Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/12/1994 | 02/12/1994 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
128 minuto(s) |
Dirigido por Ron Shelton. Com Tommy Lee Jones, Robert Wuhl, Lolita Davidovich.
Ron Shelton já foi jogador profissional de baseball e, obviamente, adora a atividade esportiva de modo geral. Isso já comprovado em Sorte no Amor e em Homens Brancos Não Sabem Enterrar. Agora, em seu novo filme, o diretor e roteirista resolveu abordar a vida do `maior jogador de baseball de todos os tempos`.
Tyrus Raymond Cobb - ou, simplesmente, Ty Cobb - foi um esportista brilhante: praticamente criou o baseball moderno; era extremamente veloz; foi recordista em rebatidas, home runs, e em várias outras coisas que a maioria dos brasileiros - eu, inclusive - não faz a menor idéia do que significa, dada a quase inexistência desta modalidade esportiva em nosso país. Basta dizer que Cobb foi uma espécie de Pelé do baseball - o resto não interessa para o desenvolvimento da história.
No entanto, este brilhante jogador era um desastre enquanto ser humano. Seus modos agressivos, seu preconceito contra `negros, judeus e mulheres`, seu egoísmo e sua língua fizeram com que se tornasse uma figura odiada por todos: família, empregados e companheiros de esporte. E é a história deste homem detestável que Ron Shelton se propõe a contar.
Quando o filme tem início, um pequeno `documentário` narra toda a trajetória esportiva de Ty Cobb: suas conquistas e seu talento. Logo depois somos apresentados a Al Stump, um excelente jornalista esportivo que é contratado por Cobb para escrever sua biografia. Stump fica radiante com a possibilidade de conhecer o ídolo, e aceita a tarefa sem pensar no já conhecido temperamento do ex-jogador.
No entanto, assim que conhece a `lenda` (como Cobb insiste em se proclamar) é obrigado a se dar conta de seu erro de julgamento. Aquele homem é realmente insuportável. Além disso, Cobb não está nem um pouco disposto a permitir que Stump conte a verdadeira história de sua vida (que inclui o assassinato de seu pai, que pode ter sido morto pela esposa ou não; seus dois casamentos, destruídos pela violência conjugal; e, é claro, seus filhos problemáticos). O que ele quer, na verdade, é que o jornalista mostre para o mundo como ele era genial, e como foi mal compreendido por todos. Em suma: ele quer que Stump o apresente como um príncipe, e não como o monstro que ele sabe ser.
Shelton correu alguns riscos ao decidir narrar esta história. Para início de conversa, poucas pessoas estão dispostas a assistir duas horas de filme sobre um sujeito com quem ninguém consegue conviver, de tão insuportável. Segundo: filmes que tratam do relacionamento entre duas pessoas completamente diferentes podem descambar, facilmente, no tédio total. É preciso muita habilidade para tornar a coisa interessante, como em Conduzindo Miss Daisy. Para evitar esta possibilidade, o roteiro (do próprio Shelton) adota um velho recurso muito utilizado para dar um pouco de ação a histórias monótonas: coloca os dois personagens para fazer uma longa viagem, durante a qual passarão a se conhecer melhor e aprenderão a conviver com os defeitos e qualidades um do outro - os chamados road movies.
Com o tempo, Stump resolve escrever dois livros: um que agrade ao velho Cobb, que deseja um verdadeiro `manual` de baseball; e outro que narre a verdadeira história do ídolo. Qual das duas versões publicará Stump? Este parece ser a grande questão do filme.
Robert Wuhl, como Stump, não compromete. Ele faz as caras e bocas de sempre (vide Batman) e faz de seu jornalista uma extensão do também jornalista Alexander Knox que interpretou naquele filme. Já Tommy Lee Jones é um caso à parte: na primeira meia hora de filme, tive a impressão de que aquele era um caso típico de overacting, ou seja, de uma `interpretação exagerada`. No entanto, com o decorrer da história eu constatei, surpreso, que não odiava Ty Cobb. Na verdade, tinha até um pouco de pena da solidão em que aquele homem vivia. E só então entendi a inteligência da atuação de Jones: a violência gratuita, os gritos, os olhares de ódio serviram como excelente contraponto aos momentos de angústia e introspeção. Um excelente trabalho, na verdade.
21 de Janeiro de 1997