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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/11/2000 03/11/2000 3 / 5 2 / 5
Distribuidora

As Panteras
Charlie`s Angels

Dirigido por McG. Com: Drew Barrymore, Cameron Diaz, Lucy Liu, Tim Curry, Crispin Glover, Sam Rockwell, Kelly Lynch, John Forsythe, Matt LeBlanc, Tom Green, Luke Wilson e Bill Murray.

As Panteras é um filme que não se leva a sério e, conseqüentemente, não espera que o espectador o faça. Já nos primeiros minutos de projeção, um personagem chega a comentar, enquanto assiste a algo que está passando na TV: `Oh, não... Mais um filme baseado em um antigo seriado de televisão!`. Assim, não é de se espantar que o tom de auto-paródia domine o restante da trama: é como se o próprio diretor (acompanhado de suas três estrelas) pedisse que ríssemos dele.

Tomemos, como exemplo, a cena em que Drew Barrymore está amarrada a uma cadeira e descreve, para seus carcereiros, exatamente como irá escapar: se fosse bancar o ranzinza, eu poderia até dizer que Arnold Schwarzenegger já fez isso em True Lies, mas o fato é que ver uma garota relativamente indefesa espancando cinco homens (indubitavelmente mais fortes do que ela) não deixa de ser divertido. Em outros momentos, o roteiro ainda plagia (com a desculpa da sátira) cenas de Missão: Impossível, como a seqüência do cofre-forte e a brincadeira com a máscara, no começo do filme. Consciente de que o clima descontraído da série original seria praticamente destruído pelo gênero `ação incessante`, o diretor estreante McG foi inteligente ao abordar o material de forma leve. Assim, é quase como se estivéssemos assistindo a uma versão em longa-metragem de uma possível reedição da série.

É claro que esta abordagem traz seus aspectos negativos: não há, por exemplo, nenhum obstáculo sério no caminho das Panteras, que cumprem suas missões com tamanha desenvoltura que acaba ficando impossível, para o espectador, sentir alguma satisfação com a resolução da trama. É claro que sabemos que, sendo as heroínas, elas irão vencer os bandidos - mas, a partir do momento em que as próprias personagens parecem saber disso, o desenvolvimento da história perde a graça. Pelo menos, Tom Cruise precisou se machucar bastante para livrar o mundo do vírus Quimera, em Missão: Impossível 2. Já em As Panteras, as mocinhas despencam de alturas inacreditáveis, levam chutes poderosos e são arremessadas a metros de distância por explosões violentas sem jamais se ferirem (aliás, nem mesmo seus penteados são desfeitos). Além disso, cada luta vista no filme parece se passar na realidade virtual criada pela Matrix, já que os envolvidos desafiam todas as leis da física sem que haja razão para tal (exceto tornar a coisa mais divertida).

O roteiro, escrito por mais de vinte pessoas (um péssimo sinal), é caótico e não possui a menor estruturação. Na verdade, o fiapo de história presente em As Panteras serve apenas para costurar as diversas cenas de ação e os momentos em que as três mocinhas aparecem rindo (algo que elas fazem o tempo todo). Ao que parece, a trama gira em torno de uma nova tecnologia que permitirá que a localização de qualquer pessoa seja determinada a partir da captação de sua voz em um celular (novidade que um dos personagens batiza de `DNA de áudio`). Para evitar que esta invenção `caia em mãos erradas` (outro clichê utilizado pelo roteiro), as Panteras deverão descobrir quem seqüestrou um empresário milionário.

Com relação às mocinhas, não há muito a se dizer: Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu estabelecem um clima de camaradagem que conquista a platéia. Elas se divertem durante todo o filme (chegando a paquerar pelo celular durante uma briga!) e, com isso, acabam divertindo também o espectador. Mesmo assim, devo salientar que o diretor McG exagera um pouco no número de tomadas destinadas a mostrar, apenas, como as garotas são bonitas (há um momento em que Liu balança os cabelos como se estivesse em um comercial de shampoo). Neste aspecto, a mais irritante é Cameron Diaz: em nenhum instante ela parece se preocupar em atuar ou em criar uma personagem, limitando-se, simplesmente, a posar para a câmera como se estivesse em uma sessão de fotos. Enquanto Barrymore conquista por sua simpatia despojada, Diaz revela-se a mais narcisista do grupo, parecendo estar sempre dizendo `Vejam como sou bonita!`. Particularmente, eu não me importaria em vê-la sendo eliminada pelos vilões.

Já Bill Murray, sempre digno de nota, consegue divertir a platéia nas poucas cenas em que aparece - e é realmente uma pena que tenha sido tão pouco aproveitado pelo roteiro. Outro que consegue chamar a atenção é Crispin Glover (o tímido pai de Michael J. Fox em De Volta para o Futuro): sem praticamente dizer uma única palavra, seu vilão é uma das melhores coisas do filme, chegando a lembrar até mesmo os grandes capangas da série James Bond, como o letal Oddjob de 007 Contra Goldfinger. Em contrapartida, Luke Wilson e Matt LeBlanc passam pela história sem deixar marcas (o que é uma pena, já que confesso ser admirador do trabalho de ambos).

As Panteras é, em suma, um passatempo inofensivo. Diverte, mas não impressiona. Agrada, mas acaba sendo esquecido assim que termina. Vale o preço do ingresso, mas, honestamente, não sei se merecerá ser locado depois de lançado em vídeo e DVD. Afinal, há coisas melhores na televisão.
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26 de Novembro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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