Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
03/12/1999 | 24/11/1999 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
121 minuto(s) |
Dirigido por Peter Hyams. Com: Arnold Schwarzenegger, Gabriel Byrne, Kevin Pollak, Robin Tunney, Rod Steiger, CCH Pounder, Derrick O`Connor e Mark Margolis.
O que aconteceria se a personagem de Mia Farrow em O Bebê de Rosemary recebesse a proteção do Exterminador contra todos os satanistas que pretendiam promover o nascimento do filho de Lúcifer? É a partir desta (no mínimo) curiosa premissa que o roteiro de Fim dos Dias parte. O resultado, como não poderia deixar de ser, é um filme de ação incessante que traz Arnold Schwarzenegger em uma das piores atuações de sua carreira.
Aqui, ele interpreta Jericho Cane, um ex-policial que se vê envolvido em acontecimentos sobrenaturais até descobrir que o destino da humanidade está diretamente relacionado à sorte de uma jovem que está sendo perseguida por ninguém menos do que o próprio Diabo. Como não poderia deixar de ser, esta revelação provoca um grande choque em Cane, já que ele perdera, desde a trágica morte de sua família, toda a sua religiosidade e fé. Agora, ele deverá recuperar seu equilíbrio espiritual para poder enfrentar o maior de todos os vilões: Satanás.
Afastado das telas desde 1997, quando protagonizou o lamentável Batman & Robin, Schwarzenegger procurava um novo veículo no qual pudesse explorar seus músculos mais uma vez. Infelizmente, acabou escolhendo um roteiro que exigia um ator no mínimo razoável como protagonista. Habituado a viver personagens puramente físicos (como o cyborg da série O Exterminador do Futuro) ou à auto-paródia (como no excelente True Lies ou no fraco Um Herói de Brinquedo), ele encontra-se visivelmente deslocado em Fim dos Dias. Afinal, Jericho Cane é um homem deprimido, à beira do suicídio (a primeira vez em que o vemos, ele está repetindo uma das melhores cenas de Máquina Mortífera, onde Mel Gibson tenta criar coragem para se matar). Nas mãos de um Kevin Spacey, o personagem teria se tornado realmente um herói trágico, digno de nota. Porém, graças à inexpressividade de Schwarzenegger e à falta de visão do diretor Peter Hyams, a depressão de Cane acaba virando motivo de piadas, como na cena em que ele pega uma pizza do chão e a coloca no liquidificador.
No entanto, grande parte da responsabilidade pela inépcia de Fim dos Dias no quesito dramático cabe, também, ao fraco roteiro de Andrew W. Marlowe. Além de não conseguir explorar a interessante premissa estabelecida no início do filme - quando vemos a alta hierarquia do Vaticano se reunindo para decidir o destino de uma garota que sequer nasceu -, Marlowe ainda deixa passar uma série de `buracos` que acabam irritando o espectador. Por exemplo: em um dos primeiros confrontos entre Cane e o Diabo, o primeiro dispara dois tiros contra seu inimigo - somente para ver as feridas fechando-se rapidamente. Todavia, mais tarde (e sem quaisquer justificativas) ele consegue ferir a `carcaça` assumida por Lúcifer a ponto de deixá-lo com cicatrizes. Além disso, o roteirista introduz alguns conceitos realmente ridículos, como o de que a urina de Satanás pode ser inflamável. Para completar, a teoria sobre como o número 666 significa, na verdade, `1999` não convence.
Mas sejamos justos: apesar de todas as incongruências da história, Fim dos Dias funciona maravilhosamente bem como filme de ação. As seqüências de perseguição são comandadas com extrema competência, destacando-se o momento em que Schwarzenegger persegue um atirador enquanto permanece preso a um helicóptero. Os efeitos visuais também são de primeira linha, assim como o som e a edição de efeitos sonoros (é realmente recomendável que se assista a este filme em uma sala com som digital). Para completar, o filme ainda reserva alguns bom sustos e alguns momentos de leve tensão.
Gabriel Byrne, como o Diabo, está devidamente ameaçador. Na verdade, ele consegue assustar mais do que a versão completamente criada em computador da criatura (venhamos e convenhamos: a forma `transparente` de Satanás é idêntica à de O Predador, não?). Infelizmente, seus `discursos` em nada lembram os inteligentes diálogos de Al Pacino em O Advogado do Diabo ou a implacável lógica de Robert De Niro em Coração Satânico. Robin Tunney, por sua vez, cria uma mocinha corretamente vulnerável e capaz de despertar nossa simpatia. Já Rod Steiger é um mero coadjuvante de luxo, enquanto Kevin Pollak é novamente desperdiçado por Hollywood.
Apesar da intensa estratégia da Universal, que tentou `vender` Fim dos Dias como sendo um ponto-de-virada na carreira de Schwarzenegger, a verdade é que este filme bebe da mesma fonte que títulos como Queima de Arquivo e O Sobrevivente: tiroteios, explosões e lógica de botequim. A diferença, aqui, é a presença de um herói mais vulnerável que merecia um intérprete mais competente. Se não é um ponto de virada, pelo menos já é um ponto de partida.
5 de Dezembro de 1999