Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/04/2001 | 17/11/2000 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
106 minuto(s) |
Dirigido por Don Roos. Com: Ben Affleck, Gwyneth Paltrow, Joe Morton, Tony Goldwyn, Alex D. Linz, David Dorfman, Jennifer Grey, Caroline Aaron, David Paymer, Sam Robards e Natasha Henstridge.
Há alguns elementos narrativos que são recorrentes em filmes do gênero `romance`: mal-entendidos; mentiras descobertas em momentos-chave; diálogos sobre destino e `diferenças entre os mundos` do casal principal; e, principalmente, coincidências. Na verdade, arrisco-me a dizer que poucos são os romances em que alguma incrível coincidência não ocorre. Em Mais Que o Acaso, o roteirista Don Roos utiliza indiscriminadamente todos estes elementos, que funcionam em certos momentos e falham em outros, criando um filme correto, mas nada excepcional.
Aqui, Ben Affleck interpreta Buddy Amaral, um publicitário bem-sucedido que, certo dia, fica preso em um aeroporto em função de um atraso em seu vôo e acaba conhecendo Greg Janello (Goldwyn), um escritor que também reside em Los Angeles, sua cidade. Depois de alguns drinques, Buddy decide dar sua passagem para o novo amigo, já que conheceu uma bela garota com quem resolve passar a noite no hotel do aeroporto. Porém, quando o avião no qual deveria viajar sofre um terrível acidente, o publicitário sente remorsos pela morte de Greg e acaba tornando-se alcoólatra. Tempos depois, já em fase de recuperação, Buddy resolve procurar a viúva de Greg para tentar se `redimir`, mas acaba se envolvendo com a moça, complicando ainda mais sua situação, já que não tem coragem de contar a ela quem ele é, na verdade.
Como você pode perceber, o roteiro constrói uma situação típica de um romance de Hollywood que, embora não seja verossímil (ou original, como comprova o recente - e fraco - Destinos Cruzados, de Sydney Pollack), é suficientemente interessante para prender a atenção e a imaginação do espectador, que acaba `acreditando` na premissa.
Infelizmente, Roos acaba exagerando na dose de `coincidências` do roteiro - a ponto de fazer a platéia perceber a manipulação. Uma coisa é fazer com que os dois personagens se cruzem, desavisados, em um aeroporto; outra (já ultrapassando o limite do excesso), é fazer certa personagem aparecer depois de mais de um ano, justamente no dia em que Buddy toma uma decisão importante que será comprometida pelo que ela tem a dizer (não posso ser mais específico, sob pena de revelar detalhes da trama).
Além disso, o roteiro é excessivamente maniqueísta, nada deixando ao acaso (o que torna o título brasileiro curiosamente irônico): um bom exemplo é o alcoolismo de Buddy, cuja única função na história é fazer com que este leia o `manual` dos Alcoólatras Anônimos e descubra que o quinto passo do programa é procurar as pessoas a quem se magoou. Depois disso, a doença do publicitário é simplesmente ignorada pela trama. Outro `excesso` é o comportamento de Abby, personagem de Gwyneth Paltrow: embora insista em sair com Buddy (na verdade, é ela quem o convida), Abby não pára de falar no falecido marido em nenhum instante - embora insista em negar a viuvez, alegando ser divorciada. Ora, a negação da perda é algo normal, assim como a impossibilidade de se esquecer da pessoa que se foi. Menos normal, no entanto, é a combinação destes dois comportamentos, que, de certa forma, se `anulam`. A impressão, mais uma vez, é a de que o roteiro quer apenas uma desculpa para alcançar seu objetivo: no caso, ilustrar a culpa e o remorso de Buddy.
De todo modo, Mais Que o Acaso se salva graças ao desempenho de seus protagonistas e à química existente entre estes (o que já era de se esperar, considerando-se o envolvimento do casal fora das telas). Enquanto Affleck cria um personagem sincero em sua amargura, Paltrow exala vulnerabilidade - algo comum em suas personagens, geralmente mulheres sofridas (a cena em que recebe a notícia da morte do marido é maravilhosamente interpretada, superando qualquer esforço feito pela atriz em Shakespeare Apaixonado, pelo qual recebeu injustamente o Oscar).
Mesmo assim, Mais Que o Acaso representa um pequeno retrocesso na carreira do diretor/roteirista Don Roos, cujo trabalho anterior fôra o excelente O Oposto do Sexo, no qual teve a coragem de transformar uma personagem detestável em protagonista e narradora (um dos melhores desempenhos da ótima Christina Ricci). Desta vez, o ímpeto de criar um filme tipicamente hollywoodiano parece ter bloqueado sua criatividade e seu espírito inovador, o que é lamentável. Seja como for, Mais Que o Acaso cumpre o que promete, oferecendo ao espectador uma história de amor fantasiosa, cinematográfica. E não há nada melhor do que fugir ocasionalmente da realidade, não é mesmo?
5 de Maio de 2001