Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
30/07/2004 11/06/2004 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Direção

Frank Oz

Elenco

Nicole Kidman , Matthew Broderick , Bette Midler , Roger Bart , Jon Lovitz , Faith Hill , Glenn Close , Christopher Walken

Roteiro

Paul Rudnick

Produção

Scott Rudin

Fotografia

Rob Hahn

Música

David Arnold

Montagem

Jay Rabinowitz

Design de Produção

Jackson De Govia

Figurino

Ann Roth

Direção de Arte

Peter Rogness

Mulheres Perfeitas
The Stepford Wives

Dirigido por Frank Oz. Com: Nicole Kidman, Matthew Broderick, Bette Midler, Roger Bart, Jon Lovitz, Faith Hill, Glenn Close e Christopher Walken.

Ainda que esteja quarenta anos atrasado para funcionar como uma alegoria feminista (ou anti-feminista, dependendo do ponto de vista), Mulheres Perfeitas revela-se um filme absolutamente satisfatório se analisado como simples comédia – isto é, até o terceiro ato, quando um furo colossal no roteiro engole todos os esforços feitos até então pelo elenco e pelo diretor Frank Oz, levando o espectador a sair irritado da sala de projeção.

Inspirado em livro de Ira Levin (que já havia dado origem a uma produção de 1975, As Esposas de Stepford), Mulheres Perfeitas gira em torno de Joanna Eberhard (Kidman), uma bem-sucedida executiva de televisão que se especializou em criar reality shows nos quais os homens são ridicularizados por suas parceiras. Porém, depois que o participante de um dos programas tenta matar a esposa, Joanna é demitida e sofre um colapso nervoso. Decidido a ajudá-la, seu marido Walter (Broderick) pede demissão do emprego e toda a família se muda para uma comunidade fechada situada em Stepford, onde as mulheres se comportam como se ainda estivessem nos anos 50, preocupando-se exclusivamente com o marido, os filhos e a limpeza de suas casas. Aos poucos, Joanna percebe que algo estranho está ocorrendo ali, enquanto Walter parece ficar cada vez mais fascinado com o estilo de vida de seus companheiros do Clube Masculino.

Empregando elementos claramente inspirados em Os Invasores de Corpos (cuja primeira versão é de 1956), esta refilmagem jamais procura funcionar como sátira social, o que é um bom sinal, já que qualquer tentativa neste sentido soaria anacrônica e ridícula. Por outro lado, não hesita em retratar os integrantes do sexo masculino como indivíduos preguiçosos e imaturos que enxergam suas esposas como objetos sexuais multifuncionais, capazes de proezas incríveis na cama e, ao mesmo tempo, sempre dispostas a servirem seus mestres de todas as maneiras possíveis – uma visão estereotipada, é verdade, mas que pode ser desculpada por atender às necessidades da história (sem estes maridos, não haveria filme).

À medida em que desenvolve sua premissa, o roteiro funciona razoavelmente bem – algo surpreendente, se considerarmos que o roteirista Paul Rudnick foi o responsável pelo apenas mediano Será Que Ele É? (também dirigido por Oz) e pelo pavoroso Marci X – Uma Loira Muito Louca. Bette Midler, em particular, ganha algumas das melhores falas do filme e não deixa de aproveitá-las, exibindo o talento cômico que já a consagrara em produções como Por Favor, Matem Minha Mulher e Clube das Desquitadas. Já Glenn Close pouco tem a fazer, embora também tenha seus momentos de brilho (como a ginástica inspirada em tarefas domésticas). Além delas, Roger Bart explora bem o divertido arquiteto Roger Bannister, enquanto Christopher Walken mais uma vez provoca o riso apenas por ser... Christopher Walken (vide A Inveja Mata).

O lamentável é que o elenco de Mulheres Perfeitas tem, como ponto fraco, aquele elemento que deveria ser o mais forte: o casal de protagonistas: Matthew Broderick poucas vezes esteve tão apagado em um projeto e Nicole Kidman transforma Joanna em uma figura tão antipática que torna-se difícil, para o espectador, torcer por sua vitória quando isto se faz necessário. O fato é que, no caso específico desta personagem, ter a personalidade alterada seria algo positivo – uma mensagem que, aposto, o longa não queria transmitir.

E finalmente chegamos ao tal furo no roteiro que mencionei anteriormente – e, infelizmente, serei obrigado a revelar detalhes importantes da história para analisá-lo (portanto, não leia este parágrafo caso ainda não tenha visto o filme): durante a projeção, torna-se óbvio que as `esposas de Stepford` foram de alguma forma substituída por robôs, já que uma delas `solta faíscas`, outra nada sente ao colocar a mão no fogo e uma terceira chega a funcionar como caixa automático, soltando cédulas de dinheiro pela boca. Assim, como é possível que, no terceiro ato, o personagem de Walken esclareça que apenas alguns `chips` foram implantados nos cérebros das mulheres e que estas continuam a ser de carne-e-osso? Ora, esta incongruência deixa evidente que, em algum momento, os produtores decidiram fazer profundas alterações no roteiro, provavelmente para conferir um final mais `feliz` à história, permitindo que as personalidades originais pudessem ser restauradas. O problema é que eles sequer se preocuparam em revisar o restante da trama, eliminando traços da explicação inicial, o que é, no mínimo, uma imensa falta de respeito para com a inteligência do espectador (e que robô é aquele que surge do chão, durante o confronto entre Kidman e Walken? É claro que, a princípio, ele seria o `substituto` da heroína, mas que papel desempenha na história `revisada`?). Como se não bastasse, a solução encontrada para `despertar` as mulheres é implausível: que sistema de proteção é aquele, que entra em colapso simplesmente porque alguém apertou várias teclas ao acaso?

Ao que parece, os realizadores de Mulheres Perfeitas acreditaram que o público seria tão dócil e manipulável quanto as esposas retratadas em sua trama. Só posso torcer para que tenham se enganado.
``

30 de Julho de 2004

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!