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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/07/2000 28/06/2000 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
165 minuto(s)

O Patriota
The Patriot

Dirigido por Roland Emmerich. Com: Mel Gibson, Heath Ledger, Jason Isaacs, Chris Cooper, Joely Richardson, Tchéky Karyo, Rene Auberjonois e Tom Wilkinson.

É difícil acreditar que O Patriota tenha sido dirigido pelo mesmo cineasta que comandou produções como Stargate, Independence Day e a bomba Godzilla. Não que este seu novo trabalho seja uma obra-de-arte, pois não é; apesar disso, o filme apresenta claros indícios de que Roland Emmerich está amadurecendo e pode vir a nos presentear com alguma produção realmente ambiciosa no futuro.

Protagonizado por Mel Gibson, O Patriota conta a história de Benjamin Martin, um antigo soldado que reluta em apoiar a guerra contra a Inglaterra pela independência das colônias americanas. Viúvo e com sete filhos para criar, ele acredita que o fato de ser pai não lhe permite o `luxo de ter princípios`. Assim, é com grande tristeza e preocupação que ele vê seu filho mais velho, Gabriel, se alistar e partir para os campos de batalha. Logo, uma tragédia ainda maior acaba levando o próprio Martin a se unir aos revoltosos e a comandar uma milícia composta por civis inexperientes na tentativa de atrasar as tropas do experiente General Cornwallis até que os aliados franceses cheguem à América.

Como Benjamin Martin, Mel Gibson tem mais uma oportunidade de mostrar seu lado vulnerável para as platéia de todo mundo - algo que vem se tornando marca registrada em sua carreira, como eu já havia apontado em minha crítica sobre Teoria da Conspiração. Sempre com a expressão triste e o temor pelo destino dos filhos estampado em seus olhos, Gibson oferece mais um ótimo desempenho. Contudo, confesso que tenho a curiosidade de saber o que um ator mais sutil (como Jeremy Irons ou Jeff Bridges) teria feito com este papel.

Como filme de guerra, O Patriota traz um importante diferencial: ao contrário de obras como O Resgate do Soldado Ryan, Platoon ou Os Canhões de Navarone, que narravam batalhas ocorridas em terras distantes das residências de seus protagonistas, este filme mostra uma disputa sangrenta que, como observa o personagem de Gibson logo no começo da narrativa, foi travada nos quintais dos próprios americanos - algo que permitia que seus inimigos atacassem as famílias de seus oponentes a fim de diminuírem seu moral (não deixa de ser curioso ver os ianques sofrendo os mesmos tipos de abusos que viriam a impingir aos vietnamitas cerca de duzentos anos depois). A cena em que um dos rebeldes descobre sua esposa e filho mortos, por exemplo, é dramática e chocante, causando um forte impacto no espectador.

Aliás, O Patriota é repleto de cenas como esta - e não há nada mais triste do que ver um pai entregando armas para seus filhos, ainda crianças, depois de instruí-los a atirar no inimigo. Infelizmente, esta é a realidade da guerra, a forma mais estúpida e irracional de se resolver uma questão basicamente comercial (no final das contas, é sempre o dinheiro que conta). Seja como for, Roland Emmerich faz uma bela reconstituição histórica, sendo bem assessorado pelos ótimos figurinos de Deborah Lynn Scott (desde já uma forte concorrente ao Oscar) e pela realista direção de arte de Barry Chusid. As cenas de batalha também são fortes e intensas e - apesar de pálidas diante das seqüências de O Resgate do Soldado Ryan - acabam chocando o espectador por sua brutalidade.

O roteiro, escrito pelo mesmo Robert Rodat de O Resgate..., é interessante e bem estruturado, além de oferecer vários momentos que funcionam claramente como alívio cômico - algo praticamente inexistente na obra-prima de Spielberg. Com isso, Emmerich cria um filme que, apesar de mais `fácil` de se assistir, causa menos impacto e tem sua dramaticidade diluída pelas piadas. Um bom exemplo reside na cena em que Martin negocia uma troca de prisioneiros com o General Cornwallis: divertida, a seqüência faz o público relaxar momentaneamente. Em contrapartida, a ingenuidade atribuída a Cornwallis faz com que o levemos menos a sério, tornando menor a ameaça representada por suas impecáveis estratégias de guerra (além disso, é difícil acreditar que um militar experiente como ele aceitaria as condições de Martin sem ao menos enviar um mensageiro para se certificar sobre as condições dos oficiais mantidos como reféns pelos rebeldes).

Outro aspecto negativo de O Patriota pode ser encontrado nas constantes tentativas do diretor Roland Emmerich de manipular as emoções do espectador de maneira maniqueísta e injustificada (prova de sua falta de habilidade no campo dramático): a seqüência em que a jovem Anne faz um discurso inflamado (porém artificial) em uma Igreja chega a ser embaraçosa, exibindo claramente o rótulo de `momento Hollywoodiano`: a música sobe, os personagens se levantam um a um e todos se entreolham comovidos. O resultado é ineficaz e soa falsamente.

No entanto, o grande problema do roteiro de Rodat é mesmo o vilão interpretado por Jason Isaacs, um certo Capitão William Tavington: estereotipado e mal construído, o personagem é a personificação da `malignidade britânica` retratada por Emmerich. Sádico e arrogante, ele sente prazer em matar friamente seus oponentes e as famílias destes. Para completar, ele acaba assumindo algumas características típicas dos bandidos hollywoodianos, entre elas a da indestrutibilidade - somente o herói terá o poder de `despachá-lo`, é claro. Infelizmente, ao resumir a Revolução Americana à figura de um vilão, o roteiro perde seu foco principal: ao invés de acompanharmos o desenvolvimento de uma guerra pela independência de uma nação, somos levados a resumir nossas expectativas à disputa entre dois homens, que acabam personificando os lados `bom` e `mau` da disputa. Assim, quando os dois finalmente se confrontam, O Patriota perde o impulso e é concluído com uma narrativa apressada sobre o desfecho da guerra.

Outro aspecto curioso do roteiro de Robert Rodat é a negligência com relação à questão da escravidão: o fato é que vários importantes integrantes da Revolução Americana (incluindo o homem no qual o personagem de Gibson foi baseado) eram donos de escravos, algo que foi completamente ignorado pelo filme (o único escravo da história serve apenas como desculpa para que Emmerich mostre como seus companheiros de milícia passam a respeitar sua bravura). Teria sido muito mais interessante se O Patriota abordasse este curioso paradoxo: os mesmos homens que lutavam pela liberdade da nação negavam este direito aos seus escravos. Certamente o filme só teria a ganhar com este novo enfoque, que poderia substituir perfeitamente qualquer cena relacionada ao envolvimento amoroso entre Gabriel e Anne ou Benjamin e Charlotte.

Apesar de tudo, este novo trabalho de Roland Emmerich é bastante eficaz, mesmo que nos obrigue a engolir o exagerado patriotismo americano (mas o que poderíamos esperar com este título?). De todo modo, lamento ao constatar que o filme poderia ter alçado vôos ainda mais ambiciosos, podendo repetir o feito de obras como Tempo de Glória e Platoon, que definitivamente servem como ótimos estudos sobre a insanidade da guerra e sobre a própria atração que os americanos sentem por tudo que envolve tiros e campos de batalha.
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3 de Agosto de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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