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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
29/05/1998 30/01/1998 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
111 minuto(s)

Direção

Alfonso Cuarón

Elenco

Robert De Niro , Ethan Hawke , Gwyneth Paltrow , Hank Azaria , Chris Cooper , Josh Mostel , Anne Bancroft

Roteiro

Mitch Glazer

Produção

Art Linson

Fotografia

Emmanuel Lubezki

Música

Patrick Doyle

Montagem

Steven Weisberg

Design de Produção

Tony Burrough

Figurino

Judianna Makovsky

Direção de Arte

John Kasarda

Grandes Esperanças (I)
Great Expectations

Dirigido por Alfonso Cuarón. Com: Ethan Hawke, Gwyneth Paltrow, Hank Azaria, Chris Cooper, Josh Mostel, Anne Bancroft e Robert De Niro.

O que leva uma pessoa a amar outra? O amor pode ser `criado` ou destruído quando bem entendermos? É possível manipular as emoções de alguém? As pessoas mudam? São essas algumas das perguntas que Grandes Esperanças nos faz. E o interessante é que não se preocupa em nos dar todas as respostas.

O filme é baseado no livro homônimo de Charles Dickens e fala sobre a história de Finn (Hawke), um garoto que cresce na companhia de Estella (Paltrow), uma menina rica que vive com a tia louca (Bancroft). Com o passar dos anos, Finn vai se apaixonando perdidamente por Estella, mesmo recebendo os `avisos` (na verdade, um comunicado) da tia da garota, de que ela irá partir seu coração. É claro que a mulher pode fazer uma previsão dessas: afinal, ela foi abandonada pelo noivo no altar há 30 anos e dedica sua vida a `treinar` Estella para que esta venha a dominar e magoar todos os homens com quem se relacionar. Há, ainda, uma `sub-história` envolvendo a fuga de um assassino da prisão (De Niro) e seu encontro com Finn.

Não é nem preciso dizer que é justamente o `aprendizado` de Finn que iremos acompanhar ao longo da história, com o passar dos anos (e como o tempo passa rápido, neste filme!). Inicialmente um garoto ingênuo, ele é uma vítima fácil para a frieza de Estella, cujos pensamentos jamais são acessíveis aos espectadores. Enquanto Finn é o narrador do filme e, assim, escrutina-se sem medo para a platéia, Estella é uma mulher misteriosa, inatingível. Ela ama o rapaz ou não? Ela sente algo por ele? Ou melhor: ela sente algo, o que quer que seja, por alguém?

E Ms. Dinsmoor, a personagem de Bancroft? Ela gosta um pouco daquele humilde rapaz que `contratou` para brincar com sua sobrinha ou apenas o considera um instrumento para seus fins (quaisquer que sejam estes)? Só conseguimos penetrar um pouco através de sua couraça em um único momento do filme, mas isso acontece de maneira tão rápida e inesperada que é difícil analisarmos o que vimos lá dentro. Foi cinismo, amor ou arrependimento? Ou todos?

Já Finn é, sem dúvida, um marionete no jogo das duas mulheres. Todas as suas decisões vêm como reações para as ações de Estella e sua tia. Se ele decide se `fechar` ou se `abrir` para alguém, se ele tentar ser cínico, se ele deseja ficar sozinho ou não, enfim: suas atitudes são motivadas por um elemento exterior e não interior. É justamente sua passividade que o torna uma parte ativa daquele `jogo` comandado pelas mulheres.

Agora, sem dúvida alguma, o elemento mais curioso e interessante do filme é a insistência com que ouvimos a música Besame Mucho. Nos créditos finais, contei nada menos do que seis versões para esta música, todas interpretadas durante a projeção. Preste atenção na letra: `Beija-me/Beija-me muito/Como se fosse esta noite/A última vez.` Pois este é o centro gravitacional do filme: a efemeridade do amor. Nenhum relacionamento, por mais sólido que possa parecer, é estável em Grandes Esperanças. E não me refiro somente a Finn e Estella, ou a Ms. Dinsmoor e o noivo que a abandonou. Falo virtualmente de todo e qualquer tipo de relacionamento da história: a irmã de Finn abandona seu marido Joe logo no início do filme; Finn abandona suas raízes para se tornar um homem `digno` de Estella; Estella abandona sua tia; Finn abandona Joe; e assim por diante. Nada é seguro, aqui. Tudo pode mudar.

As atuações de Hawke e Paltrow são discretas, o que é conveniente para o filme. Já Anne Bancroft chama a atenção por sua interpretação rebuscada e, em alguns momentos, exagerada. Se Grandes Esperanças não fosse uma fábula - o que não tenho a menor dúvida que seja - Bancroft estaria deslocada, o que não ocorre: ela se encaixa no `espírito` do filme. Aliás, o diretor Cuarón estabelece, aqui, um certo padrão. Afinal, como evitar a comparação entre a Ms. Dinsmoor deste filme e a (outra solteirona) Miss Minchin de seu último filme, A Princesinha?

Com uma bela fotografia (o `Paradiso Perduto` é magnífico) e uma direção correta, o filme ainda conta com uma interessante trilha sonora, que varia de acordes melodiosos e sutis até batidas fortes e sensuais. Porém, a narrativa encontra um grande problema no fato de ter que abordar vários anos da vida dos personagens, ficando um pouco `corrida` em alguns momentos, sem se deter com um pouco mais de profundidade em pontos importantes da história. Assim, perdemos nós, os espectadores, que não podemos acompanhar com mais coerência as mudanças pelas quais os protagonistas passam ao longo do tempo.

De todo o modo, Grandes Esperanças é um filme agradável de se ver e que merece uma conferida.. Apesar de piegas em alguns momentos, com certeza consegue atingir pontos sensíveis em outros. Sua `moral` pode até ser simples, como em todas as fábulas, mas o processo pela qual é `ensinada` é interessante - e espantosamente otimista, apesar de tudo.

Caso queira ler o livro de Charles Dickens, em inglês, clique aqui.
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17 de Maio de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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