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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/10/2000 04/10/2000 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
130 minuto(s)

Cowboys do Espaço
Space Cowboys

Dirigido por Clint Eastwood. Com: Clint Eastwood, Donald Sutherland, James Garner, Tommy Lee Jones, James Cromwell, Marcia Gay Harden, Loren Dean e William Devane.

É muito bom poder assistir ao trabalho de quatro veteranos em um filme que não procura, em nenhum momento, esconder a real idade de seus protagonistas. Os heróis de Cowboys no Espaço são homens cujas idades oscilam em torno dos 70 anos e o roteiro explora este fato de maneira eficiente. E se Clint Eastwood conseguiu apenas embaraçar-se em Crime Verdadeiro, onde aparecia como um jornalista irresistivelmente sedutor para as mulheres mais jovens, desta vez o ator/diretor se sai admiravelmente bem ao assumir suas sete décadas de idade, resgatando grande parte do charme de `veterano durão` aperfeiçoado em Os Imperdoáveis.

A trama de Cowboys do Espaço inicia-se em 1958, quando quatro pilotos (os - então jovens - heróis vividos por Eastwood, Garner, Sutherland e Jones) se preparam para partir em uma missão espacial. Depois de destruírem um jato caríssimo, eles acabam sendo afastados do projeto em função de constantes desentendimentos com seu superior (Cromwell) - o que acaba levando os pilotos a abandonarem suas carreiras. Aliás, é impressionante a semelhança física entre os jovens atores que interpretam os heróis neste flashback e os veteranos astros que protagonizam o filme (a única falha é a dublagem de suas vozes, que acabam soando velhas demais para suas idades).

Mais de quarenta anos se passam e descobrimos que, no presente, a NASA vem enfrentando dificuldades com um antigo satélite russo que, aparentemente, perdeu a comunicação com as bases terrestres. Sem saber como consertar o equipamento, o antigo chefe dos pilotos (que agora tornou-se um importante diretor da NASA) é obrigado a convocar seus antigos desafetos, já que o projetista do painel de controle do satélite é justamente Francis Corvin (Eastwood), líder da antiga equipe Daedalus. Percebendo a oportunidade de finalmente participar de uma missão espacial, Corvin se dispõe a resgatar o satélite russo desde que seus antigos companheiros participem da empreitada. A partir daí, o filme desenvolve uma série de situações hilárias nas quais os quatro veteranos são submetidos a uma bateria de extensos (e cansativos) testes.

É neste momento que Cowboys do Espaço realmente brilha, provando que Clint Eastwood possui um timing cômico impecável: as gags funcionam com perfeição e os personagens tornam-se cada vez mais carismáticos e envolventes (um bom exemplo pode ser encontrado na piada recorrente envolvendo a morte de vários conhecidos dos pilotos, que é explorada por Eastwood com eficiência e sem excessos). No entanto, é importante salientar que este filme não é uma comédia rasgada, apesar dos risos freqüentes que surgem no segundo ato da trama. A verdade é que o roteiro, escrito por Ken Kaufman e Howard Klausner, é dividido em movimentos bastante distintos: enquanto a primeira meia hora de projeção dedica-se à apresentação dos personagens, o restante da história flui em fases caracteristicamente diferentes entre si, já que o humor das cenas de treinamento dão lugar a uma reviravolta dramática que, por sua vez, é seguida por seqüências que investem na ação e em um clima de tensão.

A decisão de concentrar as gargalhadas no meio do filme prova-se acertada, já que, de outra maneira, o desenvolvimento dos personagens poderia acabar sendo sacrificado em função da necessidade de acrescentar piadas. Graças a isso, os quatro atores têm a oportunidade de exibir toda a experiência acumulada ao longo de décadas de trabalho - especialmente Sutherland, que consegue fugir dos personagens sombrios que vem interpretando nos últimos anos (Instinto, Possuídos, Epidemia) ao criar um tipo espertalhão e metido a sedutor (são dele as melhores frases do filme). A interação entre os quatro pilotos, aliás, é o ponto forte da história e não é à toa que, ao final da projeção, passamos a nos importar verdadeiramente com os velhos amigos.

Em contrapartida, o roteiro falha no desenvolvimento de uma sub-trama envolvendo uma conspiração entre dois outros personagens e a verdadeira natureza do satélite desgovernado: além da obviedade das `reviravoltas`, a história é solucionada de maneira, no mínimo, pouco empolgante - além de deixar algumas questões sem resolução (que medidas foram tomadas pela NASA com relação aos acontecimentos finais, por exemplo?).

Já os efeitos visuais são eficientes e cumprem seu papel - graças, principalmente, à cooperação da Agência Espacial Americana, que ofereceu consultoria em tempo integral aos produtores (mesmo assim, alguns erros factuais grosseiros acabaram chamando a atenção dos astrônomos, como você pode constatar no site Bad Astronomy).

No geral, porém, Cowboys do Espaço é mais do que um ótimo entretenimento, já que se sai admiravelmente bem em todas as suas pretensões: diverte, emociona e prende o espectador à cadeira. É claro que, em alguns momentos, acaba lembrando excessivamente o competente Apollo 13, mas isso é mais uma virtude do que um defeito: Eastwood pode não ser o mais original dos diretores, mas certamente é um dos mais regulares.
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21 de Outubro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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