Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/07/2004 | 11/06/2004 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
93 minuto(s) |
Dirigido por Frank Oz. Com: Nicole Kidman, Matthew Broderick, Bette Midler, Roger Bart, Jon Lovitz, Faith Hill, Glenn Close e Christopher Walken.
Ainda que esteja quarenta anos atrasado para funcionar como uma alegoria feminista (ou anti-feminista, dependendo do ponto de vista), Mulheres Perfeitas revela-se um filme absolutamente satisfatório se analisado como simples comédia – isto é, até o terceiro ato, quando um furo colossal no roteiro engole todos os esforços feitos até então pelo elenco e pelo diretor Frank Oz, levando o espectador a sair irritado da sala de projeção.
Inspirado em livro de Ira Levin (que já havia dado origem a uma produção de 1975, As Esposas de Stepford), Mulheres Perfeitas gira em torno de Joanna Eberhard (Kidman), uma bem-sucedida executiva de televisão que se especializou em criar reality shows nos quais os homens são ridicularizados por suas parceiras. Porém, depois que o participante de um dos programas tenta matar a esposa, Joanna é demitida e sofre um colapso nervoso. Decidido a ajudá-la, seu marido Walter (Broderick) pede demissão do emprego e toda a família se muda para uma comunidade fechada situada em Stepford, onde as mulheres se comportam como se ainda estivessem nos anos 50, preocupando-se exclusivamente com o marido, os filhos e a limpeza de suas casas. Aos poucos, Joanna percebe que algo estranho está ocorrendo ali, enquanto Walter parece ficar cada vez mais fascinado com o estilo de vida de seus companheiros do Clube Masculino.
Empregando elementos claramente inspirados em Os Invasores de Corpos (cuja primeira versão é de 1956), esta refilmagem jamais procura funcionar como sátira social, o que é um bom sinal, já que qualquer tentativa neste sentido soaria anacrônica e ridícula. Por outro lado, não hesita em retratar os integrantes do sexo masculino como indivíduos preguiçosos e imaturos que enxergam suas esposas como objetos sexuais multifuncionais, capazes de proezas incríveis na cama e, ao mesmo tempo, sempre dispostas a servirem seus mestres de todas as maneiras possíveis – uma visão estereotipada, é verdade, mas que pode ser desculpada por atender às necessidades da história (sem estes maridos, não haveria filme).
À medida em que desenvolve sua premissa, o roteiro funciona razoavelmente bem – algo surpreendente, se considerarmos que o roteirista Paul Rudnick foi o responsável pelo apenas mediano Será Que Ele É? (também dirigido por Oz) e pelo pavoroso Marci X – Uma Loira Muito Louca. Bette Midler, em particular, ganha algumas das melhores falas do filme e não deixa de aproveitá-las, exibindo o talento cômico que já a consagrara em produções como Por Favor, Matem Minha Mulher e Clube das Desquitadas. Já Glenn Close pouco tem a fazer, embora também tenha seus momentos de brilho (como a ginástica inspirada em tarefas domésticas). Além delas, Roger Bart explora bem o divertido arquiteto Roger Bannister, enquanto Christopher Walken mais uma vez provoca o riso apenas por ser... Christopher Walken (vide A Inveja Mata).
O lamentável é que o elenco de Mulheres Perfeitas tem, como ponto fraco, aquele elemento que deveria ser o mais forte: o casal de protagonistas: Matthew Broderick poucas vezes esteve tão apagado em um projeto e Nicole Kidman transforma Joanna em uma figura tão antipática que torna-se difícil, para o espectador, torcer por sua vitória quando isto se faz necessário. O fato é que, no caso específico desta personagem, ter a personalidade alterada seria algo positivo – uma mensagem que, aposto, o longa não queria transmitir.
E finalmente chegamos ao tal furo no roteiro que mencionei anteriormente – e, infelizmente, serei obrigado a revelar detalhes importantes da história para analisá-lo (portanto, não leia este parágrafo caso ainda não tenha visto o filme): durante a projeção, torna-se óbvio que as `esposas de Stepford` foram de alguma forma substituída por robôs, já que uma delas `solta faíscas`, outra nada sente ao colocar a mão no fogo e uma terceira chega a funcionar como caixa automático, soltando cédulas de dinheiro pela boca. Assim, como é possível que, no terceiro ato, o personagem de Walken esclareça que apenas alguns `chips` foram implantados nos cérebros das mulheres e que estas continuam a ser de carne-e-osso? Ora, esta incongruência deixa evidente que, em algum momento, os produtores decidiram fazer profundas alterações no roteiro, provavelmente para conferir um final mais `feliz` à história, permitindo que as personalidades originais pudessem ser restauradas. O problema é que eles sequer se preocuparam em revisar o restante da trama, eliminando traços da explicação inicial, o que é, no mínimo, uma imensa falta de respeito para com a inteligência do espectador (e que robô é aquele que surge do chão, durante o confronto entre Kidman e Walken? É claro que, a princípio, ele seria o `substituto` da heroína, mas que papel desempenha na história `revisada`?). Como se não bastasse, a solução encontrada para `despertar` as mulheres é implausível: que sistema de proteção é aquele, que entra em colapso simplesmente porque alguém apertou várias teclas ao acaso?
Ao que parece, os realizadores de Mulheres Perfeitas acreditaram que o público seria tão dócil e manipulável quanto as esposas retratadas em sua trama. Só posso torcer para que tenham se enganado.
30 de Julho de 2004
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