Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
31/05/1996 | 03/04/1996 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
129 minuto(s) |
Dirigido por Gregory Hoblit. Com Richard Gere, Laura Linney, Edward Norton, Frances McDormand, John Mahoney, Alfre Woodward.
Existem vários ingredientes importantes (mas não indispensáveis) para se fazer um bom filme: uma trilha sonora adequada; uma montagem inteligente; uma bela fotografia; um diretor razoável. Muitas vezes até o roteiro é "dispensável" (Debi e Lóide é uma comédia excelente e, no entanto, não tem história alguma). Mas um dos "ingredientes" mais importantes é um elenco certo nos papéis certos (Debi e Lóide novamente cabe como exemplo). E As Duas Faces de um Crime tem, justamente no elenco, sua maior arma.
Richard Gere interpreta Martin Vail, um advogado narcisista e arrogante. Ele tem certeza absoluta de que é o máximo, e age de acordo com esta crença em si mesmo. Para ele, o mais importante em uma causa não é o cliente, mas sua própria performance no tribunal (`Eu falo. Você, não. Tudo o que tem a fazer é ficar sentado e parecer inocente.`, diz ele em certo momento). Eis aí um dos maiores trunfos do filme: Richard Gere fazendo o que melhor sabe fazer - personagens confiantes, totalmente certos de que, a um piscar de olhos, todas as mulheres do aposento irão cair por ele. Alguns dizem que, neste filme, Gere tem uma `inspirada atuação`. Eu, confesso, vi apenas um Lancelot de cabelos curtos e paletó. Mas tudo bem: coube como uma luva para o personagem.
Continuando: Martin Vail não perde uma oportunidade de aparecer. Seja concedendo extensas entrevistas, seja pegando casos polêmicos - a verdade é que ele adora estar sob os holofotes. E mais uma oportunidade para tanto surge quando um arcebispo bastante querido na comunidade é brutalmente assassinado com 78 facadas e um jovem coroinha que estava sob os cuidados da vítima é acusado do crime. Assim que percebe o potencial publicitário da causa, Vail se oferece para defender o rapaz pro bono, isto é, gratuitamente.
Aaron Stampler, o jovem coroinha, é um rapaz tímido, gago, e que passa a confiar total e cegamente no advogado. Tem um olhar franco e quer a todo custo fazer com que Vail acredite que é inocente. `Eu não tenho que acreditar em você!`, é a resposta irritada do advogado. `Eu não me importo se você é inocente. Eu sou sua mãe, seu pai e seu confessor.` No entanto, à medida em que se aprofunda no caso, Vail começa a acreditar que o jovem realmente diz a verdade.
E aqui falta o toque de um bom diretor. Em nenhum momento o espectador é informado do que leva o advogado a mudar sua opinião. É uma alteração brusca e inverossímil de comportamento, e um dos pontos fracos do filme. Mas tudo bem, novamente: esta alteração era fundamental para que o nosso herói pudesse passar a investigar profundamente o crime, fazendo as vezes de detetive, o que, afinal, é o objetivo principal da história.
Um outro ponto fraco do filme é o envolvimento, totalmente desnecessário para o desenvolvimento da trama, entre Vail e a promotora Janet Venable (Linney). Mais uma vez vence um velho clichê de Hollywood: se um homem e uma mulher são obrigados a se enfrentar (seja em um tribunal, seja em uma corrida de sacos), eles inevitavelmente já foram amantes no passado ou então serão amantes no futuro. Mas tudo bem, mais uma vez: os roteiristas (Steve Shagan e Ann Biderman) não perdem muito tempo com este subtema, se preocupando mais com a batalha travada no tribunal.
Mas o ponto mais forte do filme, o detalhe que salva toda a estrutura da trama é a interpretação (esta sim `inspirada`) de Edward Norton, como o réu Aaron Stampler. Não posso dizer muita coisa, sob o risco de estragar a surpresa, então limito-me a comentar o que a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood já se encarregou de observar: Norton é um jovem promissor de quem devemos ouvir falar bastante. Frances McDormand (de Fargo) também está ótima como a psiquiatra Molly Arrington, assim como John Mahoney faz de seu John Shaughnessy um `vilão` à altura (o que não faz dele necessariamente um assassino, devo acrescentar).
Em suma: As Duas Faces... é mais um filme de tribunal repleto de reviravoltas, testemunhas-surpresa, diálogos fortes e advogados brilhantes. Não chega a ser um Testemunha de Acusação (que, aliás, lembra ligeiramente), mas também não decepciona nem um pouco - a trama é inteligente, e o fraco diretor não compromete o resultado final, que é muito envolvente. Vale a pena dar uma conferida, sem dúvida.
5 de Maio de 1998