Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/06/2000 | 14/04/2000 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
128 minuto(s) |
Dirigido por Edward Norton. Com: Ben Stiller, Edward Norton, Jenna Elfman, Anne Bancroft, Ron Rifkin, Milos Forman e Eli Wallach.
Tenho uma notícia boa e outra ruim sobre a estréia de Edward Norton na direção: a ruim é que o filme, classificado como `comédia romântica`, falha grosseiramente ao não conseguir fazer rir nem levar o espectador a se importar com o romance vivido por seus personagens. A boa é que, apesar de tudo, Tenha Fé possui diversos outros atributos que o tornam, no mínimo, instigante.
A história gira em torno de dois amigos de infância, Jacob e Brian, que depois de adultos seguem caminhos completamente opostos em termos de religião: enquanto este último torna-se padre, o primeiro assume o posto de rabino de sua congregação. As diferenças religiosas, no entanto, não abalam a amizade, servindo até mesmo como mais um ponto de união entre os rapazes (eles decidem fundar um karaokê judaico-cristão a fim de aproximarem os membros de suas comunidades). É quando uma antiga amiga de adolescência, Anna, chega à cidade e resolve se encontrar com os dois. Logo, ambos estão apaixonados pela garota, sendo obrigados a esconderem estes sentimentos por motivos óbvios: o padre tem que honrar seus votos de castidade e o rabino deve escolher uma esposa judia.
A verdade é que, do ponto de vista cômico, Tenha Fé é pouco eficiente: a maioria das piadas acaba falhando e, assim, o filme depende muito do humor físico, abusando de cenas com tropeções, desmaios e por aí afora (a exceção fica por conta da cena em que Edward Norton faz uma hilária imitação do personagem vivido por Dustin Hoffman em Rain Man). Além disso, a história é longa demais - algo que geralmente condena qualquer comédia.
Enquanto isso, o romance apresentado pela trama erra em um elemento básico: o casal formado por Ben Stiller e Jenna Elfman não é o preferido do espectador, que é levado a sentir mais simpatia pelo padre de Edward Norton. Como se não bastasse, a própria personagem de Elfman, Anna, não é muito carismática, já que seu temperamento revela algumas facetas pouco atraentes, como voyeurismo e vício por trabalho. Não que estas características sejam incompatíveis com uma história romântica; o fato é que elas não se ajustam ao tom deste filme em particular. Para piorar, o roteiro escrito por Stuart Blumberg ainda inclui uma sub-trama completamente dispensável sobre o relacionamento entre a mãe e o irmão de Jacob, levando a uma cena forçada e implausível em um leito de hospital.
Curiosamente, Tenha Fé torna-se um filme muito mais interessante nos momentos em que aborda com seriedade questões como celibato e a diferença entre religião e fé. Há uma ótima cena, por exemplo, na qual Norton conversa com seu mentor (um padre vivido por Milos Forman, que o dirigiu em O Povo Contra Larry Flynt) sobre sua paixão por Anna, e acaba descobrindo que o veterano religioso costuma se apaixonar `uma vez a cada década` - algo que é revelado sem sensacionalismo ou interesse em criar polêmica, e sim de forma natural e sensível.
Além disso, o filme é maravilhosamente ecumênico: a pequena comunidade em que vivem Jacob e Brian mescla pacificamente elementos judaicos, cristãos e protestantes, criando um ambiente que valoriza muito mais a fé propriamente dita do que as doutrinas através das quais esta se manifesta. Há um momento em que o rabino de Ben Stiller chega mesmo a convidar um coral gospel para cantar em uma de suas celebrações - algo que não é bem visto pelo ortodoxo personagem de Ron Rifkin, um dos poucos integrantes da história a não aprovar tais `amálgamas` religiosos.
Com relação à direção de Norton, pouco se pode dizer, já que ele adota um estilo mais discreto de conduzir a trama. Em alguns instantes, somos surpreendidos por um enquadramento diferente ou por uma pausa inesperada no movimento de um personagem, mas só. Por outro lado, algumas seqüências parecem incompletas, como aquela em que Brian revela para o vendedor de karaokê que é padre e, de repente, já passamos para outra cena sem podermos conferir a reação do rapaz. Outro interessante aspecto do filme é que, eventualmente, a fotografia granulada e a trilha sonora nos remetem a algumas produções americanas dos anos 70, o que não deixa de ser curioso.
De modo geral, Tenha Fé é um filme simpático que deveria pertencer a outro gênero: talvez esta despretensiosa produção tivesse se saído melhor se adotasse uma estrutura narrativa mais dramática, sem ter que se forçar a introduzir piadas esporádicas no meio da trama. Afinal de contas, é difícil rir de um filme quando estamos sinceramente tocados pelas dificuldades vividas por seus personagens.
3 de Agosto de 2000