa, o novo longa de Michael Bay emprega uma overdose de explosões no intuito de levar o espectador a acreditar que algo importante está acontecendo, quando, na realidade, seu propósito é simplesmente o de manter o público acordado enquanto os produtores contam os dólares ganhos com a exposição de marcas como General Motors, Nokia, Burger King, Xbox e inúmeras outras – e não é à toa que o filme aparentemente se recusa a terminar antes de atingir inchadíssimos 144 minutos, transformando-se no mais longo anúncio publicitário que já fui obrigado a testemunhar.

Escrito por Alex Kurtzman e Roberto Orci, o roteiro traz os personagens criados pela companhia de brinquedos Hasbro em uma disputa pelo planeta Terra: enquanto os nobres Autobots lutam para salvar nosso mundo, os cruéis Decepticons pretendem escravizar os humanos e utilizar um poderoso cubo para criar novos robôs (conhecido como “All Spark”, o tal cubo originou o planeta natal dos tais seres, Cybertron, que foi destruído numa guerra entre os dois grupos). A chave para encontrar o objeto, porém, reside nos óculos do tataravô do jovem Sam Witwicky (LaBeouf), que, sem saber, já é “dono” de um Autobot designado para protegê-lo. Enquanto tentam recuperar o cubo, os heróis da história (alguns humanos genéricos) devem tentar impedir que os Estados Unidos entrem em uma guerra contra a China, identificada erroneamente como a responsável pelos incidentes provocados pelos Decepticons – numa trama claramente “inspirada” na segunda temporada da série 24.

Sempre demonstrando seu talento inigualável para explodir coisas, o cineasta Michael Bay traz todo seu estilo “estou tendo um ataque epilético” para o projeto, jamais criando um plano que dure mais do que 5 segundos ou um quadro que permaneça fixo – o que impossibilita o público de compreender exatamente o que está ocorrendo nas seqüências de ação, quando mal conseguimos enxergar os personagens ou o ambiente no qual tudo se passa (o máximo que captamos é que X está lutando com Y, mas mesmo isto exige um esforço considerável). Da mesma forma, estão lá todos os elementos típicos do arsenal de truques do diretor: o travelling circular; as câmeras lentas sem o menor propósito narrativo; a fotografia que carrega no amarelo; a insistência nos ângulos baixos que tentam engrandecer os heróis; e assim por diante.

Mas não é só: Bay é consistente até mesmo naquilo que jamais aparece em seus trabalhos, como podemos constatar pela total falta de um desenvolvimento adequado dos personagens. É a velha rotina: logo no início da projeção, um soldado diz que está louco para rever a mãe, enquanto outro diz que só quer conhecer a filha recém-nascida - para o diretor, é o que basta para que o espectador saiba quem são aquelas pessoas, mesmo que estas criaturas sejam tão implausíveis quanto a analista bela e sempre maquiada que logo solta uma opinião sobre “DNA baseado em computador”. Igualmente absurda é a jovem beldade que, expert em mecânica e com ficha na polícia, é vivida pela fraca Megan Fox que, consciente da própria beleza, faz o tipo “ninfeta sedutora” ao longo de toda a história, aparecendo em absolutamente todas as suas cenas com a boca semi-aberta – um estranho clichê de “interpretação” empregado por toda atriz bonita e sem talento que ganha papel de destaque em uma superprodução. Infelizmente, Transformers conta ainda com o chatíssimo Anthony Anderson, que mais uma vez demonstra ser incapaz de tentar fazer graça sem gritar o tempo inteiro, como se o volume substituísse o timing cômico. E se Jon Voight parece perdido durante todo o filme, o jovem Shia LaBeouf diminui um pouco nosso sofrimento ao exibir imenso carisma e uma naturalidade surpreendente – mesmo que isto não seja o bastante para tornar seu personagem mais real.

Investindo num tom desajeitado de comédia, Transformers freqüentemente gasta um tempo precioso em gags que funcionam mal ou que fracassam totalmente, como a longa cena em que os Autobots se escondem no jardim de Sam ou a tentativa adolescente de fazer uma crítica a George W. Bush. Em contrapartida, ainda que a cena envolvendo um atendente terceirizado de uma companhia telefônica seja moderadamente divertida (a legendagem brasileira chega a incluir o gerundismo típico destes profissionais), não há como negar que ela soa fora do lugar na narrativa, servindo apenas para diluir inadequadamente a urgência do confronto que está acontecendo naquele momento. Da mesma maneira, se a participação de Bernie Mac como um vendedor de carros provoca algumas risadas, a menininha que confunde um transformer com a fada dos dentes merece apenas o título de “criança mais burra do mundo”, já que, como esforço cômico, é um fracasso completo (e lamentavelmente o mesmo se aplica a John Turturro, cuja composição exagerada chega a ser constrangedora).

Produzido com o intuito de alcançar também um público mais jovem que possa aumentar a arrecadação nas bilheterias, Transformers evita mostrar mortes de forma óbvia, o que diminui a força de uma trama que gira justamente em torno de um confronto brutal entre vários seres poderosos. Isto, é claro, não impede que Michael Bay demonstre o mesmo senso de humor doentio já visto em Bad Boys 2 – só que, em vez de usar cadáveres como alívio cômico, desta vez ele tenta arrancar o riso com a imagem de um humano frágil sendo arremessado violentamente para a morte certa por um peteleco do vilão Megatron. Aliás, no restante do tempo o filme procura fingir que ninguém está sendo ferido: sim, podemos até ver um carro com passageiros sendo atirado longe por um robô, mas em nenhum momento a narrativa se preocupa em reconhecer as baixas (provavelmente, na ordem de centenas ou mesmo milhares) entre os civis. Em vez disso, o diretor prefere fazer uma referência egocêntrica a Armageddon, que dirigiu em 1998.

Seja como for, é impossível deixar de reconhecer a eficiência de Transformers quanto aos efeitos visuais: concebidos com uma atenção imensa para os detalhes (observem como o metal azulado na cabeça de Optimus Prime aparece sujo e arranhado), os robôs vistos ao longo da projeção são espetaculares, exibindo movimentos incrivelmente naturais – algo fácil de constatar na cena em que um dos Autobots, logo ao chegar à Terra, vira-se para ver se está sendo observado antes de se transformar. Lamentavelmente, o apuro visual dos personagens não encontra reflexo em seus desenvolvimentos pelo roteiro: comportando-se e falando como humanos comuns (as piadinhas são péssimas), os heróis robóticos não exibem peso dramático algum, tornando a (dupla) tentativa de usar Bumblebee (o carro do mocinho) como protagonista de cenas mais emocionantes um esforço que já nasce fracassado.

Mas não poderíamos esperar nada diferente de um roteiro que abandona a maior parte de suas subtramas pela metade – e por que investir tanto tempo no grupo de jovens hackers ou no secretário de Defesa se estes serão simplesmente esquecidos no terceiro ato? E por que os tais óculos são apresentados como peça importante da trama se, no final das contas, eles não desempenham papel algum no resgate do tal cubo? E como Optimus Prime pode saber tanto sobre o que aconteceu com o tataravô de Sam? E por que Optimus Prime diz que vai partir se, na cena seguinte, surgirá dizendo que a Terra é o novo lar dos transformers?

Chega a ser incrível que, longo desse jeito, o filme não encontre tempo sequer para amarrar suas pontas soltas. O mais provável, porém, é que Michael Bay tenha julgado que não seríamos capazes de notar todos os absurdos, já que estaríamos encarando a tela com olhos embaçados, totalmente anestesiados pelo ataque brutal aos nossos sentidos.

19 de Julho de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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