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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/11/1998 25/09/1998 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

Lenda Urbana
Urban Legend

Dirigido por Jamie Blanks. Com: Jared Leto, Alicia Witt, Rebecca Gayheart, Joshua Jackson, John Neville, Loretta Devine, Tara Reid, Brad Dourif e Robert Englund.

Lenda Urbana é mais um exemplar recente do gênero terror-adolescente ressuscitado pelo sucesso de Pânico. Porém, assim como o sucesso de Halloween, há 20 anos, deu origem a uma série de clones sem a menor qualidade, a nova onda gerada por Pânico também não prima pelo alto nível de suas produções.

Desta vez, a ação se transcorre em uma universidade americana cujos alunos começam a ser assassinados exatamente de acordo com o que narram as mais famosas lendas urbanas do país, ou seja: todos aqueles casos assombrosos que são passados de geração para geração e que tratam de mortes misteriosas, acontecimentos sombrios e que são, geralmente, protagonizados por personagens bizarros. Assim, temos a história do locutor de rádio que é assassinado em plena transmissão; do assassino que se esconde no banco de trás dos carros; e assim por diante.

Aliás, é justamente a lenda do assassino escondido no carro que dá início à narrativa, originando a melhor seqüência do filme: uma garota dirige tranqüilamente por uma estrada escura quando, de repente, percebe que a gasolina está acabando. Felizmente, ela consegue chegar até um posto, onde é atendida por um sujeito estranho (Brad Dourif, em uma ponta não-creditada). Ela entrega o seu cartão-de-crédito para o tal funcionário que, debaixo de chuva, vai até o seu escritório ligar para a Central. Alguns segundos depois ele retorna e pede que a moça o acompanhe até a sala, alegando que houve um problema com o cartão. Cautelosa, ela se arma com um spray irritante e segue o homem. No entanto, ao chegar lá dentro, descobre que tudo não passara de uma invenção e, quando o sujeito se aproxima, ela o atinge e consegue fugir. Desesperada, a garota entra no carro e arranca em alta velocidade - não dando tempo para que o funcionário do posto a avise de que há uma pessoa armada com um machado escondida no banco de trás do automóvel.

Infelizmente, esta cena é o ponto alto de Lenda Urbana. A partir daí, o único recurso utilizado pelo diretor Jamie Blanks para assustar o espectador consiste na velha técnica de aumentar subitamente a música no exato momento em que a heroína da história esbarra em algum outro inocente personagem que passava por perto. Por falar em personagem, a galeria de estereótipos presentes neste filme é a mesma que encontramos em 10 entre cada 10 filmes do gênero: há a mocinha bem-comportada que passará a ser perseguida pelo assassino; o fanfarrão da turma, que não leva nada a sério; o mocinho bem-apessoado que, apesar de não acreditar inicialmente na mocinha, logo passa a protegê-la; a garota peituda que é fanática por sexo; o bizarro funcionário da Universidade, sempre espreitando por trás das portas; o inescrupuloso reitor, que nega a ocorrência dos crimes para não abalar o prestígio da Instituição; e por aí afora. Há, inclusive, um estranho (como não poderia deixar de ser) professor que fala, justamente, sobre lendas urbanas em suas aulas - a curiosidade, aqui, é que este personagem é interpretado por Robert Englund, famoso por sua personificação do terrível Freddy Krueger na série A Hora do Pesadelo.

À medida em que a história vai transcorrendo, o espectador percebe que o(a) assassino(a) tem alguma ligação com Natalie (a mocinha) e que todos que cercam a garota estão sendo assassinados. Mas quem será o criminoso? Inicialmente, todos são suspeitos, é claro, mas a lista de possibilidades vai diminuindo à medida em que os candidatos vão sendo literalmente `eliminados`.

Aliás, assim como o assassino de Pânico usava uma máscara e o de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, uma capa-de-chuva, o(a) assassino(a) de Lenda Urbana também possui seu disfarce favorito: no caso, uma imensa jaqueta cujo capuz envolve totalmente seu rosto com sombras, impedindo que vejamos de quem se trata. É claro que logo descobrimos que praticamente todos os demais personagens do filme possuem o mesmo tipo de jaqueta (da mesma cor, inclusive) e há até mesmo uma cena na qual uma figura encapuzada se aproxima vagarosamente de uma vítima em potencial até que, no último momento, o diretor revela se tratar de uma inocente garota que, apesar do sol forte, decidiu sair agasalhada para ir até o ginásio da faculdade. Lógico, não?

Obviamente, `lógica` é uma palavra que o roteirista Silvio Horta dispensou neste trabalho. Caso contrário, como se explica o tratamento diferente dado pelo(a) assassino(a) às duas pessoas de quem pretendia se `vingar`? Enquanto uma é assassinada sem maiores subterfúgios, a outra é obrigada a ver seus amigos sendo assassinados um a um. Aliás, prever quem vai morrer neste filme é tarefa facílima, como já aprendemos em Pânico: os personagens que bebem e fazem sexo morrem; os que se comportam (como Natalie, que tem `dificuldade de se entregar`), sobrevivem Ah, sim: não podemos nos esquecer da mocinha que, ao ser perseguida pelo vilão, chega ao cúmulo de entrar em um elevador e `fugir` para o terceiro andar do prédio, ao invés de ir para o térreo e abandonar o edifício!

O elenco, composto de rostos bonitinhos, desempenha razoavelmente bem o seu trabalho (a verdade é que filmes como este não exigem muito talento, apenas potência vocal para os gritos). A exceção fica por conta da realmente péssima Rebecca Gayheart, cuja composição exagerada de personagem chega a tornar ridículas algumas das cenas mais importantes do filme. Em contrapartida, é interessante ver Robert Englund sem maquiagem e realizando um trabalho mais contido; ele deveria receber mais propostas de emprego - mas que, de uma próxima vez, selecione melhor o roteiro.
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22 de Maio de 1999

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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