Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
15/10/1997 | 15/10/1997 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
104 minuto(s) |
Dirigido por Claude Chabrol. Com: Isabelle Huppert, Michel Serrault, François Cluzet, Jean-François Balmer, Jackie Berroyer, Jean Benguigui, Mony Dalmès e Thomas Chabrol.
Isabelle Huppert é a grande `musa` de Claude Chabrol. Até aí, nenhuma novidade. Desde Violette Nozière, de 78, Chabrol já dirigiu Huppert em mais quatro filmes: Um Assunto de Mulheres, Madame Bovary, Mulheres Diabólicas e este recente Negócios à Parte, sem dúvida o mais leve de todos os cinco.
Aqui, ela interpreta Betty, uma vigarista que já trabalha há anos em dupla com Victor, um senhor que possui um verdadeiro talento para a trambicagem. Juntos, os dois costumam aplicar pequenos golpes em executivos durante congressos, sempre tendo o cuidado de não subtrair todo o dinheiro da `vítima` para que ela não perceba que foi roubada (em certo momento ele explica: `É mais ou menos o que o Governo faz - só que nós somos mais sutis.`) É quando Betty surge com um esquema capaz de lhes render 5 milhões de francos suíços, deixando Victor confuso sobre sua própria capacidade de se envolver em um golpe que envolva tanto dinheiro.
O roteiro, do próprio Chabrol, é leve e divertido, tendo o cuidado de desenvolver suas personagens com cuidado, mas nunca a ponto de permitir ao espectador que este compreenda o que se passa na mente da dupla de vigaristas. Aliás, este é o grande atrativo do filme: até bem perto do final, a platéia nunca tem a completa certeza de quais são as verdadeiras intenções de Betty: ela é fiel a sua parceria com Victor? Ela está interessada em Maurice (o `dono` dos cinco milhões)? Ou ela quer o dinheiro para ela mesma? E Victor, o que pretende fazer? A confusão que se estabelece em torno do dinheiro me lembrou, inclusive, alguns dos melhores momentos de Um Peixe Chamado Wanda - sem ter, é claro, o histrionismo característico de John Cleese (e do Monty Phyton).
O grande problema do filme, no entanto, é não esconder bem seus `segredos`. O roteiro quase sempre permite que o espectador descubra alguns segundos antes o que vai acontecer, o que tira completamente o gosto da surpresa. À exceção de um ponto importante da história (que obviamente não pretendo revelar), todas as `reviravoltas` do filme me pareceram previsíveis e, assim, sem graça. E mesmo este `ponto` do roteiro (que realmente me pegou desprevenido) não é vital como o segredo de Traídos Pelo Desejo, que mudava todo o contexto e a forma como enxergávamos aquele filme. Em Negócios à Parte, ele explica algumas coisas, mas não resolve a história.
As atuações, como já era de se esperar, são excelentes. Isabelle Huppert cria uma personagem enigmática, cínica e - é claro - extremamente sensual. O espectador demora a descobrir, na verdade, o que sente com relação à Betty. Mas a grande atuação deste filme é, sem dúvida, de Michel Serrault. Confesso que sou particularmente admirador do trabalho deste fabuloso ator, desde que vi, pela primeira vez, seu/sua `Zazá`, na primeira versão de A Gaiola das Loucas, ao lado de Ugo Tognazzi. Mas aqui ele está em sua melhor forma. Victor é um vigarista a quem é impossível odiar, apesar do seu imenso desvio de caráter. Seu profissionalismo, sua arrogância, enfim: tudo no homem acaba atraindo a afeição do espectador, mesmo que este saiba que, se realmente existisse, Victor estaria provavelmente tentando lhe roubar algum dinheiro.
A direção de Chabrol é correta, focalizando sua atenção nos personagens, e não nas situações que os envolvem (na verdade, este é um filme mais sobre Personagens do que sobre Acontecimentos). No entanto, o diretor às vezes faz umas opções um tanto ou quanto óbvias demais, contribuindo ainda mais para arruinar as surpresas da história (a cena em que ele enquadra a sacola de Victor sobre a cama é constrangedoramente explícita). Já as locações são maravilhosas. A seqüência filmada na Suíca, quando Betty e Victor discutem seus planos enquanto passeiam de teleférico, é belíssima. Um belo trabalho do Diretor de Fotografia Eduardo Serra, sem dúvida.
Negócios à Parte é, em suma, um filme gostoso de se assistir. Você pode até não rir durante a projeção, mas com certeza irá sair do cinema com um sorriso de lado, admirado com a esperteza - e falta de escrúpulos - daquele casal tão simpático.
20 de Maio de 1998