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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/10/2001 04/07/2001 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
87 minuto(s)

Como Cães e Gatos
Cats & Dogs

Dirigido por Lawrence Guterman. Com: Jeff Goldblum, Elizabeth Perkins, Alexander Pollock, Miriam Margolyes e as vozes de Tobey Maguire, Sean Hayes, Alec Baldwin, Susan Sarandon, Michael Clarke Duncan, Jon Lovitz, Joe Pantoliano e Charlton Heston.

Como Cães e Gatos é o tipo de produção que estamos acostumado a ver nos cinemas no final do ano: leve, bobinha, engraçadinha e mais do que adequada ao público infantil. Na verdade, os responsáveis por esta comédia parecem ter consciência deste fato, já que, apesar de ter sido lançado em julho, o filme traz um clímax situado em uma imensa fábrica de produtos natalinos (e, em certo instante, um alto-falante anuncia: `Faltam apenas sete meses para o Natal!`).

Dirigido pelo estreante Lawrence Guterman, Como Cães e Gatos parte de uma premissa pouco original, mas bem interessante: inimigos desde os tempos do Antigo Egito, gatos e cães desenvolveram, ao longo deste período, uma avançada tecnologia que permite o completo monitoramento das atividades uns dos outros. Mergulhados em uma eterna `guerra fria` (que pode resultar em uma batalha violenta a qualquer momento), os animais finalmente se deparam com um fato que pode alterar a atual ordem `política` do planeta: um cientista (Goldblum) está prestes a desenvolver um soro que erradicará a alergia aos cães, permitindo, assim, que todos os habitantes da Terra possam conviver com `o melhor amigo do homem`. Apavorados com esta perspectiva, os gatos (liderados pelo megatomaníaco... perdão: megalomaníaco Mr. Tinkles) resolvem assumir uma postura mais ativa e destruir as pesquisas do cientista. Porém, seus oponentes caninos descobrem o plano e infiltram um agente na casa do pesquisador – ou quase, já que, por acidente, o filhotinho Lou acaba recebendo a tarefa.

Como não poderia deixar de ser, o filme conta com efeitos especiais absolutamente deslumbrantes: além da já conhecida tecnologia que permite a inserção de movimentos faciais nos animais, Como Cães e Gatos ainda utiliza diversos outros métodos, como animatronics (espécie de fantoches mecanizados) e animação digital, para convencer o espectador de que seus cães e gatos podem manipular complexos equipamentos, executar acrobacias arrojadas e lutar kung fu (sim, você leu corretamente!). Do ponto de vista técnico, é impossível repreender esta produção.

Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre o seu roteiro, escrito por John Requa e Glenn Ficarra: apesar de possuir algumas piadas realmente inspiradas (como o fato de Mr. Tinkles ser idêntico ao gato de Blofeld, veterano vilão da série 007), o filme logo cai no lugar-comum, como se o simples fato de mostrar animais falantes fosse o bastante (tendência que eu já havia apontado em meus comentários sobre Dr. Dolittle). Além disso, Como Cães e Gatos cerca sua promissora trama com elementos reciclados de várias outras produções: o personagem vivido por Goldblum, por exemplo, é uma cópia descarada do cientista de Rick Moranis em Querida, Encolhi as Crianças (que, por sua vez, já não era muito original). Aliás, diversos outros elementos deste sucesso da Disney são reaproveitados, como a problemática relação entre o pesquisador e seu filho (outro clichê do gênero; e a própria maneira como o sujeito consegue solucionar os problemas de sua pesquisa. Como se não bastasse, o filme se esquece de sua natureza cômica no terço final da projeção, assumindo características de uma história de ação comum.

As vítimas, é claro, são os adultos: ao contrário de produções como Shrek e A Nova Onda do Imperador, Como Cães e Gatos não é um passatempo para toda a família, mas apenas para o público mais jovem. Até mesmo a pequena referência a Matrix soa de maneira cansada, depois de ter aparecido em várias comédias produzidas nos últimos dois anos, como Gigolô por Acidente, Todo Mundo em Pânico e o próprio Shrek. Por outro lado, o filme rende algumas boas risadas ao enfocar o drama de seu vilão, uma espécie de Dr. Evil do mundo animal: apesar de assumir a condição de `gênio do crime`, Mr. Tinkles jamais é levado muito a sério por seus asseclas – principalmente em função da mania da governanta de sua casa, que insiste em banhá-lo com uma freqüência irritante e em vesti-lo com roupinhas de boneca. Infelizmente, este gato `do mal` aparece bem menos do que deveria ao longo da história (erro que Mike Myers não cometeu na série Austin Powers).

Como Cães e Gatos poderia ter sido um ótimo filme e originado uma nova franquia. Ao invés disso, acabou tornando-se um passatempo inofensivo – uma distração de fácil esquecimento. Em resumo: o vídeo (ou DVD) ideal para as tardes de sábado.
``

4 de Outubro de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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