Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/05/2003 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
86 minuto(s) |
Dirigido por Tim Johnson e Patrick Gilmore. Com as vozes (no original) de Brad Pitt, Catherine Zeta-Jones, Michelle Pfeiffer, Joseph Fiennes, Dennis Haysbert e (na versão brasileira) de Thiago Lacerda, Giovanna Antonelli e Guilherme Briggs.
É lamentável quando um filme resolve substituir o roteiro por seqüências de ação, ignorando que as boas produções do gênero, como Duro de Matar ou A Rocha, são interessantes justamente porque, além de explosões e perseguições, também possuem tramas envolventes e personagens interessantes. Mais lamentável ainda é que um longa-metragem de animação se renda a esta falha, já que esta é uma área em que normalmente há um cuidado maior com a história.
Escrita por John Logan, a trama de Sinbad: A Lenda dos Sete Mares gira em torno da busca do personagem-título por um certo `Livro da Paz` – na realidade, um mero McGuffin (termo cujo significado expliquei em minha análise sobre Sinais) utilizado para mergulhar Sinbad e seus companheiros em diversas situações de perigo. Ao longo de sua jornada, a tripulação comandada pelo pirata (?) enfrenta vários desafios e criaturas fantásticas – sem saber que todos os seus movimentos estão sendo acompanhados pela cruel Eris, deusa da discórdia.
Seguindo o mesmo estilo das animações em 2D produzidas anteriormente pela DreamWorks (como O Príncipe do Egito e A Estrada para El Dorado), os personagens vistos em Sinbad possuem rostos angulosos e traços mais fortes do que o habitual, sendo menos `delicados` do que os humanos vistos, por exemplo, em Lilo & Stitch. Além disso, os artistas comandados pelos diretores Patrick Gilmore e Tim Johnson procuram capturar alguns gestos característicos dos dubladores a fim de compor os maneirismos de seus alter-egos de animação (observe, por exemplo, a forma com que Sinbad move suas mãos ao dizer `Paciência! Pensam que não sei para onde ele vai?`, e perceberá um tique típico de Brad Pitt). Já os cenários, embora grandiosos e impressionantes, nem sempre combinam muito bem com os elementos tridimensionais acrescentados por computador – algo que já havia comprometido o interessante Titan A.E., de 2000 (um exemplo desta `incompatibilidade` pode ser visto nas seqüências em que vemos o barco de Sinbad deslizando sobre as águas). Seja como for, apesar destes problemas menores, a animação de Sinbad: A Lenda dos Sete Mares é extremamente bem realizada.
Por outro lado, os personagens são terrivelmente caricaturais – e não estou me referindo ao visual, e sim às suas personalidades. O relacionamento entre o herói e a bela Marina, por exemplo, segue o velho clichê do `eles brigam porque se amam`. Quando bem desenvolvido, este recurso narrativo geralmente ilustra de forma eficaz a tensão sexual entre dois personagens, mas, aqui, os confrontos verbais entre Sinbad e seu interesse amoroso soam apenas de forma chata e cansativa. Para piorar, as várias tentativas de humor feitas pelo péssimo roteirista John Logan (responsável pelos fracos Gladiador, Morcegos e Jornada nas Estrelas: Nêmesis) falham terrivelmente, já que ele não consegue sequer explorar melhor o engraçadinho cão Spike.
Além disso, é cada vez mais comum que os filmes de animação incluam piadas sutis para divertir os pais que levam seus filhos ao cinema, mas, em Sinbad, estas tiradas são óbvias e, em alguns casos, vulgares – como na cena em que o herói conta que, certa vez, foi ameaçado por `uma espada no meu pescoço, outra no meu peito e outra no meu...`, sendo interrompido por um personagem que, com a boca cheia de comida, grita: `Pepino! Ovos!`. Como se não bastasse, o terceiro ato da história ainda apela para lições de moral piegas e ingênuas, ofendendo o espectador com frases como `Você não conhece o coração dele!`, `Este é o verdadeiro você!` e `Siga seu coração!`.
Contando com uma razoável dublagem em português (Thiago Lacerda acerta no tom de Sinbad, mas Giovanna Antonelli está desastrosa como Marina), Sinbad: A Lenda dos Sete Mares merece créditos, no mínimo, por ser a primeira produção a parodiar uma cena de Matrix Reloaded – embora tenha sido lançado menos de dois meses após o filme dos irmãos Wachowski. No entanto, vale lembrar que este é um tipo de piadinha que já se tornou mais do que batido. Ou seja: Sinbad não consegue ser original nem quando acerta.
12 de Julho de 2003