Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/06/2001 | 09/11/2002 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
96 minuto(s) |
Dirigido por Daniel Filho. Com: Glória Pires, Andréa Beltrão, Lilia Cabral, Paloma Duarte, Herson Capri, Marcello Antony, Thiago Fragoso, Fernanda Rodrigues, Guta Stresser e Chica Xavier.
É uma pena que os cineastas brasileiros não tenham o hábito de realizar sessões-teste de seus filmes durante a etapa de pós-produção. Caso tivesse este costume, o diretor Daniel Filho, extremamente experiente, certamente teria corrigido alguns equívocos básicos que impedem que A Partilha, seu retorno às telonas depois de uma ausência de 18 anos, se torne um empreendimento tão bem sucedido quanto o espetáculo teatral que o inspirou.
Roteirizado por João Emanuel Carneiro, Mark Haskell Smith, Daniel Filho e Miguel Falabella a partir da peça homônima escrita por este último, o filme gira em torno do relacionamento de quatro irmãs que se reúnem para realizar a partilha dos bens deixados por sua mãe, recentemente falecida: Lúcia (Cabral), a mais velha, que abandonou o marido e o filho para viver na França ao lado de seu novo amor; Regina (Beltrão), cuja filosofia de vida inclui o amor livre e a participação em seitas alternativas; Selma (Pires), que vive há quase duas décadas com o marido militar, com quem mantém um cotidiano altamente disciplinado; e Laura (Duarte), que, sendo a caçula, levou uma infância solitária e se afastou das demais. Em meio a brigas e confissões, as quatro mulheres reavaliam suas vidas e procuram encontrar saídas para seus dilemas.
Um dos grandes problemas de A Partilha reside nos constantes (e súbitos) `saltos` do cômico ao dramático - um recurso que, utilizado com discernimento e sutileza, geralmente enriquece a experiência. No entanto, o roteiro do filme esquece a precaução e, com freqüência alarmante, inclui pequenas `explosões` de suas protagonistas em momentos nos quais estes não parecem se encaixar, como na cena em que a personagem de Andréa Beltrão começa a gritar com a de Glória Pires durante uma conversa completamente inocente na varanda do apartamento. Com isso, os desabafos das irmãs soam de maneira falsa, como se fossem apenas exigência da história, e não reais.
Em contrapartida, o diretor Daniel Filho demonstra possuir um timing cômico impecável nas cenas em que o roteiro assim o exige, explorando ao máximo as gags e os ótimos diálogos do filme, arrancando constantes (e fortes) gargalhadas do espectador, como, por exemplo, na cena que se passa em um elevador (que termina com uma tirada espetacular de Lilia Cabral) e no clímax que acontece no apartamento. Por outro lado, Filho já não alcança o mesmo sucesso na seqüência em que tenta ilustrar o comportamento militar do casal Glória Pires-Herson Capri, exagerando na caricatura (uma boa solução para esta cena seria colocar, em off, a narração de uma das demais personagens, o que transformaria o caricato em uma espécie de `ironia` por parte das irmãs de Selma).
Com relação às atuações, é natural que os trabalhos de Andréa Beltrão e Lilia Cabral se destaquem, já que suas personagens são, sem a menor sombra de dúvida, as mais divertidas do filme (e estamos falando de uma comédia, afinal de contas). Mesmo assim, Glória Pires consegue se sobressair ao criar a mais tridimensional das irmãs, atuando como centro gravitacional da trama. Já Paloma Duarte acaba ficando presa à mais ingrata das personagens, já que Laura não protagoniza momentos engraçados nem possui diálogos particularmente inspirados. Para piorar, o elenco secundário é fraquíssimo - desde o global Marcello Antony (que não consegue conferir naturalidade a um diálogo sequer) até a novata Guta Stresser, que falha grosseiramente em uma importante cena na qual conversa através de um telefone público. A única exceção fica por conta de Herson Capri, que, mesmo sem abrir muito a boca, demonstra ter uma forte presença e passa a idéia por trás do personagem com competência.
Outro grave problema do filme reside em seu desfecho, melancólico demais (algo fatal em uma comédia). O curioso é que Daniel Filho tinha, à sua disposição, uma cena bem mais apropriada para encerrar a trama: justamente aquela que aparece no trailer do filme e traz as irmãs dançando em uma praia. Não que a cena seja especialmente inspirada, já que, na verdade, é artificial demais para provocar algum efeito sobre a platéia (lembrei-me do desfecho de O Clube das Desquitadas) - ainda assim, provavelmente deixaria uma impressão melhor na mente do espectador.
Em outras palavras, A Partilha não é um novo O Auto da Compadecida, mas também não representa uma experiência embaraçosa (a não ser pelo merchandising pouco sutil na tal cena da praia). Representando 93 minutos de saudável diversão, o filme certamente merece uma conferida. Risos não vão faltar.
18 de Maio de 2001