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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
14/04/2000 18/02/2000 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
98 minuto(s)

Meu Vizinho Mafioso
The Whole Nine Yards

Dirigido por Jonathan Lynn. Com: Matthew Perry, Bruce Willis, Michael Clarke Duncan, Amanda Peet, Rosanna Arquette, Natasha Henstridge e Kevin Pollak.

Não é difícil compreender porque é tão complicada a transição de um ator de televisão para o cinema. O fato é que, por mais complexas que sejam as caracterizações de seus personagens, um artista sempre possuirá certas `marcas registradas` que o acompanharão ao longo de toda a sua carreira. Das sobrancelhas arqueadas de Jack Nicholson à testa franzida de Robert De Niro (passando pela gritaria enrouquecida de Al Pacino), todo intérprete acaba deixando transparecer traços de sua própria personalidade eventualmente.

Obviamente, a situação é muito mais delicada para um ator que pode ser visto semanalmente em uma série de televisão cuja longa duração o deixa exposto ao grande público com freqüência maior do que a de outros profissionais que só aparecem nas telonas uma ou duas vezes por ano. Um exemplo recente que comprova esta teoria é o de Matthew Perry, que em Meu Vizinho Mafioso parece simplesmente repetir o tipo que interpreta em Friends, onde vive o sarcástico Chandler Bing: suas caretas e inflexões são exatamente as mesmas que os fãs da série acostumaram-se a ver ao longo dos últimos seis anos.

Nesta comédia co-estrelada por Bruce Willis, Perry interpreta o submisso dentista Nicholas `Oz` Oseransky, um homem cuja vida vira de ponta-cabeça depois que ele descobre a verdadeira identidade de seu novo vizinho, um assassino profissional que mudou-se para o Canadá a fim de esconder-se de mafiosos que desejam matá-lo. Preso a um casamento insuportável, Oz é obrigado pela esposa a viajar até Chicago para informar o paradeiro do matador aos seus perseguidores - algo que o levará a conhecer uma mulher deslumbrante e a se envolver no submundo do crime.

Apesar de não inovar em sua interpretação, Matthew Perry acaba revelando-se um protagonista carismático e divertido, sendo perfeitamente capaz de prender a atenção do espectador durante toda a história sem perder espaço para o astro Bruce Willis, que aqui reencontra seu lado comediante, que não utilizava apropriadamente desde 1992, quando roubou a cena de Meryl Streep e Goldie Hawn no ótimo A Morte Lhe Cai Bem, de Robert Zemeckis. Desta vez, o ator cria um assassino cínico e debochado que é claramente uma espécie de paródia dos tipos que acostumou-se a interpretar nos últimos anos (o falso sorriso oferecido ao personagem de Perry em sua primeira cena é prova suficiente de seus dotes humorísticos).

Enquanto isso, Michael Clarke Duncan, recém-saído do sucesso de crítica e público obtido por À Espera de um Milagre, comprova ser um ator versátil ao viver um matador tão zombeteiro quanto o de seu grande amigo Willis. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre Rosanna Arquette, cujo irritante (e inidentificável) sotaque destrói todas as cenas em que é ouvido (onde foi parar aquela atriz promissora de Depois de Horas?).

Como não poderia deixar de ser, Meu Vizinho Mafioso foi dirigido por Jonathan Lynn, um especialista em filmes cujos personagens são inescrupulosos e estão sempre tentando passar a perna uns nos outros (Os Sete Suspeitos, Os Puxa-Sacos, Um Sargento Trapalhão - além, é claro, de Meu Primo Vinny). Neste sentido, Lynn encontra um roteiro ao seu gosto: chega um momento em The Whole Nine Yards em que praticamente todo mundo tem um assassino em seu encalço, algo que faz a trama fluir com maior dinamismo e torna as piadas mais eficazes (mesmo as mais grosseiras, que envolvem quedas, tropeções e fluidos corporais - algo praticamente inevitável nas recentes comédias americanas).

Infelizmente, porém, o terceiro ato de Meu Vizinho Mafioso não consegue manter o tom cômico do início, já que a preocupação em solucionar os conflitos propostos pelo roteiro sobrepõe-se às tentativas de fazer rir. Assim, os tiroteios e traições finais entre os personagens acabam tornando-se o centro da história, levando o filme a terminar de forma abrupta e insatisfatória. Somando-se a este fator há, ainda, a completa falta de química entre Matthew Perry e a péssima Natasha Henstridge, cujos personagens envolvem-se em um romance que soa falso e completamente insosso.

De modo geral, porém, este filme é capaz de levar o espectador às gargalhadas em diversos momentos, representando uma diversão leve e, de certa forma, inocente. Resta saber se Perry conseguirá provar sua versatilidade - pois seu timing cômico já é inquestionável.
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18 de Abril de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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