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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/10/2005 26/08/2005 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
118 minuto(s)

Os Irmãos Grimm
The Brothers Grimm

Dirigido por Terry Gilliam. Com: Matt Damon, Heath Ledger, Peter Stormare, Lena Headey, Monica Bellucci, Jonathan Pryce, Tomás Hanák, Roger Ashton-Griffiths.

Terry Gilliam sempre foi conhecido como um realizador capaz de grandes invencionices visuais. Antes mesmo de estrear como diretor, suas animações surrealistas exibidas nos programas do Monty Python para a tevê britânica indicavam claramente sua criatividade livre de convenções – e este traço viria a se manifestar não apenas em seu Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado, mas também em seus trabalhos lançados após o fim da trupe, rendendo filmes espetaculares como Brazil – O Filme, Os Bandidos do Tempo e Os 12 Macacos, mas também fracassos como Jabberwocky – Um Herói por Acaso e, é claro, Medo e Delírio, no qual Gilliam fez exatamente aquilo que alguns de seus detratores mais ferinos apontavam (até então, injustamente) como sendo seu maior defeito: supervalorizar o estilo e ignorar o conteúdo. Agora, sete anos depois daquele tropeço, o cineasta volta à direção e prova, mais uma vez, seu dom para criar grandes espetáculos visuais. Pena que, mais uma vez, o roteiro deixe a desejar.

Escrito por Ehren Kruger (A Chave Mestra), o filme gira em torno dos famosos irmãos Wilhelm e Jacob Grimm, fabulistas absurdamente talentosos que deixaram para o mundo um legado de histórias encantadoras, inesquecíveis e repletas de magia, como Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Rapunzel, João & Maria e tantas outras. Porém, aqui eles não surgem como escritores, mas como trapaceiros que viajam pelo interior da Alemanha simulando ataques de seres fantásticos (como bruxas e lobisomens) apenas para, em seguida, cobrarem uma fortuna dos camponeses com a promessa de livrarem-nos das ameaças. É então que a dupla é obrigada por um general de Napoleão (era o período em que a França ocupava o país) a investigar ocorrências sobrenaturais em uma floresta amaldiçoada na qual dez crianças desapareceram – e descobrem que, desta vez, podem estar enfrentando criaturas reais.

Numa abordagem similar àquela empregada em Shakespeare Apaixonado, o roteiro inclui aparições de personagens que, supostamente, viriam a influenciar os irmãos Grimm em sua carreira `posterior` como fabulistas: assim, há uma garotinha que caminha pela floresta com um capuz vermelho; uma torre imensa habitada por uma bela mulher com longas tranças; um `lobo mau`; um `lenhador` e assim por diante. O tom fantasioso, aliás, é realçado pela fotografia sombria, mas de cores marcadas, concebida por Nicola Pecorini e Newton Thomas Sigel, que valorizam ainda mais a direção de arte do projeto, que é soberba (particularmente no que diz respeito à floresta).

Enquanto isso, Matt Damon e Heath Ledger estabelecem uma dinâmica impecável como os personagens-título, trocando diálogos de forma enérgica e bem-humorada e convencendo o público de que, apesar de brigarem o tempo todo, aqueles homens se amam profundamente – algo imprescindível para que mergulhemos na história. Além disso, mesmo sabendo que os irmãos Grimm do filme são apenas versões burlescas dos verdadeiros escritores, o medo que sentem ao se depararem com os `monstros` (manifestado por seus hilários gritinhos afeminados) acaba tornando-os humanos para o espectador. E o melhor: quando decidem enfrentar o perigo, a mudança de atitude dos heróis não soa artificial, como mera exigência do roteiro, mas sim como evolução natural do comportamento diante daquelas circunstâncias específicas.

Infelizmente, o restante do elenco não é tão coeso: embora Lena Headey convença como a valente mocinha Angelika, os veteranos Jonathan Pryce e Peter Stormare exageram na composição de seus personagens, tornando-os absolutamente irreais, como se pertencessem a um universo diferente daquele habitado pelos Grimm. Já Monica Bellucci pouco pode fazer como a Rainha do Espelho, já que conta com um tempo bastante reduzido na tela (vale dizer, porém, que está linda como de hábito).

Mas o grande problema de Os Irmãos Grimm reside mesmo na historinha frouxa, que não faz jus à imaginação dos verdadeiros fabulistas. Além de batida (sacrifícios humanos? Que coisa mais década de 30!), a trama falha ao estabelecer um clima real de ameaça; jamais sentimos que os heróis estão correndo algum perigo de fato – algo que se torna ainda mais patente em função dos fracos efeitos visuais (o lobo digital do filme é quase tão ruim quanto o monstro de O Coronel e o Lobisomem, que estréia nos cinemas brasileiros no mesmo dia). Assim, embora a fotografia e a direção de arte remetam a A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, o tom ingênuo, de aventura infantil, lembra mais As Aventuras do Barão de Münchausen, dirigido pelo próprio Terry Gilliam em 1988.

Visualmente fascinante, Os Irmãos Grimm é um filme leve e inofensivo. Em vários momentos, Gilliam parece se preocupar mais com o efeito do que com a eficácia de sua história. Em certo instante, Will Grimm, ao ver o irmão partir usando a armadura que utilizavam para enganar os camponeses, diz, preocupado: `Eu fiz aquela armadura! Ela não é mágica; é apenas brilhante!`.

E esta parece ter sido a filosofia seguida por Terry Gilliam em seus dois últimos filmes.
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06 de Outubro de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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